Eu já sabia, antes de começar a jogar, que eu provavelmente não gostaria de Kentucky Route Zero. Simplesmente não é meu tipo de jogo, pois é completamente envolto em sua própria narrativa mas tem pouco a oferecer em termos de jogabilidade. Mas eu gosto de ocasionalmente experimentar algo fora da minha zona de conforto e existem alguns casos de jogos extremamente narrativos que eu curti, como Night in the Woods uns 2 anos atrás e Venba há poucos dias. Mas realmente me surpreendi com o quanto não gostei de Kentucky Route Zero. Há alguns elementos isolados que me agradaram, mas como um todo senti que eu estava simplesmente me empurrando para atravessar algo que não estava conectando comigo de qualquer forma significativa.
Trata-se de uma história sobre o mundano; algumas coisas fantásticas acontecem, mas elas também são mundanas. Nos pés de um caminhoneiro que deve encontrar um endereço para realizar uma entrega, descobrimos que devemos atravessar uma rota misteriosa de Kentucky chamada Zero, ou KY0. Desde o começo é óbvio que trata-se de uma história do tipo “não é o destino, é a jornada até ele”, que tudo bem. Muitas histórias interessantes podem acontecer em uma jornada pelo inteiro.
Mas pense comigo. Se você estivesse numa viagem de carro e se perdesse ao longo do caminho, o que seria mais fascinante e memorável: encontrar um belíssimo lago pouco explorado no por-do-sol e ser deslumbrado pelas criaturas que habitam a região, ou furar o pneu e ter que aturar horas de burocracia para descobrir aonde era que você na verdade queria ir?
Kentucky Route Zero parece acreditar que a segunda opção é mais interessante, ou divertida, ou alguma coisa. Por uma boa parte do jogo, encontramos apenas contratempos nos levando a lugares diferentes daquele aonde pensávamos que iríamos, mas ao invés de encontrar qualquer coisa de interessante, são mais e mais situações mundanas ao extremo, com raros instantes de brilhantismo espalhados. Por vezes esse mundano apenas atrapalha o ritmo do jogo, como quando o personagem quebra a perna e devemos passar as próximas horas de jogo vagarosamente mancando pelos cenários. Por outras, pode ser um comentário sobre a lentidão do sistema burocrático americano, mas para fazer esse comentário somos obrigados a aturar atividades e diálogos tão divertidos quanto ir à prefeitura para tirar documentos, sem nem um pingo de ironia. Eu adoro ler mapas e encontrar direções, e nem mesmo esse aspecto do jogo conseguiu me interessar.
Como eu sou teimoso e havia lido algumas coisas interessantes sobre o jogo, persisti, aguardando muito um momento onde as coisas se encaixassem de forma mais coerente. Acho que perto da metade do jogo isso começa a acontecer, mas até lá eu já estava tão profundamente entediado com o que o jogo tinha apresentado até então que não consegui mudar de engrenagem mental e começar a me importar. Minha conclusão de que é mais interessante ler sobre o jogo do que de fato jogá-lo. Talvez mais interessante seja seguir a sugestão no site do jogo e interpretar uma cena do jogo com um grupo de amigos. Na ausência de amigos, é possível encontrar vídeos no YouTube de pessoas que o fizeram. Confie em mim, mesmo dublado por amadores, é mais agradável do que tolerar a cena dentro do próprio jogo.
Tenho certeza de que, em algum nível, Kentucky Route Zero oferece uma discussão sobre a vida no interior americano e toda sua mundanidade. Mas também tenho muitas dúvidas se o videogame é o meio ideal para tal discussão, pelo menos nessa forma. Já assisti filmes e animações mundanas e esses me fizeram pensar em algum aspecto da condição humana. Mas esta obra se apresenta em uma mídia que prospera explorando possibilidades interativas e visuais, sem fazer nada disso. A narrativa é exposta como paredes de texto, sem expor qualquer personalidade fora das palavras em si. E sentar na frente da TV apertando A repetidamente para avançar textos e textos enquanto escolho opções de diálogo inconsequentes não é minha ideia de entretenimento.
Um abraço para o cachorro Homer, que em seu silêncio tornou-se meu personagem favorito.
Nota sobre a versão do jogo. Nós recebemos da Annapurna a chave para analisar a nova atualização do jogo, para PS5 e Xbox Series, que lança dia 17 de agosto. Porém, após redimir o código, meu Xbox instalou apenas a versão de Xbox One, sem melhorias. Não sei se esse é um erro por parte da Annapurna ou do Xbox, mas decidimos por jogar e escrever sobre o jogo em seus próprios méritos, já que trata-se de um jogo narrativo e melhorias gráficas têm pouco efeito no produto final. Mas, só para dar alguma perspectiva: jogando a versão de Xbox One numa TV 4K vários elementos do jogo, inclusive os enormes títulos de cada cena, apresentavam serrilhados. Mais chato foi a ausência do Quick Resume, o que me impediu de quebrar as sessões de jogo em algumas mais curtas, pois o jogo só salva no final de cada cena.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm