Análise: Hi-Fi Rush (PS5) - Neo Fusion
Análise
Hi-Fi Rush (PS5)
18 de março de 2024

Surpresa certamente não é uma palavra estranha quando falamos de Hi-Fi Rush. Primeiro, o jogo nasceu dentro da Tango Gameworks, estúdio fundado pelo lendário Shinji Mikami, cujos primeiros títulos foram The Evil Within e Ghostwire Tokyo, ambos com a mesma veia de terror que tornou Mikami famoso e diferentes de Hi-Fi, que vai na contramão sendo muito mais alegre e colorido. Segundo, o título surgiu “do nada” num evento da Microsoft no começo de 2023 e foi lançado no mesmo dia no Game Pass. Terceiro, que (vá lá, nem é exatamente uma surpresa) ele é bom pra ca***** e merece todos os elogios possíveis, sendo um dos melhores jogos do ano. E quarto, que ele é um dos quatro títulos de Xbox que se tornarão multiplataforma, chegando agora ao PlayStation 5 (sim!). É dessa versão que falaremos neste texto.

Chai

A MESMA BATIDA NO REPEAT!

Aqui no Neo Fusion nós já temos uma análise da versão de Xbox do jogo, mas, em resumo: Hi-Fi Rush é um game que, ao meu ver, compartilha o mesmo DNA de vários dos melhores títulos da Capcom da década de 2000. Por um lado, ele é um excelente hack n’ slash, com muito do que faz Devil May Cry brilhar. De outro, ele traz um visual cel shading tão belo quanto Okami e Viewtiful Joe, com a particularidade de também ter muito do humor deste último (e boas seções de plataforma).

Ter essas características, no entanto, não quer dizer que Hi-Fi Rush seja genérico. Muito pelo contrário: ele é extremamente original. A história do jogo (que, ok, talvez seja o menos original dele) gira em torno de Chai, um jovem simpático e bem-humorado cujo maior sonho é se tornar uma estrela da música. Enquanto seu sonho não se torna realidade, ele decide se voluntariar no projeto Armstrong, da empresa de tecnologia Vandelay, e tentar a sorte… mas as coisas obviamente dão muito errado e o jovem acaba se tornando um “defeito”, e o CEO da Vandelay simplesmente não tolera absolutamente nenhum erro no projeto e coloca todos para perseguir Chai.

No decorrer da história, Chai encontra várias pessoas que se rebelam contra o grupo Vandelay e vai aos poucos descobrindo os esqueletos no armário da empresa. A história é contada por meio de cutscenes tão bem animadas e dirigidas que funcionariam perfeitamente como um seriado de animação. Os personagens também são todos memoráveis e interessantes, com diálogos genuinamente engraçados e bem escritos. E, claro, tudo isso é coroado com uma excelente trilha-sonora.


E é aqui que entra a maior originalidade do jogo: seu gameplay. Hi-Fi Rush é dividido em 12 faixas (ou fases, para os puristas) em que Chai explora as instalações de Vandelay seguindo o ritmo frenético e viciante da música. Tudo no jogo segue a batida do som que estiver tocando no “iPod” de Chai (que foi fundido ao seu peito, diga-se de passagem) e isso vale realmente para tudo: detalhes no cenário, movimentação dos inimigos, animações dos golpes do protagonista, movimento das plataformas, soluções para os quebra-cabeças, etc.

Aprender a dançar no ritmo da música é imprescindível para o sucesso nas batalhas do jogo. Como todo hack n’ slash de nota, Hi-Fi Rush tem suas fases divididas por várias sessões de combate em que o jogador recebe uma nota ao encerrar a pancadaria. Combar bem depende justamente de entender o ritmo da música: quanto melhor for seu ritmo e timing, maior será sua nota.

Esse exercício de entender como se posicionar na arena de combate, bem como a melhor forma de encadear os variados golpes de Chai nos inimigos certos se torna viciante – e isso só melhora com o decorrer do jogo, quando ganhamos “companions” e nossas habilidades se expandem.


Hi-Fi Rush também é um jogo que acerta no ritmo de sua campanha: ela tem a duração certa na primeira jogatina (cerca de 12 horas) e apresenta desafios e inimigos novos nos momentos quase sempre adequados, visando não enjoar o jogador, embora a variedade de inimigos e cenários não seja perfeita e também certas habilidades pudessem ser desbloqueadas mais cedo. No mais, toda a estrutura e progressão também carregam o DNA da Capcom da época do PS2 que citei lá em cima: o fator replay é excepcional. Hi-Fi encoraja bastante que o jogador revisite as fases no new game plus a fim de encontrar mais segredos escondidos nos cenários e, claro, também dar shows cada vezes melhores ao massacrar os inimigos e chefes com a guitarra de Chai ao som de Nine Inch Nails e The Prodigy (aliás, recomendo demais olhar a lista de artistas que cederam músicas ao jogo. É coisa fina, e o mesmo vale para as faixas originais).

Ah, sim, e a versão de PS5 também vem como todos os updates que já existiam nas versões de Xbox e PC do jogo, ou seja, quem tiver terminado a campanha está mais do que convidado a testar suas habilidades nos modo Fliperama, Torre Rítmica, Explosão BPM e conquistar os troféus da expansão Arcade.

AGORA É A HORA DO BIS!

O que a maioria das pessoas que estão lendo este texto e já tenham algum conhecimento sobre Hi-Fi Rush estão se perguntando talvez seja “tá, mas qual a diferença entre esse jogo no PS5 e no Xbox/PC?”


Bem, para responder isso eu primeiro preciso dizer que meu único contato com o game anteriormente foi no PC. Com isso em mente, eu posso afirmar que a versão de PS5 praticamente não fica atrás do que minha RTX 3070 entregou quando joguei pela primeira vez. A qualidade das texturas, draw distance, performance e todo o aspecto técnico no console da Sony é de uma polidez excepcional e não há do que reclamar aqui. A maior diferença, então, fica a cargo do DualSense. 

Quando vi que a versão de PS5 realmente existia, a primeira coisa que pensei foi sobre como as funcionalidades do controle seriam implementadas em Hi-Fi Rush e isso me empolgou bastante. Com o jogo em mãos, no entanto, posso dizer que minhas impressões são… curiosas. Por um lado, acho que a forma como utilizam o feedback háptico é menos interessante do que em Astro’s Playroom ou Returnal, já que a grande maioria das vibrações rolam nas cenas da história. Por outro, acho que isso acaba ajudando a “entrar” no ritmo da música e, de certa forma, até dá um certo auxílio na hora de focar no timing da batida ANTES da pancadaria começar para valer. Além disso, a forma como usam o alto-falante do controle é bacana e mescla bem com os já excelentes efeitos sonoros do jogo.

Outra coisa diferente foi em relação ao input lag durante as batalhas, que me pareceu menor e os comandos mais responsivos do que quando finalizei o jogo no PC. Esse ponto, inclusive, foi discutido por mim e minha amiga Athena, que também sentiu que estava jogando muito melhor do que antes e nós dois achamos que não é simplesmente por já conhecermos o jogo, mas sim porque o controle caiu bem nessa versão. Você pode ler a análise dela neste link aqui.


Por fim, a única crítica que tenho à versão de PS5, infelizmente, também tem a ver com o controle: os ícones dos botões são todos da mesma cor quando aparecem na interface e isso pode acabar atrapalhando no combate e, principalmente, nos QTEs. É uma escolha infeliz, já que os botões do controle da Sony costumavam ter cores específicas até a geração do PS4 e isso ajudava a visualizar melhor o botão que deveria ser apertado dependendo do jogo e do que era pedido do jogador. Aqui, como tudo é escuro e da mesma cor, perde-se um pouco da elegância e da usabilidade de uma forma que não rola na versão de Xbox e PC, já que lá os botões são coloridos. Ah, e curiosamente os botões coloridos casam bem com o visual do jogo. Uma pena.

Hi-Fi Rush é, sem sombra de dúvidas, o melhor jogo da Tango Gameworks e o melhor título publicado pela Bethesda desde Doom Eternal. A versão de PS5 é muito bem-vinda por não só ser muito polido como também por trazer essa pérola para mais pessoas e ser uma forma levemente nova de se jogar devido às diferenças entre o DualSense e o controle do Xbox. Hi-Fi Rush esbanja criatividade, musicalidade, mescla ritmo, combate e plataforma de uma maneira muito original e parece em muitos momentos ser praticamente incapaz de desafinar.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm