Síntese: Flat Eye - Neo Fusion

Flat Eye

22 de novembro de 2022

Nos últimos anos, alguns eventos globais podem parecer surreais. Em alguns momentos, pode parecer até que já estamos vivendo numa distopia — basta ver a situação do Twitter, que com certeza estará diferente quando você estiver lendo este texto, ou a ideia do co-fundador da Oculus, Palmer Luckey, que criou um protótipo para “quem morrer no jogo morrer na vida real“. A equipe francesa Monkey Moon se inspirou nessa era de notícias malucas para desenvolver Flat Eye, disponibilizando até uma bibliografia de referências.

Mecanicamente, o jogo é bem simples. Trata-se de um simulador de loja de conveniências no qual gerenciamos um funcionário que deve construir e manter módulos na estação e garantir uma boa experiência aos clientes. Não me parece muito mais inovador ou complexo que outros jogos do estilo, mas para quem curte esse tipo de coisa, é sempre legal começar com ferramentas básicas e aos poucos expandir e automatizar as tarefas. Como gerente, nós não estamos realmente na loja, controlando tudo à distância. Efetivamente, nosso papel é fazer uma ponte entre o atendente e uma inteligência artificial que é responsável por todos os equipamentos.

Interface de Flat Eye

O aspecto surreal está nos serviços oferecidos pela loja de conveniências, que é curiosamente localizada na Islândia. Inicialmente, são óbvios: alguns banheiros e prateleiras com mercadorias. Surgem então módulos que oferecem entretenimento em realidade virtual, um espelho que oferece previsões sobre o futuro do cliente, uma máquina automática para vendas de órgãos, um robô capaz de realizar cirurgias, e assim vai. A maioria desses módulos coletam dados que podem ser usados para alimentar outros módulos. Ao longo da operação da loja, a cada dia recebemos a visita de um cliente premium, geralmente interessado em experimentar alguma dessas tecnologias.

As conversas com os clientes premium é onde acontece a narrativa do jogo e as discussões que ele propõe. Um exemplo que me chamou a atenção foi uma pesquisadora de criminalística que quis modificar sua memória para “entender melhor os seus sujeitos de estudo”. Acabou inserindo uma memória de um homicídio e, na sua perspectiva, ela havia cometido esse crime. Quais são as consequências de uma situação assim? Flat Eye propõe algumas respostas simples e abre caminho para várias discussões acerca disso, mas não conclui a linha de pensamento. O jogo diz se passar em 2022 mesmo, mas há vários elementos da realidade diferentes. Faz-se entender que a União Europeia se unificou como um país, e que rolou algum cataclisma nos EUA que fez muita gente emigrar para a Islândia.

Entre os módulos distópicos, me chamou a atenção um que permite aos clientes um “fim pacífico”, para aqueles que perderam a vontade de viver. Nosso funcionário deve então manualmente remover o corpo do aparelho e levá-lo ao incinerador. É algo mórbido tratado como quotidiano. Pra piorar, em horários de pico há uma fila de pessoas tentando usar o equipamento e, se a espera for longa demais, elas saem frustradas da loja e deixam uma avaliação ruim. A pessoa quer morrer em paz, mas não quer esperar alguns minutos para isso.

A premissa é intrigante e as mecânicas são funcionais, mas o jogo infelizmente se perde na curva de progressão. O principal medidor de progresso são os pontos de tecnologia que desbloqueiam novos módulos (que, por sua vez, abrem novas conversas com clientes). Porém nas primeiras horas de jogo esses pontos vêm a conta-gota e várias vezes passei 2 ou 3 dias dentro do jogo sem um aparelho novo para acrescentar. Para tentar deixar os dias menos monótonos, somos obrigados a comprar cartas que oferecem objetivos opcionais — mas estes geralmente são toscos. Alguns dependem da boa vontade dos clientes (“usar aparelho X, Y vezes”) e outros são apenas um trabalho manual que devo fazer no começo do dia (“instalar X módulos na estação” — mas como espaço e recursos são limitados, acabo só instalando e removendo os objetos).

Admito que não consegui terminar o jogo antes de escrever sobre ele. No ponto onde cheguei, acabaram as opções de novos módulos para comprar e, a princípio, preciso aumentar o meu nível de cooperação com a IA para progredir. Porém, para isso ocorrer é necessário ter interações específicas com certos clientes premium, e qual cliente e interação ocorre em um dia é praticamente aleatório. Acabei jogando vários dias apenas mantendo a operação normal da estação, sem muitas novidades, e acabou ficando um pouco sem graça. Enquanto isso, acumulei pontos de tecnologia que não posso gastar.

Por fim, o jogo tem alguns bugs. A cada 2 ou 3 dias rola um crash da aplicação (por sorte após os dados serem salvos) ou às vezes objetos se comportam de forma inesperada na estação. O bug mais engraçado foi quando um diálogo com cliente foi repetido de um dia anterior, mas estava em francês. Provavelmente esses serão corrigidos com o tempo mas, para realmente melhorar o jogo, é necessário também alguns ajustes à curva da progressão narrativa. Apesar dos problemas, as discussões trazidas pelo jogo fazem dele uma experiência memorável.

Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm