Salt and Sacrifice

Fazer um Soulslike funcionar bem não é uma tarefa das mais fáceis. Enquanto a FromSoftware passou mais de uma década refinando e reinventando a fórmula mágica que fez de Dark Souls o ícone que é hoje, muitos outros estúdios ao redor do mundo se dedicaram a tentar recriar aquela mesma fórmula, por vezes tentando inserir uma originalidade própria em seus jogos, mas quase sempre patinando no fato de que não é fácil descobrir, entender e replicar a magia que faz os jogos dirigidos por Hidetaka Miyazaki clicar.

Uma exceção nesse cenário talvez seja o título indie Salt and Sanctuary, que ganhou notoriedade em 2016 ao trazer a fórmula Souls para o 2D e executá-la bem, o que é uma grata surpresa levando em conta que o jogo foi feito por apenas uma pessoa — James Silva, sob o nome de Ska Studios. Agora, em 10 de maio de 2022, Silva nos trouxe sua segunda empreitada no universo dos Soulslike com Salt and Sacrifice, jogo que, infelizmente, não tem os mesmos méritos de seu antecessor.

Em Salt and Sacrifice, assumimos o papel de um Inquisidor Marcado cujo objetivo é caçar e obliterar Magos, vestígios monstruosos e distorcidos do caos elemental responsáveis pela decadência do reino em que a aventura se passa. Como em Dark Souls, a primeira coisa que fazemos é montar nosso personagem (de maneira bem simples), escolher uma das classes tradicionais desse tipo de jogo e também o crime que nosso personagem cometeu, o que ditará os primeiros rumos da jornada em termos de combate e itens. Conforme se avança, é possível moldar nosso herói da maneira que for mais adequada às nossas preferências, embora o sistema de atributos e progresso não seja lá muito intuitivo em um primeiro momento.

Assim como na maioria dos Souls, podemos explorar uma breve área de tutorial até darmos de cara com o primeiro chefe e obviamente — já que isso se tornou manjado a essa altura — ser derrotado por ele. Depois de levados para o hub principal do game — onde conversamos com NPCs, aprimoramos equipamentos, adquirimos feitiços e itens —, encontramos um portal capaz de nos transportar para outras regiões do jogo ao utilizarmos runas descobertas ao longo da jogatina.

Cada área e cada mapa de Salt and Sacrifice pode ser descrita como um casamento entre metroidvania e soulslike e isso pode até soar bacana no papel, mas é uma ideia um tanto quanto complicada de se executar, o que é provado nesse jogo mesmo.

O primeiro problema com essa ideia é que o visual de Salt and Sacrifice é simplório demais. Isso não seria exatamente ruim caso essa simplicidade não atrapalhasse a progressão das fases. Perdi a conta de quantas vezes caí em buracos que não notei porque o cenário era escuro demais e era difícil distinguir profundidades ou a própria arquitetura do fundo das telas. Também foi agravante quantas vezes me atrapalhei em combate porque os inimigos não pareciam estar em áreas muito apropriadas a eles, o que é muito comum dada a forma como os chefes são tratados nesse jogo.

Enquanto Salt and Sanctuary era Dark Souls puro, Salt and Sacrifice tenta misturar essa essência com Monster Hunter. Ao explorar as regiões, não basta encontrar os Magos e enfrentá-los logo de cara. Cada Mago fica fugindo de você tal qual um monstro de Monster Hunter e cabe ao jogador persegui-los por diversas telas, com spawns de monstros diferentes e o mais puro caos instalado por conta disso. Até pegar o jeito é mais frustrante do que divertido. Pensando bem, talvez seja essa a maior definição que posso dar a Salt and Sacrifice: frustração. Embora eu não queira desmerecer o esforço do Ska Studios ao fazer esse jogo, não dá para desconsiderar os problemas que tenho com ele.

Salt and Sacrifice simplesmente não clica comigo em praticamente nenhum nível. O game feel não é bom uma vez que o simples ato de movimentar o personagem, esquivar, defender e atacar não tem um feedback divertido e a própria administração de stamina não parece bem balanceada; os mapas não são interessantes de explorar; as músicas são completamente esquecíveis e apagadas; os NPCs não são intrigantes e, por isso, eu não poderia me importar menos com a história por trás da decadência desse mundo; os chefes até têm designs legais, mas o ato de ficar correndo atrás deles toda hora, bem como a repetição da estrutura de quests atreladas a eles, simplesmente falha em manter uma experiência que engaja. E isso tudo é uma pena, porque mesmo com o bem-vindo modo multiplayer (seja cooperativo ou pvp), não é sequer suficiente para tornar o jogo menos maçante. Uma decepção.