Há cerca de uma semana e meia, no período matutino, eu estava em um supermercado. A ideia, naturalmente, era comprar algumas coisas, sendo uma bandeja de carne para fazer estrogonofe a mais urgente delas. Enquanto passeava tranquilamente pelo mercado, ouvindo um som e fazendo minhas compras, fiquei um bom tempo pensando em Resident Evil 2, o REmake. Para ser sincero, fiquei parte do tempo pensando em sexo, uma parte um pouco maior refletindo sobre Resident Evil 2, e a maior porção de todas pensando no Pato Donald, Sora e amigos. Acontece.
Quando cheguei ao setor do açougue, último ponto de minha viagem de abastecimento, não havia mais bandejas. A fila do açougue parecia com a da loteria no dia 30 de dezembro, e esse simples “problema” fez eu começar a enxergar todo o resto da minha vida negativamente, talvez por ela estar mesmo em um momento complicado e qualquer situação se torna o Queiroz das reais questões.
O Tyrant é essa figura que pesa negativamente sobre todo o resto da existência do Leon e da Claire. Basta surgir pra perceberem que não possuem o necessário ou desejado controle sobre suas vidas e seus ambientes. Aí tudo desmorona e o reflexo do homem comum é sair correndo. Considero-me, sobretudo, um homem sem qualidades, dessa forma o meu reflexo, ao tomá-los como avatar, é justamente a correria. No supermercado minha reação só foi triste e melancólica, no jogo ela faz parte de algo muito interessante. No fim das contas, peguei uma carne em bem melhor estado do que pegaria se fosse em bandeja.
Meu Resident Evil do coração, o qual eu tenho nostalgia, não é o 2. O primeiro eu joguei no computador do meu irmão, e o terceiro no recém adquirido PlayStation desbloqueadão. Nunca havia jogado a versão original de RE 2. Tenho boas memórias do Resident Evil 3, já que foi um título dividido pela galera. A gente ia revezando controle e sendo feliz. Fico pensando em como vai ser o Nemesis no inevitável Resident Evil 3 REmake.
O tal Mr. X, vejam, se move com a velocidade e elegância de Paulo Henrique Ganso. Para quem não sabe, P.H.G. é um jogador de futebol ainda em atividade (ou algo do tipo). Ele surgiu junto com o Neymar, notadamente gerando diversas discussões acaloradas em mesas de bar sobre qual dos dois teria um futuro maior como jogador. Nessa brincadeira de Pitonisas, fui um dos pseudo-videntes da futura superioridade de Ganso sobre Neymar Júnior. Não aconteceu.
Paulo Henrique teve duas brilhantes temporadas. Depois de um tempo ele a) começou a se considerar maior do que de fato era e, principalmente, b) teve uma lesão bem cabulosa, alterando pra sempre o potencial físico e técnico do atleta. Ganso nunca mais foi o mesmo, porém seus fãs (entre eles comentaristas) ainda passaram vários anos defendendo o indefensável. Ganso, Sonic e Mr. X tem muito em comum.
No caso do Tyrant de RE2, a questão em comum é justamente a tranquilidade (ou mesmo indolência) com a qual PH passeava pelo campo, e a calma do Mr. X em te perseguir. E ele te persegue com uma certa lerdeza. Gerando tanto a situação de tensão ao ouvirmos seus passos ou toparmos com sua súbita aparição, como também a possibilidade de lidar melhor com sua ameaça. Quando nós sabemos onde ele está, voltamos a ter controle sobre o ambiente. Esse jogo de gato e rato se dá justamente após termos um maior conhecimento do espaço da delegacia, de como se mover pelo lugar e que inimigos atacar ou ignorar. Ele é uma figura bastante interessante para um jogo, pois altera a lógica da principal relação em RE2, do jogador com a delegacia.
O que funciona por um tempo, e depois é só chato, já que ele se transforma em um bonecão do posto, já não representando muito perigo e apenas atrasando nossa movimentação pela delegacia. Infelizmente não há novas inserções que mudem novamente nossa relação com a coisa toda. Mas enquanto a coisa funciona, vivemos desses minutos/horas excepcionais em um videogame.
Mr. X é um dos pontos chave do jogo, e isso me deixa um tanto curioso com a implementação do tirano de RE3. Nemesis, por sua vez, não se move vagarosamente, mas sim com a voracidade e velocidade do Maicon Leite, um jogador de futebol adepto da escola do “ou eu corro ou eu penso”.
Mas saindo de 2022 pra 2019 novamente, é importante apontar: comecei a campanha do remake com o Leon. O que mais funcionou pra mim foi a parte da delegacia propriamente dita. O esgoto e depois o laboratório mudam um pouco a tônica do jogo de lidar com um espaço mais amplo, no qual você se perde para depois se encontrar e finalmente saber onde quer/precisa ir, e se tornam um pouco mais, e gradativamente, espaços do tipo “corredor”. Não se anda apenas em linha reta, claro, existem puzzles e algum backtracking, mas pelo menos para mim a relação foi bastante diferente, como se fosse um outro jogo. Parecido, mas outra coisa . Com isso, e a obrigatoriedade dos chefes, as partes finais de RE2 acabam flertando com o gênero de ação de forma mais aberta.
Por um lado é interessante para gerar situações levemente diferentes e mudar o tipo de jogo. Em teoria, eu sempre sou a favor de mudanças de gênero, mecânicas e sistemas dentro de uma campanha. Na prática e no caso de REmake 2, o título se arrasta e perde um pouco de fôlego.
Com a campanha de Leon terminada por volta das 13h de sábado, e com o tempo abundando, eu poderia ir até o Rio de Janeiro e chegar com folga para o Baile da Gaiola, mas resolvi ficar em casa e já começar a campanha da Claire. Foi instigante, mas nem tanto. O legal das armas diferentes, e disposição distinta de alguns inimigos, é fazer a relação com o espaço se dar também de uma outra maneira.
Essa nova relação, e mesmo os locais novos da campanha dela, não foram o suficiente para eu me sentir jogando um cenário realmente inédito. Foi, sim, muito gostoso, mas já um tanto repetitivo. Com uma trama mal atualizada e repensada para 2019, não havia muito em termos narrativos para me fisgar.
Fica pra mim de RE2 (2019) justamente a forma como nos relacionamos com o ambiente da delegacia e seus segredos. Por entre inimigos (uma baixa variedade deles, inclusive) e a chegada do tirano X, tendo que nos mover de lá pra cá e de cá pra lá, a sensação de ir descobrindo o espaço e sobrevivendo sem gastar muita bala é o ponto alto e o mais empolgante aqui.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm