Opinião: Link's Awakening e a moralidade - Neo Fusion
Opinião
Link's Awakening e a moralidade
4 de março de 2021

Moralidade. Em uma descrição geral, é um conjunto de ações ou identificações que jogam sobre nós, seres humanos, o conceito de certo ou errado em cada ato que decidimos fazer. Um dos mais antigos campos da Filosofia é justamente o da Ética; pensadores de diferentes épocas refletiram sobre o que é o Bem, e em sua contrapartida o Mal, ao mesmo tempo desenvolvendo noções e interpreteções acerca do comportamento humano. Olhando mais a fundo, podemos ver que religiões têm um código moral próprio, que muitas vezes se diferem em vertentes dentro de um mesmo dogma. Se olharmos para as fronteiras geopolíticas do mundo, também encontraremos diferenciações nessa questão. É um conceito honestamente complexo.

Existe um achismo (ou certeza) que a moral é algo pessoal. E, de fato, tomamos ações e decisões que embora no nosso espaço pessoal pareçam corretas, muitos podem enxergar como incorretas e amorais, tornando essa diferenciação uma coisa única para cada pessoa. Explorar esses detalhes e essas nuances em uma obra, muitas vezes é algo que pode dar a ela um valor maior, deixar ela ecoando em nossas cabeças por mais tempo com aquela puxada de gatilho. The Legend of Zelda: Link’s Awakening é uma obra que trabalha isso genialmente.

Em muitos pontos, os temas e abordagens de LA são parecidos com Majora’s Mask. Talvez o envolvimento de Yoshiaki Koizumi construindo a história de ambos os jogos seja um dos motivos para tal. Os dois também são sequências diretas de jogos anteriores da franquia (LA para A Link to the Past e MM para Ocarina of Time) e têm Link em um lugar que não é Hyrule tentando voltar para casa. Mas as semelhanças terminam por aqui (a menos que você encare a teoria do LINK EM COMA durante Majora’s Mask como verdadeira — se esse for o caso, peço educadamente que pare de ler esse texto pois os pontos aqui levantados não irão fazer nenhum sentido). As abordagens para os seus temas são completamente diferentes. 

Majora’s Mask trabalha uma atmosfera pesada, uma espiral psicológica de lidar com um destino terrível, mas que, talvez, possa ser mudado. Tem poucos momentos quietos, pouca contemplação do mundo por si só. Você sempre está na correria para tentar salvar aquilo enquanto, ainda por cima, tenta resolver o seu problema pessoal: encontrar Navi. Tudo isso pode ser resumido na frenética Song of Storms, que soa conforme o jogo avança cada vez mais como uma ode à exaustão psicológica e ao desespero que Termina passa.

Link’s Awakening é quieto, enganador. É como o vento que você pensa “não é nada” mas só está ali por causa da aproximação de uma tempestade. O jogo é mais colorido que qualquer outro Zelda até aquele momento (se você estiver jogando o deluxe ou o recente remake para Nintendo Switch), e é um dos que mais passa o sentimento de um lugar feliz. A vida dos habitantes da ilha, seus pequenos problemas, suas pequenas realidades: o jogo se permite momentos com uma contemplação quieta e sóbria. 

Só que aquele não é o lugar a qual Link pertence. Ele chegou ali por uma eventualidade do destino, e só quer voltar para sua casa. Essa estrutura inicial já é o suficiente para a aventura começar. É algo simples, mas que funciona no fim das contas. Link’s Awakening vem depois de A Link to the Past, e funcionaria perfeitamente como um uma continuação direta naquele momento se a história fosse só isso… Mas ela não é. Logo no começo do jogo você é apresentado a uma coruja que vai lhe dando instruções confusas. Você não consegue entender direito, mas a segue porque ali existe a promessa que, ao fazer isso, o caminho para casa será descoberto. E o jogo procede nesse crescendo, com cada final de dungeon oferecendo informações cada vez mais confusas. Link começa, pouco a pouco, a se aproximar da ilha, simpatizar com os habitantes e os ajudar em coisas pequenas mas, ainda assim, bem feitas.

Você viaja com vários companheiros, cria laços com eles e vê a hora da separação chegar. Também conhece um fantasma que quer lembrar de sua antiga casa e pede para ser levado até ela. E, acima de tudo, é criado um vínculo com nuances de relacionamento com Marin, a garota que lhe descobriu desacordado na praia.

Com ela alguns dos momentos mais quietos, calmos e contemplativos do jogo são vivenciados. Link, o mero avatar para a nossa jornada, sente o que nós sentimos, e conforme essa jornada vai avançando, será que faz mesmo sentido ir embora dessa ilha?

Mas em uma escolha narrativa simples e eficaz, a coruja lá de cima constantemente o lembra de que a sua vida não é ali, que o objetivo de acordar o Wind Fish e voltar para sua verdadeira casa deve ser completado. Esse mundo não lhe pertence. E assim você continua prosseguindo, com cada vez informações mais confusas mas, em sua cabeça, sabendo que é o que tem que fazer.

E então, perto do fim do jogo, vem a revelação (spoilers a seguir, eu avisei): aquilo não existe. Tudo não passa de um sonho do Wind Fish, e acordá-lo significa acabar com toda a presença das pessoas que ali residem.

E aí entra a moralidade pessoal com um conceito maior: o sonho.

Quando você está num sonho, tudo pode acontecer. Em teoria, as amarras da realidade não existem.. É a sua região própria. Não só no sonho, mas também em seu imaginário ou coisas do tipo. É uma zona livre de uma regulamentação própria, você  pode tomar a decisão mais louca, mais sombria que tiver nesse plano — seguro de que isso não vaze para a realidade de forma alguma.

Mas, convenhamos, que existe a culpa. Quando você sonha com algo ruim dentro da sua moralidade, por mais que seja só um sonho, é natural se sentir mal. Aquilo saiu de alguma parte do seu “eu”. Por mais que sejam projeções lúdicas de pessoas, cuja existência ou falta dela não irão diferenciar nada no grande espectro da vida, durante o sonho elas existem. Enquanto elas te dizem algo, elas existem. Suas experiências foram reais.

Mas sempre, sempre, você tem que acordar no fim, e só ter lembranças. E é isso que nós  como jogadores sabemos que tem que ser feito naquele momento, por pior ou por mais impactante que seja. As vidas das pessoas, que enquanto você estava ali EXISTIRAM, devem chegar ao fim. Existem coisas para serem feitas fora daquele ambiente.

E acontece justamente isso. No final, você apagou aquelas pessoas de sua existência. Não eram reais no sentido de existirem na realidade, mas as suas experiências com ela foram totalmente legítimas. É um clima triste, agridoce. Mas você não poderia ficar ali para sempre.

Conviva com a culpa, mas com a lembrança de suas experiências. Ao meu ver, é essa a lição de Link’s Awakening. Pesa muito, mas no fim era o único caminho. Link deve ser puxado pelas correntes da realidade dele.

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Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

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Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm