Análise: Gungrave G.O.R.E é bom, mas é ruim - Neo Fusion
Análise
Gungrave G.O.R.E
é bom, mas é ruim
22 de novembro de 2022
Testamos Gungrave G.O.R.E em um PS5 a partir de cópia cedida pela publicadora

Existe uma magia perdida com o avançar dos anos nos videogames: o jogo ruim mas, ainda sim, bom. Trata-se de uma certa categoria de games em que o resultado final está longe de ser algo fantástico, sendo composto de muitos problemas ou repetições, mas que mesmo assim consegue ter algum tipo de apelo que o torna querido na memória de jogadores.

Jogos licenciados, especialmente na época do PS1 e PS2, eram grandes vertentes onde esse tipo de material aparecia, ao mesmo tempo que alguns desenvolvedores japoneses arriscavam a mão em jogos completamente quebrados mas que divertiam a beça.

Essa estranha tendência da indústria, porém, parece estar querendo voltar. Em 2021, tivemos Marvel’s Guardiões da Galáxia, um jogo que para mim foi um grande retorno a forma de games licenciados relativamente ruins mas ainda atraentes. Já em 2022, é a vez da parte japonesa dessa curiosa relação social retornar, com Gungrave G.O.R.E, um jogo deveras… único.

Estilo não é marra em Gungrave G.O.R.E.

Tela de um estágio em Gungrave G.O.R.E

Contando com designs de personagens feitos por Yasuhiro Nightow, famoso mangaká por trás da franquia Trigun, e sendo a sequência de um jogo bem esquecido de PS2, Gungrave G.O.R.E. é um título que parece ser uma janela para uma era diferente de videogames – em todo momento em que ele estava sendo rodado no meu PS5, parecia que eu estava jogando algo que se esforçava ao máximo para ser estiloso visualmente, mas sem levar em conta a jogabilidade. Uma linha que, para pessoas que moram comigo, expliquei como se fosse o oposto do que Devil May Cry V fez, sendo realista nos gráficos mas extremamente estiloso em jogabilidade.

Explico isso da seguinte forma: no título, você controla Beyond the Grave (!), um lendário atirador (!!) que é a reencarnação de Brandon Heart, um líder de uma pequena gangue de rua que era amigo de Big Daddy (!!!). Grave é um anti-herói, e seu visual é uma das coisas mais absolutamente legais que já vi em um videogame.

Grave, além dessas características, também utiliza armas, que são o principal equipamento que o jogador tem acesso no jogo – mas é necessário ficar apertando continuamente o R2 para que elas sejam disparadas, e não somente manter o gatilho pressionado como é comum em outros jogos de tiro.

No papel isso pode parecer ok, mas estamos falando do PS5 – existe uma leve pressão no gatilho durante todo o jogo, que embora nas primeiras horas de jogo não pareçam nada fez com que eu lá pela hora três estivesse com uma enorme dor em meu punho, que com o passar do tempo foi se arrastando para todo o meu braço.

Outro cenário em Gungrave G.O.R.E

É impressionante o quanto essa simples decisão fez com que qualquer mérito possível do jogo se perdesse para mim. Veja, em um PC, como meu amigo Felipe Gugelmin comentou, essa ação seria extremamente simples de ser realizada em um mouse, mas em um controle em que a adaptação de pressão dos gatilhos é sua principal característica, não tem como esta opção de controle ser um dos maiores tiros no pé possível.

Em certo momento da jogabilidade, então, eu me encontrei com uma difícil decisão: finalizo Gungrave G.O.R.E ou respeito minhas dores físicas e entendo que o jogo deve ser jogado em pequenas sessões pela preservação de meu braço? Minha decisão, como bom masoquista, foi zerar, e ficar três dias com meu braço não muito bem – mais um importante alerta que talvez isso não tivesse ocorrido se eu praticasse mais exercícios físicos, quem sabe.

Dores físicas a parte, existe algo brilhante no jogo

Combate em Gungrave G.O.R.E

Coloco sim na conta do masoquismo parte do meu desejo em finalizar o título, mas também coloco um importante parenteses nesse comentário: se o jogo não tivesse algo minimamente bom, eu não teria chegado em seu fim. Teria jogado até entender que as mecânicas dele estavam já claras e viria contar neste texto essa experiência.

A realidade, porém, é que seja pelos visuais extremamente estilosos ou pela história completamente maluca (repito, o nome do boneco protagonista é Beyond the Grave), o jogo me fisgou de uma forma que nenhum outro título ruim conseguiu durante minha vida adulta. Me fazendo relembrar dos tempos em que 10 jogos piratas de PS1 podiam ser comprados por R$ 10 em minha infância e eu finalizava jogos horríveis pela simples razão deles terem alguma parte que me deixava grudado na TV.

Mais de 15 anos depois, essa sensação voltou durante Gungrave G.O.R.E, e este é meu principal elogio ao jogo: mostrar que nem tudo tem que ser excelente (ou mesmo bom), mas somente ter partes funcionais para que nós sejamos presos em suas garras. 

Dito tudo isso, recomendo o jogo? Talvez em uma promoção – afinal, por um preço mínimo, você pode ter uma importante experiência que pode abrir os olhos sobre a real indústria dos jogos e o que estamos perdendo ao só querer conteúdos premium e AAA. 

Gungrave Gore é um produto que parece ter vindo de outro momento no espaço tempo, talvez justamente para trazer essas doces memórias a tona. De qualquer forma, ele é um jogo que tem pontos bons e ruins como tantos outros, mas a mistura parece algo incomum na nossa época -- o que o torna potencialmente necessário.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm