Quando eu terminei The Last of Us (2013) pela primeira vez, tive certeza de estar diante de uma das obras mais importantes e especiais que já experienciei na vida. Muito disso se deve tanto ao momento que eu passava pessoalmente quanto aos méritos do próprio jogo: seus temas e mensagem, a junção bem acabada de gameplay e narrativa e, claro, seu icônico final com o peso das decisões de Joel – decisões essas que geraram uma década de debates sobre o personagem estar certo ou errado. Neste último domingo, 13 de março, pude reviver um pouco dessa sensação, mas agora numa mídia diferente e com uma ótica nova.
“Procure Pela Luz” é, em poucas palavras, uma adaptação bem-sucedida dos eventos finais de The Last of Us. Enquanto segue de perto os principais beats da obra original – a chegada a Salt Lake City; a cena da girafa; a recepção nada amigável dos Vagalumes; a mentira de Joel, etc – Mazin e Druckmann conseguem espaço para desenvolver alguns pontos do passado que não são abordados no jogo. No caso, Anna Williams (Ashley Johnson), mãe da Ellie (Bella Ramsey), e a provável origem da imunidade da garota, quando sua mãe é atacada por um infectado no momento de dar à luz a garota.
O episódio abre justamente com essa cena. É legal ver Ashley Johnson interpretando Anna por dois motivos: ela é a atriz que deu origem à Ellie virtual (sendo dessa forma… a mãe da personagem original como a conhecemos) e também o fato de sua voz ser extremamente reconhecível – poderia até soar estranho ver a “voz da Ellie” ali, mas é fato que Ashley consegue fazer uma Anna bastante convincente e distinta.
Nessa cena de abertura também vemos que Anna era de fato muito próxima de Marlene (Merle Dandridge) e que esta praticamente viu a garota nascer. O set usado para a cena também curiosamente lembra muito a fazenda em que Ellie vai morar ao fim de The Last of Us Part II. Intencional ou não, é uma construção interessante.
Após os créditos de abertura, somos levados ao momento presente, quando Joel (Pedro Pascal) e Ellie chegam a Salt Lake City. Devido aos eventos mais recentes da jornada (mostrados no episódio 8, especificamente) e a proximidade do “fim da jornada”, vemos Ellie perdida em seus próprios pensamentos, mal prestando atenção às falas de Joel.
A dupla segue seu caminho na cidade até a famosa cena da girafa – um dos últimos momentos contemplativos da jornada dos dois, ali já praticamente “pai e filha”. Se esse momento no jogo é também um convite à reflexão meditativa do jogador, na série esse convite vem com um pouco mais de exposição para o espectador, uma vez que Joel ajuda Ellie a alimentar a girafa e também diz que eles não precisam terminar aquilo, que poderiam simplesmente voltar para a cidade de Tommy e seguir vivendo suas vidas. Ellie, num momento de pura honestidade e entrega, mostra que ela confia plenamente em Joel e quer estar com ele, se propondo a segui-lo para onde quer que ele fosse… mas apenas após cumprirem seu objetivo original. “Não pode ser em vão”.
Os eventos seguintes são os mesmos do jogo, apenas com algumas leves mudanças em execução, a fim de causar menor estranheza por se tratar de uma série e não um jogo. Joel e Ellie são atacados pelos Vagalumes, que não reconhecem o velho e acham que a garota poderia estar em perigo. Eles os levam até o hospital da cidade, separando os dois. Joel desperta e é recepcionado por Marlene, que agradece ao velho contrabandista, quase não acreditando que ele conseguiu cumprir sua tarefa sozinho, sendo que ela mesma perdeu quase todos os membros dos Vagalumes. Ela segue explicando como o médico compreende a origem da imunidade de Ellie e como pode ser capaz de criar uma cura contra o Cordyceps usando os mensageiros químicos do cérebro de Ellie – o que, obviamente, a mataria durante o processo de extração.
O que se segue é uma das melhores sequências da série toda: Joel é escoltado por dois Vagalumes para fora do hospital, mas no meio do caminho, num ato totalmente governado pela emoção, para e ataca os dois soldados, matando-os. O velho segue por todo o hospital à procura da sala de cirurgia, atirando em quem quer que se colocasse em seu caminho. A construção dessa sequência tem um ar quase anestesiado, mas também frio, duro e bruto, mostrando o quão obstinado Joel estava naquele momento: ele não se permitiria perder uma filha novamente, nem que isso custasse uma possível cura para a humanidade.
O fim dessa cena é crucial. Joel chega à sala de cirurgia com Ellie já sedada, momentos antes do início de sua operação. O médico tenta parar Joel, que atira em sua cabeça sem pestanejar. Ele tira a garota dali e segue para o estacionamento, onde é abordado finalmente por Marlene. E, é claro, ele atira nela e também a mata, mesmo quando ela pede para ser poupada. “Você iria atrás dela de qualquer maneira”, ele diz.
Essa sequência é praticamente idêntica ao jogo, com intercalações entre Joel dialogando com Ellie no carro, quando a garota desperta. Ele explica que os Vagalumes encontraram mais pessoas imunes ao Cordyceps, mas que todas as tentativas de fazer uma cura fracassaram e que, por fim, resolveram desistir de procurar. Mais: o hospital foi atacado por saqueadores e houve muito sangue. Joel conseguiu resgatar Ellie e eles vão embora para Wyoming, ficar com Tommy. Ellie pergunta se Marlene está bem, mas recebe o silêncio de Joel.
Corta para as proximidades de Jackson, Wyoming, com Joel e Ellie fazendo a caminhada final, trocando algumas palavras a respeito de como Ellie se daria bem com Sarah e como as garotas gostariam muito uma da outra. Eles vêem a cidade por cima, quando Ellie finalmente pede para esperar. Ela conta como a primeira pessoa que ela matou foi sua amiga Riley. Como elas foram infectadas e esperavam seus momentos finais juntas. Mas não aconteceu. E aí vieram as mortes de Tess e Sam. Joel diz que nada disso é culpa dela, que se prosseguir, se acha algo pelo qual lutar.
Ellie cobra Joel. “Jura pra mim… Jura que tudo o que me disse dos Vagalumes é verdade”. Joel mente. “Eu juro”. Ellie, compreendendo que ela não tem escolha (e talvez nunca tivesse tido em qualquer momento, uma vez que todos os adultos de sua vida tiraram sua autonomia) e temendo seu maior medo – ficar sozinha naquele mundo – responde, sem realmente acreditar em Joel: “okay”.
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The Last of Us da HBO é uma série que cumpre bem seu papel de adaptar um dos jogos mais queridos da década passada – senão de todos os tempos. Ela não é perfeita em tudo que propõe, mas é muito bem-sucedida em sua média. Ela acerta em cheio na hora de traduzir para a TV o feel do jogo, seja pelos cenários, seja pelos enquadramentos, figurino e trilha-sonora. Também acerta na escolha dos atores e nos momentos que deve se distanciar do original e mudar acontecimentos, bem como trazer novidades que expandem a história e o background dos personagens. Mesmo que muitos momentos possam parecer apressados e outros necessitassem de um maior respiro em sua encenação, o resultado ainda é positivo.
Isso tudo também pode ser dito de seu episódio final. Além disso, ele dá tanto aos antigos fãs dos jogos quanto a um enorme público novo mais um convite à reflexão sobre a escolha de Joel. Independente de você considerá-la certa ou errada, uma coisa é verdade: não pode ser em vão. E cada um terá a sua motivação para continuar lutando diante do seu próprio apocalipse.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm