Opinião: Watch Dogs 2 e o ciberativismo de boutique - Neo Fusion
Opinião
Watch Dogs 2 e o ciberativismo de boutique
16 de outubro de 2020

Preciso como um relógio quebrado, decidi finalmente jogar Watch Dogs 2 até o final somente agora, quando a sequência Watch Dogs Legion está prestes a chegar. Com isso, finalmente pude me inteirar um pouco dos motivos para o jogo ser tão elogiado em relação ao predecessor — ele é um game realmente divertido — e também criar uma impressão mais precisa sobre a experiência, além de novas expectativas pelo que vem pela frente.

Se no ponto do gameplay me senti satisfeito, e a San Francisco virtual é uma bela forma de recriar as experiências que tive na versão real da cidade, o mesmo não aconteceu com a história. E isso que as coisas até começam interessantes: agora jogamos com Marcus, um cara que é sacaneado pela Blume e pelo CTOS não por ser um psicopata com olhos vidrados como Aiden Pierce, mas sim pela cor da sua pele.

Watch Dogs 2

O que a história da Ubisoft deixa claro desde o momento é que o CTOS, sistema de monitoramento recém-implementado na cidade, não tem nada de isento. Ele leva em consideração a cor de pele, local de nascimento da pessoa e histórico familiar, entre outras coisas, para ditar o que uma pessoa pode ou não pode fazer.

Nasceu no “lado errado da cidade”? Que pena, o sistema vai dizer que você não merece um empréstimo bancário. Algum parente próximo teve problemas com a polícia? Sinto muito, seu currículo não vai nem constar na base de seleção praquela vaga de executivo. Esses são só alguns exemplos, mas o que fica claro é que a cidade virtual do jogo está adotando um sistema racista, autoritário e altamente problemático — quase como o Brasil de 2020, mas com mais parkour.

Premissa que fica só na premissa mesmo

Se os momentos iniciais me soaram promissores, infelizmente Watch Dogs 2 não consegue cumprir muito bem a premissa interessante dos primeiros minutos. O CTOS é uma ameaça, certamente, mas não há no gameplay uma prova de que ele é “racista” ou “preconceituoso” de forma prática.

Sim, você será proibido de entrar em áreas restritas constantemente e volta e meia seu personagem está sendo perseguido pelas autoridades, mas isso não é necessariamente por um desvio do sistema. Normalmente, isso acontece porque o jogador pulou um muro para invadir propriedades privadas, nocauteou um segurança ou simplesmente decidiu atropelar alguns pedestres.

Watch Dogs 2

Sabe aquela coisa de que não basta “dizer que é mau”, mas tem que “mostrar que é mau”? Então, ao menos na parte prática das coisas, há uma falha notável entre discurso e prática. Não estou dizendo que a Ubisoft deveria copiar Mafia III, jogo no qual a polícia demora mais a aparecer em áreas “pouco nobres” da cidade ou age com mais violência com negros para que eu fosse convencido de que o CTOS é racista.

Se bem que… sim, seria bom se, nesse sentido, os desenvolvedores tivessem copiado algo do tipo. Certamente ajudaria a dar uma vida adicional ao jogo e justificar o sentimento de injustiça de Marcus que o levou a se juntar à DedSec. E também faria o jogador ficar mais atento e pensar de forma diferente em um game que não é particularmente desafiador a maior parte do tempo.

“Hacktivista”, mas só até certo ponto

Fora essa premissa que nunca se cumpre muito bem — sim, eu sei que podemos relembrar A MISSÃO em que Marcus vira alvo da polícia, mas isso não dura muito —, o que me decepciona em Watch Dogs 2 é que ele é um jogo um tanto covarde. Ele explora toda a questão de modificações corporais, das festas rave e dos festivais tecnológicos, mostrando que é maneiro ser hacker e parte de uma juventude conectada.

Ao mesmo tempo, ele deixa bem claro que “vigilância sem limites é algo ruim” e que “a tecnologia pode fazer o mal se deixada nas mãos de pessoas ruins”, o que é uma posição um tanto óbvia a se tomar. Há até mesmo um comentário sobre políticos usando urnas para fraudar eleições que achei que iria para algum ponto, mas que, inevitavelmente, traz a responsabilidade não para um sistema, mas para um indivíduo.

Watch Dogs 2

Nesse sentido, Watch Dogs 2 me lembra o documentário “O Dilema Social” da Netflix. Ele estabelece que tecnologias existem e que tem muita gente as usando para coisas ruins. Manipulação, fake news, radicalização e perturbação do que ainda nos resta de uma sombra de estruturas democráticas — coisas que já vemos em curso e que entendemos como problemas.

Ao mesmo tempo, tanto o documentário quanto o game estabelecem que, estruturalmente, não há nada de errado com as tecnologias — o problema é como elas são usadas. Tudo é visto essencialmente como um avanço, como algo que, por ter sido criado a partir de princípios positivos, não precisa acabar: o algoritmo de curtidas do Facebook surgiu para espalhar positividade, logo ele não precisa ser exterminado caso distorça a percepção de autoestima das pessoas. É só questão de “reformar” e garantir que isso não aconteça e vai ficar “tudo bem”, não é?

Pode protestar, mas “sem violência”

O mesmo tipo de raciocínio se aplica a Watch Dogs 2, que é até um tanto derrotista em sua mensagem final. Em última instância, o DedSec reconhece que faz parte de uma luta incompleta e que não vai alcançar muita coisa. O CTOS e sua criadora Blume são ruins e estão destruindo a liberdade, mas, hey, eles estão aí e é o que temos para hoje — é bom que sua cidade tenha uma célula do DedSec para minimizar o problema e lutar “por você”.

Watch Dogs 2

Em essência, o game parece colocar o DedSec em uma posição em que reconhece que sua existência só é justificada pela opressão da Blume. Há até referências ao fato de que os métodos ilegais do grupo só são aceitos porque, no fim das contas, eles são menos danosos para a humanidade — em outras palavras, se a Blume sumir do mapa, o DedSec também precisa porque também usa táticas invasivas de espionagem e ações que beiram o terrorismo.

Esse medo de dar o “passo além” — ou, no caso, de não ter como ficar sem ter como fazer sequências sem fim — é o que mais frustra no game e deixa um sabor amargo ao fim dele. A história inteira prova que é possível ganhar a luta, e que há motivos para não abandoná-la. No entanto, também não há motivos para terminá-la: a luta em si é o objetivo que, em última instância, pressupõe a existência de um status quo que nunca será plenamente desafiado. Resta saber se Watch Dogs Legion seguirá a mesma ideia ou terá a coragem de tomar uma posição mais radical. A partir do meu histórico com os jogos da Ubisoft, eu diria que essa última opção parece bem pouco provável.

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Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm