Análise: O Escudeiro Valente - Neo Fusion
Análise
O Escudeiro Valente
19 de setembro de 2024

O Escudeiro Valente, ou The Plucky Squire no original, é um daqueles jogos que me chamaram a atenção desde seu primeiro anúncio. Já chamativo com sua estética colorida e ambientação de história ilustrada, o trailer recebe literalmente uma dimensão a mais quando o titular escudeiro pula para fora do livro e passa a explorar o quarto de seu leitor.

Eu estava empolgado para experimentar a aventura que, apesar de diferir daquilo que eu esperava do jogo, é bastante divertida e aconchegante em grande parte.

Um jogo para crianças, não idiotas

O que me passou despercebido inicialmente, mas admito que realmente foi uma desatenção minha, é que O Escudeiro Valente tem claramente um foco no público-alvo infantil. Já joguei outros jogos “para crianças” e analisei alguns deles aqui no Neo Fusion, então isso por si só é longe de ser um problema. Minha preocupação é que alguns jogos que miram nesse público acabam por tratar seus jogadores como idiotas, mastigando toda e qualquer informação e nos isentando de qualquer desafio.

Felizmente, O Escudeiro Valente consegue acertar bem o equilíbrio para ser acessível a jogadores inexperientes tanto quanto agradável para os veteranos. Para crianças, encontramos um título com artes fantásticas, jogabilidade simples e dinâmica, e uma narrativa digna de conto de fadas moderno. Para nós mais velhos, encontramos uma pilha de referências a jogos e filmes de diferentes épocas. Nesse último ponto, acaba sendo bastante comum vermos obras que apenas fazem referências superficiais a outras anteriores, mas aqui tratam-se de alguns empréstimos de ideias que encaixam bem no contexto e são geralmente sutis o suficiente para não pegar mal.

É verdade que, durante a aventura, encontrei-me lembrando de The Legend of Zelda, Super Mario Odyssey, Pikmin, Punch-Out, Baba is You, Rhythm Heaven, Crypt of the Necrodancer e Puyo Puyo, além de filmes como Toy Story e Shrek e até jogos de cartas e tabuleiro. A sensação é aconchegante, pois faz me sentir próximo a Tim, o oculto garoto a quem pertence o quarto onde a história se passa.

Também não é por acaso que tantas dessas referências são a jogos da Nintendo. É um dos jogos independentes mais nintendescos que já vi, tanto em sua acessibilidade a diferentes tipos de jogador, quanto em sua disposição a introduzir e descartar ideias frequentemente no seu decorrer.

Pontinho, O Escudeiro Valente

Existem três recipientes do título “O Escudeiro Valente”: primeiramente o jogo que estamos discutindo agora; então o fictício livro que existe no quarto de Tim; por fim, Pontinho (ou Jot), o titular protagonista tanto do livro quanto do jogo. Passando a maior parte da aventura dentro do livro, controlamos Pontinho de forma similar a Link em um Zelda 2D, usando nossa espada para derrotar inimigos e encontrando diferentes abordagens para resolver os quebra-cabeças de cada página.

Mas o livro existe dentro de um ambiente 3D e, em determinados momentos, Pontinho pode saltar para fora da página e interagir tanto com o próprio livro quanto com outros objetos ao seu redor. Em geral, cada capítulo do jogo contém um segmento em 3D, no meio de várias páginas de jogabilidade 2D. Essa mecânica serve tanto para adicionar diferentes camadas de gameplay, quanto para criar situações para pensarmos “fora da caixa” dentro do livro.

É um feito impressionante no ponto de vista técnico, por mais que eu tenha encontrado alguns bugs que me fizeram ter que reiniciar uma fase. Em termos de puzzles, a maioria deles são simples o suficiente para serem resolvidos sem muito esforço, mas alguns me fizeram pensar por um tempo e em geral são divertidos independentemente da dificuldade. Em alguns momentos consegui “quebrar” a lógica do jogo ao saltar para uma página anterior e adquirir algum recurso útil. Esse tipo de situação é sempre legal. Muitas fases incluem um personagem que oferece dicas para resolvê-las, mas conversar com ele é sempre opcional.

Minhas críticas ficam sobre a duração de alguns capítulos ou fases, que senti serem enrolados demais. Certamente não ajuda que eu estava jogando com um pouco de pressa para poder escrever esta análise, mas definitivamente tem alguns momentos em que o mesmo tipo de fase e mecânica é usado extensivamente demais e atrapalha o ritmo da aventura.

Um realismo cartunesco

É engraçado observar que o ambiente 3D onde o livro se encontra apresenta um certo nível de fotorrealismo, que acaba contrastando com o design do próprio Pontinho. Isso serve para ressaltar seu papel naquele mundo, e fornece uma sensação de “peixe fora d’água”: é claro que Pontinho não pertence ali, e nós devemos ajudá-lo a restaurar a ordem para poder retornar ao seu livro.

Um ponto negativo dessa abordagem é que, mesmo nas partes 2D do jogo, sua engine está renderizando todo um espaço 3D ao seu redor. Isso pode ser problemáticos em computadores mais antigos, e definitivamente senti o impacto disso na bateria do meu Steam Deck. De qualquer forma, esse impacto seria sentido nos momentos 3D do jogo, mas acaba sendo durante o jogo inteiro. Dito isso, o jogo rodou bem no Deck, atingindo 60fps na maior parte do tempo usando a configuração de gráficos média. Fico curioso para ver como se saiu no Nintendo Switch.

O Escudeiro Valente é um jogo amigável para o público infantil, sem deixar para trás os jogadores mais experientes. Verdadeiramente uma obra para todas as idades que consegue equilibrar diversão e acessibilidade em jogabilidade, direção artística e narrativa.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm