Análise: The Sexy Brutale - Neo Fusion
Análise
The Sexy Brutale
7 de dezembro de 2017
Código do jogo fornecido pela Tequila Works.

Uma das melhores partes de ser um fã de videogames hoje em dia é a possibilidade de ser pego de surpresa por jogos de diversos tamanhos que são lançados despretensiosamente. The Sexy Brutale chega para nos lembrar disso — eu não sabia de sua existência uma semana antes de jogá-lo, e hoje está entre meus favoritos do ano. Eu o joguei pela primeira vez em abril no PS4, e agora o revisito para conferir a versão de Switch.

Brincando com o tempo

The Sexy Brutale é um jogo de puzzles cercando diversos homicídios. O jogador deve utilizar elementos do ambiente (uma enorme mansão-cassino-hotel) para evitar as mortes dos hóspedes ao longo de doze horas. Com a ajuda de um relógio de bolso, o protagonista, Boone, pode voltar no tempo até o meio-dia e revisitar todos os eventos daquela tarde macabra. A ideia não é completamente original, sendo claramente influenciada por jogos como The Legend of Zelda: Majora’s Mask, no qual os personagens têm rotinas que podem ser exploradas nos próximos ciclos (além da abundância de máscaras), e de Ghost Trick: Phantom Detective, um cult classic do DS em que um fantasma manipula objetos do cenário para evitar as mortes de personagens. O conceito não ser original não é nenhum demérito: pelo contrário, acho uma pena quando uma ideia de jogabilidade bacana é deixada de lado apenas porque “ela já foi feita antes”. The Sexy Brutale aproveita a proposta de uma maneira que é única, nunca por um momento parecendo uma cópia.

A jogabilidade principal é similar a um point-and-click adventure sob perspectiva isométrica. Devemos atravessar portas, interagir com objetos, olhar através de fechaduras e ouvir sons e conversas para conseguir montar um mapa (mental e literal, graças ao mapa dinâmico da tela de pause) de onde e quando cada coisa acontece durante o dia. Também devemos evitar contato direto com os outros personagens, nos escondendo em outras salas e dentro de armários — ao estar na mesma sala que outro personagem, uma animação mostra a máscara daquele personagem perseguindo Boone, mas temos um tempo generoso para fugir. É um exemplo de mecânica que não serve necessariamente para deixar o jogo difícil, mas sim para que o jogador saiba que não pode interferir diretamente com o assassino ou a vítima, pois tudo deve ser feito em segredo.

Brutalidade com estilo

Sem dúvida é muito divertido começar a desvendar um dos homicídios — sem saber onde os personagens começam o dia ou acabam morrendo — e aos poucos poder ter uma ideia sólida do ocorrido. Na verdade, recomendo passar o primeiro ciclo sem interagir com nada além das cartas colecionáveis (que podem ser divertidas de coletar por si só), para poder entender a estrutura da cena do crime e testemunhar a morte de fato: todas elas são bem diferentes e, atráves de uma ótima direção visual e sonora, são grandiosas e tensas. Nas primeiras vezes, eu não segui esse conselho e, por duas vezes, acabei resolvendo o mistério antes de poder entender por completo o que estava acontecendo, o que foi um pouco decepcionante.

Após estabelecer o mistério por trás da morte do hóspede, é hora de vasculhar a região atrás de pistas e objetos que podem ajudar a evitar o homicídio. Precisamos encontrar falhas nos planos do assassino, ou desfazer algum elemento crucial que foi preparado para permitir o assassinato. Cada caso é resolvido de forma única e um pequeno detalhe pode ser a diferença entre descobrir ou não a solução para o quebra-cabeças. Ao concluir o segmento e evitar o homicídio, Boone adquire a máscara do hóspede que ele salvou, abrindo para o jogador um novo poder, que permite acessar novas áreas da mansão.

Acredito que o que mais me fascinou foi a direção sonora do jogo. Além da trilha sonora excelente, que preenche cada região da mansão com um swing empolgante, a repetição diária é um aspecto fundamental da sonoridade. Ao invés de empregar trilha sonora dinâmica, na qual a música muda de acordo com o que o jogador faz, temos um curioso uso de trilha sonora estática: como o dia sempre dura o mesmo tempo (cerca de 9 minutos no mundo real), as músicas são compostas para preencher esse tempo e variam de acordo com o que acontece no relógio do jogo. A primeira morte, por exemplo, ocorre às 16h e foi causada por um tiro de escopeta; em todos os ciclos diários subsequentes, ouvimos o tiro ocorrendo no mesmo horário, acompanhado de uma sombria transformação da música. Quase todas as mortes dão algum sinal sonoro do evento, que nos deixa curiosos para saber o que está acontecendo na mansão. Em alguns casos, esses sinais funcionam como dicas para resolver um mistério, pois notamos a importância dos horários em que as coisas acontecem.

A combinação do estilo point-and-click com a mecânica de viagem no tempo é sempre muito interessante. Não basta encontrar os itens e usá-los nos lugares certos, é necessário saber quando pegá-los e usá-los para evitar o contato direto com os personagens. Infelizmente, apenas uma vez senti que há uma complexidade maior nesta sequência: na maioria dos mistérios, bastam duas ou três ações nos momentos certos para que os destinos das vítimas mudem. Também pode ser um pouco chato quando sabemos que uma ação precisa ser feita às 15h30, mas o relógio só nos dá a opção de pular para 16h ou 20h.

Ao redor de todos os homicídios, há uma narrativa que conecta tudo. Tornando-se aparente no decorrer do jogo, posso dizer que gostei de seu desenrolar e conclusão, mas dizer qualquer coisa além disso seria um spoiler, assim como dar detalhes de cada morte. No entanto, a narrativa apenas complementa um jogo que se sustenta perfeitamente em suas mecânicas, visuais e construção de momentos dramáticos e empolgantes.

Esta screenshot é de quando eu joguei no PS4. Podemos reparar que a versão de Switch perde pouco em visuais.

No Switch, o jogo roda a 30fps, ao contrário dos 60fps dos outros consoles, e conta com um esquema de iluminação simplificado. Esses sacrifícios são esperados ao trazer um jogo para uma plataforma tecnicamente mais fraca, e, neste caso, pouco atrapalham a experiência do jogo. Sendo um jogo que envolve mais pensar do que executar ações, a taxa de quadros é aceitável, e a direção artística do jogo continua deixando-o visualmente agradável.

The Sexy Brutale traz um conceito pouco utilizado de uma maneira única e divertida, aproveitando sua estética e sonoridade para proporcionar momentos memoráveis e quebra-cabeças divertidos. É uma pena que algumas soluções sejam simples demais; um pouco mais de complexidade teria beneficiado muito a satisfação de resolver os mistérios. Ainda assim, várias das soluções são satisfatórias e, em todos os casos, a sensação de descoberta é bastante empolgante.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm