Expressão. A manifestação do pensamento por meio da palavra ou do gesto (obrigado, dicionário!), seja esse pensamento consciente ou inconsciente, e quer ele seja entendível ou não.
A capacidade de se expressar do ser humano está presente desde que alguém percebeu que podia desenhar com objetos que deixassem marcas, e para o contentamento de uns e descontentamento de outros, sempre fizemos exatamente isso. A música, o desenho, o discurso, a escrita, dentre muitos outros que, a gente queira admitir ou não, são formas de expressão, e enquanto alguns resolvem colocar esses pedaços de expressão em um museu, outros resolvem levar isso para as ruas: o lugar passageiro, corrido e muitas vezes hostil que enfrentamos diariamente de uma maneira ou outra, e que faz parte do dia-a-dia de uma cidade urbanizada.
Dessa expressão nas ruas foi se criando e enriquecendo uma cultura com o passar do tempo, com sua própria batida, sua própria dança, seu próprio meio de ser e falar. E assim como todo o escopo da expressão humana, ela é fascinante. Tão fascinante a ponto de algumas pessoas quererem se banhar com o conteúdo dessa cultura, e desse banho novas obras adjacentes são criadas, e é exatamente do produto de uma dessas situações que vamos falar hoje: Bomb Rush Cyberfunk e seu verdadeiro amor pela cultura ‘street‘, das ruas.
Feito pela desenvolvedora Team Reptile – conhecidos por Lethal League e sua sequência Lethal League Blaze, Bomb Rush Cyberfunk é um jogo com bastante influência de arcades e esportes radicais, se baseando no visual super estiloso de jogos como Jet Set Radio, usando cel-shading em todo o charme poligonal da cidade de Nova Amsterdã, onde se passa Bomb Rush Cyberfunk. O jogo foi anunciado em 2021, teve seu lançamento remarcado de 2022 para 2023, e finalmente em agosto de 2023 tivemos acesso ao sucessor espiritual que a SEGA se nega a fazer, prometendo toda a atitude e estilo que a Team Reptile mostrou que sabe fazer com seus jogos anteriores.
Bomb Rush Cyberfunk começa com o protagonista, Faux, um grande artista de grafite, atrás das grades: preso na cadeia de Nova Amsterdã. Mas, como ainda estamos no começo do jogo, logo Faux é libertado por Tryce, líder da titular gangue Bomb Rush Cyberfunk, e após uma breve conversa, ajuda mútua e luta contra policiais armados – tudo parte de uma amizade nova em sexta-feira normal – os dois protagonistas escapam, mas não sem um pequeno problema: Faux perde a cabeça. Literalmente. Uma figura misteriosa com vários discos de vinil em seu casaco arremessa um na direção de Faux e decapita o protagonista, deixando sua cabeça cair no canal à frente.
Talvez aí seja onde os créditos deviam rolar, mas pouco depois, após algumas cinemáticas, é revelado que você, no corpo de Faux, ainda está vivo: só tiveram que te dar uma nova cabeça cibernética. Acordando na base de operações da Bomb Rush Cyberfunk, você é recebido por Tryce e Bel, os atuais integrantes da gangue, que informam que o homem misterioso dos vinis se chama DJ Cyber, que é o atual líder da gangue mais respeitada de Nova Amsterdã e que ele provavelmente está com sua antiga cabeça. O único jeito de alcançá-lo é através de reputação: destronar as gangues de cada parte da cidade pouco a pouco, ganhar respeito o suficiente para finalmente conseguir ficar pau a pau com DJ Cyber e chegar no status mais elevado: All City. Dedicado a conseguir respostas, nosso protagonista se une oficialmente à Bomb Rush Cyberfunk, adota o novo nome de Red e a gangue marcha para as ruas de Nova Amsterdã em busca de achar suas raízes.
Nova Amsterdã é um universo banhado na cultura street, das ruas: do grafite marcante e colorido à dança de rua nos espaços xadrez aos truques impressionantes de patins e skate, e principalmente à música, Bomb Rush Cyberfunk é uma ode brilhante cheia de admiração em um mundo onde as habilidades trazem o respeito, e só os maiorais conseguem chegar no topo: o anteriormente mencionado All City. Começando do mais baixo, Red e sua nova gangue iniciam sua jornada pelas ruas de Versum Hill, dominada pela primeira gangue, os Franks: Jogadores de basquete com membros e partes do corpo re-costuradas pelo seu líder, o Flesh Prince (trocadilho com “fresh prince of bel-air” e “flesh”, significando “carne”/”corpo”). Todo o estilo das gangues de Bomb Rush Cyberfunk é bem futurístico, mostrando um universo onde o corpo pode ser moldado e modificado sem maiores dificuldades, levando aos designs de personagem incrivelmente originais e estilosos.
E, falando em estilo, os Franks não vão nem te dar um minuto de atenção porque você não tem estilo. O único jeito de atrair a atenção deles é de mostrar o seu estilo e sua habilidade, fazendo manobras para chegar nos lugares mais difíceis de alcançar e marcando seu território com uma assinatura em grafite, ganhando assim mais reputação e chamando a atenção da gangue rival. Quando desafiados, seus rivais vão propor um desafio a mais de criação própria: Coisas como chegue a um certo ponto do mapa sem perder seu combo, ou conseguir um multiplicador de 5x, e outros similares. Depois de um certo número de desafios cumprido e de um certo número de reputação alcançado, você finalmente pode enfrentar a gangue daquele local e através de uma batalha de estilo para ver quem consegue a maior pontuação em um certo limite de tempo – observada e julgada pelos Oldheads, os gângsters mais velhos e mais respeitados de Nova Amsterdã – e após uma vitória, você segue para o próximo ponto principal da cidade e enfrenta a próxima gangue, até chegar no fim de tudo para enfrentar o elusivo DJ Cyber.
Esse é o enredo e objetivo básico de Bomb Rush Cyberfunk, e daqui pra frente tudo se resume em fazer as manobras mais impossíveis e os grafites mais coloridos, com algumas surpresas na história e muitos personagens novos com seus próprios estilos únicos. Em termos de jogabilidade, BRC pode ser facilmente resumido como uma fusão de Jet Set Radio e Tony Hawk’s Pro Skater: Você usa seu skate, par de patins ou bicicleta para andar livremente por cada parte de Nova Amsterdã, pulando e deslizando por trilhos e corrimãos espalhados no cenário, pintando certas paredes marcadas com grafite, e eventualmente escapando de policiais armados até os dentes prontos pra te dar seis tiros de advertência nas costas – Tudo com controles bem simples e fáceis de se acostumar.
Cada cenário de Nova Amsterdã é um parque de diversões construído pra você explorar: Enquanto você não está em um desafio, você está livre pra andar para onde quiser e praticar suas manobras, sem limite de tempo, restrições de espaço ou vidas, e caso você caia em algum precipício ou na água, seu personagem volta ao lugar onde estava, perdendo apenas um pouco da barra de vida, que recupera automaticamente bem rápido. A prática e familiaridade com cada parte da cidade é importante, pois além de revelar os caminhos para alguns pontos de grafite mais escondidos, é o único jeito que você vai conseguir vencer as batalhas contra as gangues. Você não vai precisar explorar literalmente tudo, mas familiaridade com pontos bons pra fazer manobras e treinamento pra manter o combo de um lugar para o outro vai sempre te ajudar, e o mesmo vai ser dito pelos próprios pontos de grafite. Bomb Rush Cyberfunk não espera que você faça tudo com perfeição, só espera o suficiente pra você terminar aquele capítulo, e isso funciona muito bem com o estilo descontraído do jogo, deixando quem joga ir atrás dos objetivos que quiser.
Quando você começa a grafitar os muros, não só você ganha a atenção das gangues como, infelizmente, da polícia: Depois de alguns muros grafitados, a polícia militar de Nova Amsterdã vai se mobilizar por elevadores em cantos estratégicos pra tentar parar a sua diversão, gradativamente subindo o nível de perigo e de quantos métodos eles usam, como em Saints Row ou GTA. Você pode lutar com eles, usando chutes e golpes simples com os mesmos botões usados para fazer os truques e manobras, e como um bônus, você ainda pode grafitar a cara dos policiais derrotados se tiver reflexos afiados! O problema é que quanto mais você “resiste”, mais policiais eles mandam, então para evitar a fadiga, você pode despistar a polícia se encontrar um banheiro químico pela cidade, onde você pode entrar e trocar de roupa. Cada personagem (você pode trocar de personagem entrando em um dos quadrados xadrez de dança e apertando um botão para começar a dançar!) tem quatro roupas para usar, duas disponíveis desde o começo e duas desbloqueáveis.
Os desbloqueáveis e colecionáveis do jogo estão espalhados por toda a Nova Amsterdã em locais desafiadores, além de serem deixados para trás por membros de gangue que você derrotou. Além das roupas, você pode conseguir faixas de música que são adicionadas ao seu celular (e que podem ser acessadas a qualquer momento!) e novos tipos de grafite. Cada muro grafitável é de um tamanho específico, e dependendo de quantos tipos de grafite você tiver aprendido, você pode colocar qual deles você quiser naquele ponto, seguindo um padrão específico na hora de grafitar, e é sempre bom decorar os padrões novos, porque cada tipo de grafite novo que você pinta te dá mais reputação e mais pontos se você estiver fazendo um combo!
Algo muito interessante que a Team Reptile fez é que todos os designs diferentes de grafite que estão presentes em Bomb Rush Cyberfunk foram feitos por vários artistas ao redor do mundo, todos feitos especialmente para o jogo (aparentemente em uma competição feita pelo time), mas cada um com um design bem diferente que reflete a personalidade de cada artista que fez. Você pode olhar a qualquer momento qual o artista responsável olhando no seu celular dentro do jogo ou no canto da tela toda vez que termina um grafite! A trilha sonora segue a mesma ideia, composta por músicas de vários artistas diferentes, todas curadas perfeitamente para a vibe que o jogo passa, e cai como uma luva durante sua jornada por Nova Amsterdã, incluindo nomes conhecidos como Hideki Naganuma (compositor de Jet Set Radio, Jet Set Radio Future e Sonic Rush), e 2 Mello (artista moderno e ativo com álbuns que referenciam diretamente Tokyo-To, a cidade fictícia de Jet Set Radio), além de diversos outros artistas mais independentes ou menos conhecidos que merecem sua atenção. Obviamente, como gostos são altamente pessoais, não são todas que vão chamar sua atenção, mas um bom número delas é muito boa. Pessoalmente, gosto muito de I Wanna Kno, Get Enuf e Precious Thing.
O ponto mais potencialmente chato de Bomb Rush Cyberfunk está na simplicidade de seus truques: Você usa um botão para equipar ou desequipar seu skate, patins ou bike (que podem ser trocadas na sua base de operações entre missões), e daí pode usar três botões para fazer truques enquanto está deslizando em um corrimão, três variações deste enquanto pula e segurar o gatilho direito do controle pra manter o seu combo fluindo enquanto anda por um certo tempo. Você pode reiniciar esse tempo uma vez a cada vez que você aterrissa no chão depois de um corrimão, e usar a combinação de todas essas manobras para alcançar combos altos, e ainda pode deslizar e fazer combos enquanto desliza no chão em certas pistas enquanto está com seu skate/patins/bike desequipado! Tudo funciona muito bem, mas se você tiver jogado jogos mais complexos como a saga Tony Hawk e estiver esperando fazer mais manobras, BRC pode acabar deixando um pouco a desejar, mas pessoalmente, eu acredito que a simplicidade funciona ao favor do jogo: É algo construído para ter um tom um pouco mais leve e descontraído dos desafios, e creio que daria um ótimo ponto de entrada para alguém que não é familiar com o conceito.
Olhando a todas as referências que fiz a outros jogos, é fácil dispensar Bomb Rush Cyberfunk como uma “cópia” dos jogos dos quais ele pega inspiração, mas pessoalmente, acho um desserviço ao óbvio amor que o time tem tanto pela cultura abordada como ao material de inspiração, e além do mais, você realmente acha que a SEGA vai reviver a franquia em algum momento do futuro? Eu adoraria estar errado, mas às vezes é importante colocar a sua manopla do infinito e dizer “Certo, eu mesmo faço isso” – foi exatamente o que fizeram com a saga Bloodstained, e funcionou muito bem. Por que esse caso não seria válido aqui?
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm