Resenha: The Last of Us Episódio 2 - Neo Fusion
Resenha
The Last of Us
Episódio 2
23 de janeiro de 2023
Este texto contém spoilers sobre The Last of Us (2013) e The Last of Us da HBO

“Quando vim ao set para o primeiro episódio que Craig dirigiu, eu não tinha certeza do que esperar. Meu pensamento era que isto seria bem diferente de dirigir um jogo, e quanto mais eu assistia, eu ficava tipo, ‘oh, na verdade isso é bem similar’. As etapas particulares são quase idênticas. A maior diferença é a ordem da operação”. Essa resposta de Neil Druckmann a uma pergunta da Vanity Fair a respeito das diferenças entre dirigir um jogo e dirigir um episódio de seriado diz muito. Da mesma maneira, Ashley Johnson, a Ellie dos dois jogos, já foi bem clara quando expressou que Neil era provavelmente o melhor diretor com quem já havia trabalhado. 

Enquanto é verdade que trabalhar num set de mocap é bem diferente de um set de cinema/seriado, os resultados podem ser igualmente eficientes nas mãos de uma equipe competente e um diretor que sabe o que está fazendo, visando com clareza a mídia escolhida. Druckmann se saiu muito bem nessas tarefas e conseguiu um resultado que esbanja naturalidade e segurança, seja em The Last of Us jogo, seja em The Last of Us série.

Micologista

O segundo episódio do The Last of Us da HBO abre com um corte de 24 de setembro de 2003, em Jacarta, Indonésia, às vésperas da pandemia de Corydceps que destruiria o mundo como o conhecemos. Uma micologista é levada a um hospital para investigar um cadáver de uma funcionária de fábrica de trigo infectada pelo fungo. Horrorizada com o que presenciou, a professora retorna para casa e oferece, aos prantos, apenas uma solução para conter o que estaria por vir: bombardear a cidade toda. Não há cura, não há vacina, não há esperança.

De volta à jornada de Joel e Ellie nos dias atuais, temos a continuação dos eventos que encerraram o episódio anterior. Ellie (Bella Ramsey) desperta sob uma luz forte, tomando o foco central da cena. Joel (Pedro Pascal), aos fundos, na penumbra, continua desconfiado da garota, pronto para atirar nela a qualquer sinal de transformação pela infecção. E Tess (Anna Torv), aos poucos se aproximando de Ellie, entre luz e penumbra, exibe uma combinação de racionalidade, compreensão e talvez um começo de esperança de que possa haver sim uma saída para aquela situação.

A escolha dos produtores da HBO e de Neil Druckmann de abrir os episódios com cortes de diferentes épocas a fim de expandir o universo de The Last of Us e a compreensão sobre a infecção por Cordyceps tem se mostrado coerente e equilibrada. Durante todo o segundo episódio, vemos diversos diálogos entre os três personagens a respeito do comportamento dos infectados e como podem agir como uma unidade orgânica, além de como o mundo funciona nessa era pandêmica e como as coisas são fora das zonas de quarentena. Os cientistas dos anos 60 e a micologista de 2003 acertaram na mosca.

Prédios
Seguimos a caminhada do trio por uma Boston destruída e dominada pela natureza, coisa que mais uma vez demonstra a qualidade do trabalho que toda a equipe teve com o set design da série, dialogando muito bem com o jogo. É quase como se o espectador pudesse se maravilhar da mesma forma que a Ellie ao ver lugares inéditos e compreender o que virou daquele mundo para além dos livros, e também uma forma daqueles que são familiares com o jogo identificarem marcos icônicos dos primeiros capítulos da aventura.

Aliás, uma coisa que achei muito interessante na forma que Druckmann conduziu o episódio tem a ver justamente com o cenário: quando abrem a porta do prédio em que passaram a noite, todo o espaço é revelado de uma forma similar a como a Naughty Dog costuma apresentar novas fases e paisagens. Pense em Nathan e Sully abrindo as portas para revelar uma cidade de Madagascar pronta para ser desvendada (e destruída) em Uncharted 4.

Nate e Sully abrindo porta em UC4

De forma similar, há inúmeros “toques” durante diálogos e eventos do episódio que provam uma adaptação natural entre jogo-seriado por parte de Neil e equipe: Ellie se distraindo com objetos do cenário e fazendo seus comentários sarcásticos, Joel dando um impulso para que Tess pudesse escalar uma parede, um pacing eficiente entre as partes em que o trio apenas explora e troca informações e partes tensas onde vemos os primeiros Estaladores. Tudo contribuindo para que o episódio de mais de 50 minutos não ficasse maçante e funcionasse sem abusar de exposição ou de tiroteio exagerado.

Eu tive alguns problemas com o primeiro episódio da série, em particular por achar que Bella Ramsey ainda não convencia como Ellie. Isso já mudou um bocado desta vez. A forma como a garota aos poucos se revela no papel tem sido interessante de ver. Desde seus comentários irônicos até sua curiosidade inesgotável, Bella tem mostrado uma Ellie que não fica muito aquém da personagem de Ashley Johnson nesses aspectos. O tempo maior de tela e a condução de Neil certamente ajudaram e agora resta ver como a atriz se sai conforme Ellie passa a ter maior autonomia frente às situações que presencia. Já Pedro e Anna continuam excelentes em seus respectivos papéis e todos esses elementos mostram um cuidado grande por parte da equipe toda para fazer jus a esses personagens.

A cena do museu, em que aparecem os primeiros Estaladores também foi um ponto alto do episódio. Enquanto a tensão do jogo é maior e diferente (afinal, estamos no comando), a versão live action utiliza de forma esperta os elementos principais da mídia: design de som forte e assustador, enquadramentos que revelam aos poucos o comportamento dos infectados, uma urgência enorme na atuação quando Joel pisa num caco de vidro, chamando a atenção dos monstros e por fim um alívio quando o trio consegue derrotá-los. A única coisa que eu não gostei muito foi um breve momento em que a ação é filmada com câmera na mão, coisa que eu quase nunca consigo achar bem feita justamente por dificultar demais o acompanhamento da atuação. Pelo menos o resto da sequência foi muito bem filmada e os Estaladores também funcionaram tão bem quanto no jogo.

Joel, Tess e Ellie
O episódio termina com a cena icônica do Capitólio, em que o trio descobre que o grupo de Vagalumes que ficaria com Ellie está morto. Tess então revela ter sido infectada momentos antes, no museu. Aqui, há algumas diferenças importantes. Tess continua nervosa, mostrando como Ellie levara uma mordida no braço, cuja ferida já havia se curado e não apresenta problemas, enquanto ela mesma, em comparação, só piora a cada minuto. Tess demonstra firmeza em suas decisões assim como no jogo, mas começa a apresentar de forma mais clara sintomas da infecção, como seu braço tremendo. Há uma maior urgência em fazer com que Joel e Ellie escapem de uma horda de infectados vistos anteriormente (que no jogo são apenas inimigos humanos normais).

E finalmente há a parte em que a companheira de Joel morre. No jogo, nós nunca vemos como a vida de Tess acaba (apenas ouvimos o tiroteio), mas aqui somos apresentados a uma das cenas mais desconfortáveis – e divisivas – até o momento: enquanto os infectados invadem o local, Tess fica acuada próxima a uma parede, tentando acender um isqueiro para botar fogo na gasolina e nas granadas que derrubou antes do local ser invadido. Um Corredor em particular para e percebe a personagem ali e se aproxima dela, dando-lhe um “beijo da morte” pouco antes de Tess conseguir explodir o lugar.

É bacana como essa parte retoma a cena de prólogo do episódio, com a mulher na mesa de autópsia revelando uma das formas mais aterrorizantes do Cordyceps se proliferar: com gavinhas saindo pela boca. Há quem vá achar a cena da morte de Tess ruim. Eu, visto o enorme desconforto causado, digo que cumpriu bem seu papel.  

~

O segundo episódio de The Last of Us da HBO revela um talento enorme de Neil Druckmann na direção. Mesmo que toda sua carreira tenha sido construída na indústria dos games, tendo começado como programador, ascendido às posições de roteirista, diretor criativo e presidente da Naughty Dog, seu papel na condução do episódio é bastante natural e eficiente, revelando mais uma vez um ótimo diretor de atores. Houve pouca coisa que tenha me desagradado no episódio, como algumas escolhas de câmera na hora de filmar cenas de ação e também a opção por ter usado uma versão de Allowed to be Happy para os créditos do episódio – a música é do segundo jogo, não do primeiro…
Curioso para ver se a qualidade da série permanece constante como a desse episódio ou se haverá algum momento em que as coisas desandam. Torço muito para que a adaptação continue sendo uma grata e bem feita surpresa. Nos vemos semana que vem!

Neil, Bella, Anna e Pedro

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm