Análise: Chants of Sennaar - Neo Fusion
Análise
Chants of Sennaar
20 de setembro de 2023

No processo de aprender um novo idioma, há um determinado momento que parece um desbloqueio. Não é quando você se torna fluente e é capaz de entender tudo, mas antes disso, quando o seu domínio da gramática e vocabulário é suficiente para entender algumas coisas e assim começar a desvendar o restante. Chants of Sennaar se propõe a ser um jogo particularmente sobre essa sensação, com diversas linguagens misteriosas servindo de quebra-cabeças para o jogador.

Em uma estrutura que remete à Torre de Babel, co-existem cinco povos, cada um com seu idioma próprio. Sem poder se comunicar, há um atrito entre essas pessoas, e cabe a nós traçar as conexões que existem. De forma similar a um dos grandes jogos de puzzle, Return of the Obra Dinn, aqui usamos um caderninho que, aos poucos, é preenchido com pares de palavras e figuras, que acaba se tornando nosso dicionário.

Puzzles simples e únicos

Eu diria que há duas grandes categorias de quebra-cabeças. Uma envolve dedução lógica, enquanto outra é sobre reconhecimento de padrões. As linguagens de Sennaar flutuam entre esses dois estilos, pois certamente existem alguns padrões que guiam cada vocabulário, mas o jogador também tem que, muitas vezes, deduzir um contexto para entender o significado.

São cinco idiomas que descobrimos ao longo da jornada, e cada um tem padrões que, aos poucos, se tornam claros. É possível decifrar que certas palavras são verbos e outras se referem a pessoas, mesmo sem saber precisamente o significado. Essas pequenas dicas acabam servindo como peças de um quebra-cabeças daqueles clássicos, de mil peças. Formam uma base de conhecimento que nos permite ir decifrando outras palavras, até que em um certo momento temos o clique e conseguimos entender o suficiente para entender os diferentes contextos.

Apesar de tudo, os idiomas são bastante parecidos entre si. Todos são baseados em ideogramas e as frases são geralmente no formato sujeito-verbo-objeto. Os símbolos em si são bastante diferentes, o que nos permite identificar qual língua está sendo usada com alguma facilidade, mas em muitos casos há traduções diretas um-para-um entre significados.

Mas também existem umas exceções. Algumas palavras são equivalentes, mas não são literalmente iguais, como às formas que os guerreiros usam para se referir aos religiosos (impuros) e bardos (escolhidos) ao seu redor.

Algumas perdas de foco

Eu costumo dizer que um bom jogo de puzzle apresenta uma mecânica, que pode até ser simples, e a explora aos limites lógicos permitidos. Chants of Sennaar chega próximo desse ideal em vários momentos, mas acaba ficando um pouco aquém.

Como já dito, os idiomas têm estruturas similares então, em grande parte, o raciocínio que usamos em cada estágio é também similar. Diferentemente de The Witness, que apresenta mecânicas auxiliares e complementares entre si, Sennaar introduz mecânicas parecidas sob perspectivas um pouco diferentes.

Também há uma certa perda de foco, com seções de stealth que não melhoram em nada o jogo e alguns puzzles básicos demais de empurrar caixas e coisas assim. Parece ser uma tentativa de adicionar variedade e administrar o ritmo da aventura, mas sinceramente não dá muito certo.

Felizmente o jogo é razoavelmente enxuto e terminou bem quando eu estava começando a cansar dele, mas provavelmente seria ainda melhor com um pouco menos desses momentos enrolados.

E, apesar de certa repetitividade nos níveis, ainda é bastante divertido ver um conjunto de símbolos completamente desconhecidos pela primeira vez, e depois retornar com o conhecimento que nos permite entender tantos detalhes que pareciam antes mistérios.

Suas maiores ambições nem sempre são atingidas, mas Chants of Sennaar oferece uma mecânica de puzzle distinta e muito bem executada, sem se prolongar mais que o necessário. Descobrir cada nova palavra é sempre um prazer.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm