Análise: Citizen Sleeper - Neo Fusion
Análise
Citizen Sleeper
30 de março de 2023

Citizen Sleeper é um dos jogos mais interessantes de 2022. Lançado originalmente para PC, Xbox e Switch, este RPG com forte ênfase em narrativa e em mecânicas minimalistas chega ao PlayStation nesta sexta, 31 de março, completando também seu ciclo pós-lançamento com o terceiro e último DLC gratuito, Purge.

Com isso, posso afirmar também – e sem nenhum receio – que Citizen Sleeper é um dos melhores jogos que joguei nos últimos anos, principalmente por causa do quão brilhante e intrigante seu texto é. O que temos aqui não faria feio frente aos grandes livros de ficção científica da literatura mundial e isso é mérito total do criador do game, o inglês Garreth Damian Martin, PhD em literatura experimental. Citizen Sleeper é um jogo especial que tem a audácia de fazer comentários sobre a vida moderna e as implicações que o capitalismo tem sobre ela ao mesmo tempo que consegue ser um jogo surpreendentemente legal pra caramba em sua fundamentação, sendo difícil de largar antes de atingir os créditos de seus múltiplos finais.

CICLO APÓS CICLO, NA PELE DE UM REPLICANTE

Quando falo de mecânicas minimalistas, eu quero dizer que Citizen Sleeper realmente não sofre de excessos no que tange seu gameplay. Inspirado por RPGs de mesa, CS coloca o jogador na pele – ou, melhor, nas engrenagens – de um Sleeper, robô que abriga e emula a consciência de uma pessoa do passado fugindo da Essen-Arp, megacorporação que é “dona” do corpo do Sleeper, corpo este que foi desenhado com obsolescência programada (sim, igualzinho aos nossos celulares, computadores, televisões e diversos outros aparelhos eletrônicos).

O grosso do gameplay de Citizen Sleeper funciona ao redor de ciclos – basicamente “dias de trabalho” como na vida real. No começo de cada ciclo, nós recebemos dados com valores já sorteados e que devem ser usados para executar diversas ações do Sleeper – que pode pertencer a uma entre três classes, Machinist, Extractor e Operator –  ao explorar e interagir com os habitantes da estação espacial Erlin’s Eye, ou simplesmente The Eye. Os valores desses dados ditam a probabilidade das diversas ações terem um resultado positivo, neutro ou negativo. Quanto maior o número, maiores as chances de sucesso; quanto menor, maiores as chances de algo dar errado.

Esse sistema simples consegue ser engajante o suficiente porque se alia ao fato do Sleeper ter uma data de expiração. A cada novo ciclo, o corpo do robô decai, perdendo saúde. Quanto menos saúde, menores as quantidades de dados que podemos utilizar (que são 5 no máximo, considerando que a saúde esteja em dia). Quanto menores as possibilidades de ação, menos conseguimos fazer para sobreviver. E a chave de Citizen Sleeper está justamente nisso: como sobreviver na The Eye quando estamos presos num corpo que mal funciona, tendo de compreender quem realmente somos, por que estamos ali, quem são nossos verdadeiros aliados e, mais fundamentalmente, como simplesmente ter dinheiro para obter remédio para o corpo, como obter comida – sim, você também pode passar fome – e, uma vez tendo o alimento na mesa, como executar nossas funções no máximo de nossas habilidades, trabalhando para podermos nos sustentar e também ajudar aqueles que nos são caros. E, ah, ainda por cima há a Essen-Arp querendo acabar com a nossa existência.

Mostrar o mercenário

Os primeiros momentos de Citizen Sleeper são uma espiral de tensão e sufoco. Embora os sistemas do jogo sejam simples, levamos alguns ciclos para experimentá-los e compreender qual é a pegada do jogo. Como cada ciclo consome recursos preciosos, literalmente qualquer ação que tomemos terá alguma consequência que pode ditar o futuro da jornada e, além disso, tem toda a tensão de termos um mercenário na nossa cola. Se você já jogou Persona, isso funciona mais ou menos como o lado “social sim” da franquia da Atlus.

Por outro lado, CS também faz um excelente trabalho ao dosar essa tensão inicial. Os primeiros momentos são solitários, mas logo começamos a conhecer pessoas na estação. Cada pessoa tem sua vida, seus compromissos e suas motivações e, como suas histórias e diálogos são extremamente bem escritos, logo nos apegamos a eles e ficamos com vontade de saber mais, assim também trazendo um certo conforto frente às adversidades da The Eye. É um feito e tanto, já que Citizen Sleeper opera apenas no essencial: não há voice acting, nós não controlamos o corpo do Sleeper e não existem cutscenes… Tudo é contado a partir de texto e ilustrado pela arte dos personagens ao redor da estação. Alia-se a isso uma excelente trilha-sonora eletrônica que ziguezagueia entre o atmosférico e o tenso ou energético, pontuando cada beat da narrativa de Citizen Sleeper. Que o jogo tenha conseguido me fazer ficar engajado com isso só demonstra a qualidade de sua prosa e direção de arte.

Tala

COMO UM CLÁSSICO LITERÁRIO AINDA NÃO TRADUZIDO

Já ficou bem claro que o que torna Citizen Sleeper especial é a qualidade de sua narrativa. Quero repetir esse ponto porque ele realmente é o maior destaque do jogo. Ao longo da jornada do Sleeper, nós conhecemos inúmeros personagens e escolher com quem vamos passar mais tempo é essencial para ditar o final do jogo.

Eu faria um enorme desserviço se passasse mais tempo aqui expondo os eventos do jogo ou quais foram as histórias mais marcantes para mim, porque a maior graça dele está justamente em virar cada página da narrativa, como num bom livro. A prosa do jogo também é excelente por conta de quão bem tudo soa em inglês – e aí vem um grande problema: Citizen Sleeper ainda não tem localização para o português, o que é uma pena, já que você precisará ter um inglês relativamente avançado para compreender as nuances do texto do jogo. Torço para que uma hora ele receba uma atualização que suporte o nosso idioma, e também digo isso com uma enorme curiosidade, já que gostaria de ver como adaptam muitas das passagens mais complexas da aventura. Alô, pessoal que localizou Disco Elysium…

Fim do ciclo
Com tudo isso dito, Citizen Sleeper é um jogo que vale a pena ser experimentado. Não é todo dia que encontramos um projeto que se propõe a trazer uma história densa, num universo cyberpunk bastante original e regado por mecânicas simples, mas cujas implicações são mais pesadas e definidoras do que parecem. Citizen Sleeper é digno dos melhores livros e melhores jogos de ficção científica já produzidos e, agora com seu trio de DLCs finalizados, se mostra uma experiência completa  intrigante.

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Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

[…] a alternativa não é descartada. Até mesmo tivemos uma história inédita do marsupial em Crash Bandicoot 4: It’s About Time. Poderíamos ter uma nova versão futuramente de Crash Bash – o party game da franquia […]

[…] mas também foi possível prestigiar títulos à parte dos cartunescos, como, por exemplo, o novo Tony Hawk’s Pro Skater 1+2, que resgatou a alma de um dos jogos de esporte mais icônicos de sua geração. Embora a origem […]

[…] não sendo tão inovador e debatível quanto Her Story, o título certamente conquista um espaço importante no (já não tão popular) gênero dos […]

Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm