Ah, a idílica e pastoril vida na fazenda. Desde antigos tempos, quando a globalização começou o seu avanço desenfreado, as pessoas sonham em voltar para o que aparentam ser tempos mais simples e com menos barulho, luzes e concreto para todos os lados. Viver o dia-a-dia em uma fazenda real pode não ser tão fácil de conseguir nos dias atuais, e é muito provável que a realidade não seja tão colorida de rosa assim (a dizer pela quantidade de trabalho braçal repetido que você teria que fazer), mas para a sorte de todas as pessoas meio sedentas por essa vida um pouco mais bucólica, nós temos os videogames: Mais especificamente, os farming sims.
Os jogos de simulação de fazenda, farming sims ou até “jogos de fazendinha“, como são chamados, são uma subcategoria dos jogos envolvendo simulação de vida social, administração de recursos e customização que esteve presente desde Harvest Moon em 1996, uma série que mais tarde se tornou Story of Seasons e inspirou vários outros jogos como Rune Factory, ou o hit indie Stardew Valley. São jogos simples que tem uma própria rotina cheia de pequenas coisas para fazer que conquistam um grande público de pessoas pelo seu tom relaxante e menos “ativo” do que outras séries de jogos. Mas e se você quiser esse estilo de jogo mas ambientado em um estilo de Faroeste? Bom, não fique preso a Red Dead Redemption: Dê uma chance a Cattle Country.
Feito pelo estúdio indie Pixel Castle, Cattle Country põe você como nova pessoa a habitar uma cidade interiorana que você pode nomear, no ano de 1891, e após algumas introduções levemente alongadas pelo prefeito Archibald, te dão alguns objetivos iniciais (que ficam marcados em seu Diário) – coisas como plantar e colher suas primeiras sementes, falar com todas as pessoas da cidade e chegar até certo nível nas minas – e você está mais ou menos livre pra continuar fazendo isso até quando quiser. Como esperado de um jogo do gênero, todo dia tem um horário para iniciar e um horário para acabar, e você tem o tempo de cada dia para expandir e cuidar de sua fazenda, conversar com as pessoas ao seu redor, explorar seus arredores, desbravar um pouco das florestas e das minas para conseguir recursos e vender o que conseguir produzir. É o esperado de um farming sim, e se um desses jogos não conseguiu te conquistar, acho difícil que Cattle Country vá mudar realmente sua opinião.
Isso não quer dizer que Cattle Country não tenha suas surpresas e pequenos detalhes para se destacar, não me entenda mal, mas é bem verdade que os jogos do gênero são bem parecidos e que eles ficam repetitivos relativamente rápido – é apenas a natureza desse tipo de jogo. Você faz algumas tarefas no dia, quando ele está quase acabando vai pra sua casa dormir, no próximo dia faz mais algumas tarefas (talvez as mesmas, talvez diferentes) e vai seguindo de acordo com o andar da carruagem. Talvez seja por isso que eles acabam ficando tão viciantes: A natureza dessa repetitividade e a sensação de estar pouco a pouco trabalhando para conseguir cumprir pequenos objetivos dia após dia dá um conforto e satisfação que são simples mas gostosos de experimentar, quase como o grinding de um RPG em um nível base.
Sejamos mais objetivos em como Cattle Country se diferencia dos demais: Você tem o básico de manter uma plantação e animais, as relações com as outras pessoas da cidade, um sistema de criação usando os recursos que você pega (o famoso crafting) e um pouco de pescaria. Cada lugar do mapa de sua cidade e arredores é lotado de fauna e flora local, te dando diversas oportunidades de encontrar recursos diferentes e garantindo que você não vai ter falta de coisas como madeira, sementes, frutas e feno. Se estiver se sentindo com sorte, pode até tentar caçar um pouco da vida selvagem com seu arco ou seu revólver, cujos recursos podem ser usados para produzir mais coisas ou para vender por um bom preço.
Sim, eu falei “revólver”: Depois de poucos dias na sua estadia na cidade nova, o xerife Sam vai te presentar com um revólver e algumas balas – enquanto te adverte que fique do lado da lei – e esse revólver pode ser usado para caçar, se livrar de inimigos básicos que aparecem durante sua exploração do mapa e das minas e, acima de tudo, se defender dos bandidos e quaisquer fora-da-lei que te surpreenderem. Esses duelos de revólver, ao estilo de faroeste, são feitos através de um básico minijogo onde você aperta o botão na hora certa em uma barra, quase como uma QTE ou um ataque em combate de Undertale, se você tiver jogado aquele jogo. Pode ser que você esteja andando e de repente um bandido te pare e exija o seu dinheiro, pode ser que você acorde e se veja com alguém tentando roubar sua casa, e talvez até você precise usar de violência nos trens – você nunca sabe quando vai acontecer, então ande com cuidado.
Outra parte que se destaca em Cattle Country é a mineração: Assim como em Stardew Valley, Cattle Country tem uma mina cheia de recursos, pedras e minérios preciosos com vários níveis de profundidade e inimigos que povoam essa mina, mas em vez de ser algo similar a um jogo de aventura visto de cima, como o jogo geralmente é no mapa normal, a perspectiva passa a ser rolagem lateral 2D, como em Terraria ou Steamworld Dig. Agora você não anda para as quatro direções, você só anda para a esquerda e para a direita e tem um botão de pulo!
A mina se estende a vários níveis abaixo de você, e sua exploração é sobretudo vertical, o que significa que você precisa colocar escadas e plataformas para pular quando precisar fazer o seu caminho de volta para a entrada, e iluminar o seu caminho com tochas nas paredes para continuar cavando mais fundo por melhores recursos, e essa mudança de perspectiva traz um tom bem divertido e diferente à exploração que você espera, enquanto você cava, põe mais plataformas, atira em inimigos e administra sua energia para continuar cavando mais – só tome cuidado para não perder a hora e acabar desmaiando de sono nas minas.
Mencionei que o mundo de Cattle Country e os arredores da cidade estavam lotados de fauna e flora, e que não havia falta de recursos para você, mas essa vantagem vem com dois problemas. Primeiro, isso significa que o mapa-múndi de Cattle Country está constantemente lotado de coisas, deixando a tela um tanto cheia demais – especialmente já que sua personagem ocupa um pedaço bem pequeno da tela, dando a impressão que o jogo está sendo visto bem de longe. Você se acostuma depois de um tempo, mas principalmente me regiões cheias de árvores, é fácil se perder e não saber onde está o que. Você tem um mapa para ter uma ideia geral de aonde ir, mas as casas e construções no mapa não são nomeadas, mesmo quando você passa o cursor por cima dos lugares, então ou você toma um tempo para decorar o que é cada lugar ou acaba perdendo tempo demais do seu dia por perambular demais porque as casas eram parecidas e você não lembrou onde era a casa da carpinteira a tempo.
E falando em perder tempo demais, vamos ao segundo problema: A sua velocidade. Você simplesmente anda lento demais para o tamanho do mundo. Não existe um botão de correr, você está sempre na mesma velocidade, e andar de um canto ao outro ocupa muito tempo porque você não anda rápido, e fica ainda pior se você resolver ir ao bar tomar uma cerveja pra fazer aquele belo “roleplay” – fingir que realmente está vivendo naquela cidade, sabe? Quando você consegue um cavalo, isso é meio que mitigado, já que os cavalos são um pouco mais rápidos, mas – e talvez isso até seja impressão dado que sua personagem é muito pequena em comparação com o mundo – sua velocidade ainda é lenta demais, tomando bem mais do seu tempo e deixando algumas situações onde tempo é precioso bem mais árduas.
Há de se notar que no começo de minha jogatina, notei alguns bugs menores como o Caps Lock do meu teclado não funcionando no jogo e bugs maiores como o jogo simplesmente travando e fechando sozinho após um dos eventos que aconteceu, o que me impediu de progredir, mas no momento que escrevo essa resenha, onde o jogo já foi lançado, esse bug maior já foi corrigido. Também é válido comentar que, se você estiver esperando diálogos mais profundos ou eventos sociais que deem mais personalidade aos moradores de sua cidade, você não vai encontrar muito disso aqui, já que os personagens e interações de Cattle Country são um tanto limitados, e aquela sensação dos personagens sempre falarem a mesma coisa acaba sendo bem presente aqui. É algo que, de novo, é a certo ponto esperado do gênero, até mesmo do queridinho de muitos Stardew Valley, mas tem que se apontar que isso também está aqui com Cattle Country.
Como falei no começo do texto, é bem possível que passados alguns dias, você talvez já note um pouco de fadiga ou marasmo por estar fazendo tarefas repetidas, mas creio que isso é algo que é de praxe do gênero dos jogos de fazenda. Pessoalmente, enquanto acho esse tipo de jogo divertido, costumo jogá-los em sessões menores, e ao menos que eu seja completamente viciado na ideia como em Animal Crossing, procuro deixar as minhas sessões de jogos de fazenda um pouco menores: Jogar um dia ou dois no começo do dia, talvez em pausas de trabalho, ou um pouco antes de dormir.
Cattle Country me levou um pouco a refletir sobre esse tipo de jogo. São jogos onde você está, essencialmente, guiando alguém para fazer o mesmo trabalho todo dia, com algumas diferenças aqui e ali no seu dia-a-dia – quase como a vida é, na verdade, e enquanto você não está fazendo todo o esforço físico que alguém estaria trabalhando em uma fazenda real, a repetitividade dessas tarefas é facilmente perceptível. Então por que esse tipo de jogo faz tanto sucesso? E por que eu me sinto tão atraído a jogar esse tipo de jogo? Creio que existem vários motivos, várias respostas diferentes – somos todos pessoas diferentes, afinal de contas – mas para a minha experiência, diria que isso vem com o conforto que existe em uma rotina.
Fazer as mesmas atividades pode parecer extremamente maçante ao longo do tempo, mas eu diria que, em relativa moderação, essas atividades podem te ajudar a se organizar e te dar uma sensação de satisfação que ajuda a regular o seu cérebro muito bem. Já que com um jogo de fazenda você não está se sujeitando ao trabalho físico, essas pequenas atividades que podem ser feitas à sua maneira e ocasionalmente são “temperadas” com novidades e acontecimentos durante a sua estadia são um ótimo jeito de relaxar e apreciar os prazeres pequenos e o fluxo paciente do movimento dos jogos e até da vida, se você abstrair bastante.
Os jogos de fazenda são ótimas pedidas para experimentar, e se você nunca tentou jogar nenhum deles, creio que Cattle Country tem o suficiente de novo e familiar para ser uma ótima primeira vez de alguém. É fácil dizer que com esse gênero de jogos, a milenar frase de “se não está quebrado, não conserte” funciona para todo o sempre, mas creio que não há nada de errado em tentar explorar diferenças aqui e ali para tentar consertar “erros” comuns desse tipo de jogo e sair da sensação de mesmice, e enquanto os passos do gênero são bem curtos, sinto que em jogos como Cattle Country existe um pouco desses passos, e apesar de não ser algo que vai mudar completamente sua opinião sobre esse tipo de jogo, ainda é um bom jogo de fazenda com bastante charme e personalidade próprios que merece sua atenção, mesmo que casualmente.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm