Resenha: The Last of Us Episódio 3 - Neo Fusion
Resenha
The Last of Us
Episódio 3
30 de janeiro de 2023
Este texto contém spoilers sobre The Last of Us (2013) e The Last of Us da HBO

O terceiro episódio de The Last of Us é um daqueles casos de “quanto mais penso a respeito, mais eu gosto”. Muito disso se deve especialmente a como os produtores do seriado optaram por mudar os eventos que rolam em comparação com o jogo, adaptando-os de forma interessante e inteligente para outra mídia – afinal, muito do que foi exposto aqui dificilmente funcionaria no game. As palavras do próprio Neil Druckmann deixam claro: “Minha filosofia com este programa sempre foi ‘quando devemos nos afastar e quando devemos voltar?’. Se for meio que o mesmo ou pior, nós mantemos como é no jogo; se for melhor, nós alteramos”. 

Joel e Ellie e o avião

Diferentemente dos dois primeiros episódios, “Long Long Time” não abre com uma história anterior à pandemia, mas sim direto com Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) seguindo o caminho até a cidade de Lincoln, onde Joel pretende pedir ajuda a um velho amigo, Bill (Nick Offerman). Há uma breve exposição da relação entre Joel e Ellie, com a garota tagarelando e irritando o velho contrabandista, enquanto este permanece monossilábico e metódico. Nesse sentido, quem jogou o game até identificará pequenos detalhes, como a garota se empolgando com uma máquina de fliperama de Mortal Kombat II (que é um diálogo opcional no jogo e o fliperama é obviamente fictício), mas as similaridades acabam aqui.

Após um breve papo a respeito de como a pandemia pode ter se originado – onde Joel explica a teoria de que o fungo provavelmente sofreu mutação e, como era presente na farinha ou em grãos, matérias-primas de inúmeros alimentos, contaminou as pessoas em escala global ao mesmo tempo – a dupla para em frente a um buraco cheio de esqueletos, marca dos primeiros dias da pandemia, quando as pessoas eram simplesmente assassinadas pela FEDRA devido à falta de espaço nos abrigos do governo – os mortos, afinal, não podem se infectar pelo fungo. Daí, temos o corte temporal do episódio, indo para 30 de setembro de 2003, quando toda a cidade de Lincoln é evacuada, exceto por um habitante, Bill.

No The Last of Us original, Bill é um sujeito neurótico, porém extremamente engenhoso, tendo tomado a cidade toda para si, a enchendo de armadilhas e alarmes para evitar que os infectados a invadissem. Ele ajuda Joel a conseguir uma bateria para um carro, quitando uma dívida que tinha com ele, além de também bater boca com Ellie em algumas passagens divertidíssimas. Em resumo, todo o arco do personagem permanece no presente, com poucos detalhes mais profundos sendo revelados de forma sutil, em especial sobre seu relacionamento com Frank (Murray Bartlett) e sua sexualidade. Já no seriado, Bill continua neurótico, engenhoso e dono da cidade, mas seu relacionamento com Frank é bem mais explorado, tomando foco central do episódio.

piano
Uma das coisas mais bacanas dessa escolha é que nós nunca vemos Frank vivo no jogo – apenas encontramos seu corpo, após tirar a própria vida – enquanto o seriado procura mostrar não só como Bill o conheceu (em 2007, ou seja, após quatro anos sem contato humano) e como o relacionamento dos dois se desenvolveu.

Frank é o total oposto de Bill. Enquanto este é um cara que está constantemente pilhado e preocupado com a segurança, desconfiando de todos e sem medo de meter chumbo nos desavisados, Frank é um cara muito mais aberto e resolvido, que serve de equilíbrio na relação dos dois. É Frank, inclusive, que começa a colocar na cabeça de Bill a ideia de passarem a ter alguns poucos amigos, gente em quem podem confiar – e aí entram Joel e Triss (Anna Torv), aparecendo mais novos em uma cena onde almoçam com o casal e trocam informações.

A forma como Frank dá um novo propósito a Bill passa uma mensagem muito bonita sobre como podemos tirar força em frente às maiores adversidades da vida. E isso carrega muito o DNA de toda a franquia The Last of Us: é sobre resistir e sobreviver (endure and survive) da forma que der nesse mundo hostil, mas também – e principalmente – sobre amor

Bill e Frank velhos

É até curioso parar para pensar no quão privilegiados Bill e Frank foram durante as duas décadas até os dias atuais. Eles criaram uma vida juntos, vida essa que, mesmo ainda enfrentando dias ruins, invasões de saqueadores e infectados, era verdadeiramente uma vida que valia ser vivida, especialmente por terem um ao outro. E nesse sentido, o impacto da decisão final tanto de Frank quanto de Bill dão um tom poético e ainda mais lindo à jornada de ambos – e justificam a mudança em relação ao jogo. Enquanto nós nunca mais sabemos de Bill no TLoU original, na série nós temos a certeza de que ele e seu companheiro tiveram o fim que mereciam – e eu não duvido que fariam tudo novamente, se tivessem a chance.

Ao fim da história de Bill e Frank, vemos Joel e Ellie chegando até a casa onde os amigos viviam, mas sendo surpreendidos por não os encontrarem lá (seus corpos ficam no quarto, que permanece trancado). Ali, a dupla reúne recursos e preparam uma bateria para um carro, podendo finalmente seguir viagem em busca do irmão de Joel. Mas isso acontece não antes de Ellie encontrar uma carta de Bill endereçada a Joel (no jogo também há uma carta, mas do falecido Frank endereçada ao Bill), onde o velho amigo dá permissão para que o sobrevivente leve todas as armas e equipamentos que precisasse e reforça a importância de proteger e salvar aqueles que puder salvar, citando em particular a Tess. O paralelo é impossível de passar despercebido. Joel falhou duas vezes até agora. Falhou em proteger Sarah e falhou em proteger Tess. Até quando isso acontecerá?


~

Long Long Time é um episódio extremamente bem-sucedido. Ele utiliza inteligentemente o fato de ser uma adaptação para seriado, dando o devido palco à história de Bill e Frank de forma que jamais seria possível no jogo e isso funciona surpreendentemente bem. A intenção, no fim das contas, é justamente expandir esse universo que conhecemos tão bem, sem ser uma mera cópia de um pra um (coisa que, honestamente, teria um resultado péssimo), sem deixar de envolver quem está conhecendo a franquia pela primeira vez.

Embora não seja um episódio perfeito – algumas falas não encaixam perfeitamente, o relacionamento de Bill e Frank talvez pudesse levar um pouco mais de tempo para realmente começar a engrenar – o resultado final é sem dúvidas acima da média. É um episódio triunfal que carrega de forma honesta o DNA da franquia e tem um peso emocional ímpar e memorável. 

Tema da janela

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Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

[…] a alternativa não é descartada. Até mesmo tivemos uma história inédita do marsupial em Crash Bandicoot 4: It’s About Time. Poderíamos ter uma nova versão futuramente de Crash Bash – o party game da franquia […]

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[…] não sendo tão inovador e debatível quanto Her Story, o título certamente conquista um espaço importante no (já não tão popular) gênero dos […]

Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm