Análise: Kentucky Route Zero: TV Edition - Neo Fusion
Análise
Kentucky Route Zero: TV Edition
18 de agosto de 2023
Jogamos Kentucky Route Zero: TV Edition no Xbox com um código fornecido pela Annapurna.

Eu já sabia, antes de começar a jogar, que eu provavelmente não gostaria de Kentucky Route Zero. Simplesmente não é meu tipo de jogo, pois é completamente envolto em sua própria narrativa mas tem pouco a oferecer em termos de jogabilidade. Mas eu gosto de ocasionalmente experimentar algo fora da minha zona de conforto e existem alguns casos de jogos extremamente narrativos que eu curti, como Night in the Woods uns 2 anos atrás e Venba há poucos dias. Mas realmente me surpreendi com o quanto não gostei de Kentucky Route Zero. Há alguns elementos isolados que me agradaram, mas como um todo senti que eu estava simplesmente me empurrando para atravessar algo que não estava conectando comigo de qualquer forma significativa.

Trata-se de uma história sobre o mundano; algumas coisas fantásticas acontecem, mas elas também são mundanas. Nos pés de um caminhoneiro que deve encontrar um endereço para realizar uma entrega, descobrimos que devemos atravessar uma rota misteriosa de Kentucky chamada Zero, ou KY0. Desde o começo é óbvio que trata-se de uma história do tipo “não é o destino, é a jornada até ele”, que tudo bem. Muitas histórias interessantes podem acontecer em uma jornada pelo inteiro.

Mas pense comigo. Se você estivesse numa viagem de carro e se perdesse ao longo do caminho, o que seria mais fascinante e memorável: encontrar um belíssimo lago pouco explorado no por-do-sol e ser deslumbrado pelas criaturas que habitam a região, ou furar o pneu e ter que aturar horas de burocracia para descobrir aonde era que você na verdade queria ir?

Kentucky Route Zero parece acreditar que a segunda opção é mais interessante, ou divertida, ou alguma coisa. Por uma boa parte do jogo, encontramos apenas contratempos nos levando a lugares diferentes daquele aonde pensávamos que iríamos, mas ao invés de encontrar qualquer coisa de interessante, são mais e mais situações mundanas ao extremo, com raros instantes de brilhantismo espalhados. Por vezes esse mundano apenas atrapalha o ritmo do jogo, como quando o personagem quebra a perna e devemos passar as próximas horas de jogo vagarosamente mancando pelos cenários. Por outras, pode ser um comentário sobre a lentidão do sistema burocrático americano, mas para fazer esse comentário somos obrigados a aturar atividades e diálogos tão divertidos quanto ir à prefeitura para tirar documentos, sem nem um pingo de ironia. Eu adoro ler mapas e encontrar direções, e nem mesmo esse aspecto do jogo conseguiu me interessar.

Como eu sou teimoso e havia lido algumas coisas interessantes sobre o jogo, persisti, aguardando muito um momento onde as coisas se encaixassem de forma mais coerente. Acho que perto da metade do jogo isso começa a acontecer, mas até lá eu já estava tão profundamente entediado com o que o jogo tinha apresentado até então que não consegui mudar de engrenagem mental e começar a me importar. Minha conclusão de que é mais interessante ler sobre o jogo do que de fato jogá-lo. Talvez mais interessante seja seguir a sugestão no site do jogo e interpretar uma cena do jogo com um grupo de amigos. Na ausência de amigos, é possível encontrar vídeos no YouTube de pessoas que o fizeram. Confie em mim, mesmo dublado por amadores, é mais agradável do que tolerar a cena dentro do próprio jogo.

Tenho certeza de que, em algum nível, Kentucky Route Zero oferece uma discussão sobre a vida no interior americano e toda sua mundanidade. Mas também tenho muitas dúvidas se o videogame é o meio ideal para tal discussão, pelo menos nessa forma. Já assisti filmes e animações mundanas e esses me fizeram pensar em algum aspecto da condição humana. Mas esta obra se apresenta em uma mídia que prospera explorando possibilidades interativas e visuais, sem fazer nada disso. A narrativa é exposta como paredes de texto, sem expor qualquer personalidade fora das palavras em si. E sentar na frente da TV apertando A repetidamente para avançar textos e textos enquanto escolho opções de diálogo inconsequentes não é minha ideia de entretenimento.

Um abraço para o cachorro Homer, que em seu silêncio tornou-se meu personagem favorito.


Nota sobre a versão do jogo. Nós recebemos da Annapurna a chave para analisar a nova atualização do jogo, para PS5 e Xbox Series, que lança dia 17 de agosto. Porém, após redimir o código, meu Xbox instalou apenas a versão de Xbox One, sem melhorias. Não sei se esse é um erro por parte da Annapurna ou do Xbox, mas decidimos por jogar e escrever sobre o jogo em seus próprios méritos, já que trata-se de um jogo narrativo e melhorias gráficas têm pouco efeito no produto final. Mas, só para dar alguma perspectiva: jogando a versão de Xbox One numa TV 4K vários elementos do jogo, inclusive os enormes títulos de cada cena, apresentavam serrilhados. Mais chato foi a ausência do Quick Resume, o que me impediu de quebrar as sessões de jogo em algumas mais curtas, pois o jogo só salva no final de cada cena.

Eu reluto em chamar de medíocre um jogo que claramente não foi feito de forma medíocre. Há certa qualidade na apresentação de Kentucky Route Zero e certamente seus criadores têm uma história a contar. Mas durante todo meu tempo com o jogo, questionei se esta era uma forma eficaz de contar tal história, ao invés de formas narrativas mais tradicionais. Eu adoro videogames que exploram as possibilidades narrativas da mídia, e de certa forma é o que este jogo faz; mas ele esquece de explorar todo o resto que tornam videogames distintos e especiais. O resultado é que detestei quase todo o tempo que passei com ele, mesmo sabendo que não é uma obra ruim como um todo.

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Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

[…] a alternativa não é descartada. Até mesmo tivemos uma história inédita do marsupial em Crash Bandicoot 4: It’s About Time. Poderíamos ter uma nova versão futuramente de Crash Bash – o party game da franquia […]

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[…] não sendo tão inovador e debatível quanto Her Story, o título certamente conquista um espaço importante no (já não tão popular) gênero dos […]

Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm