Análise: Europa - Neo Fusion
Análise
Europa
23 de outubro de 2024
Código do jogo, na versão de Nintendo Switch, fornecido pela publisher

No meio da correria do dia-a-dia, às vezes precisamos de um descanso, e enquanto os videogames geralmente são meios de desopilar e se divertir, às vezes eles são um tanto movimentados demais – Se você está passando por alguns momentos agitados, pode ser que você não queira aquele jogo cheio de mecânicas complexas e mini-sistemas separados. Às vezes precisamos de algo simples, que remeta a tempos antigos e contos que te levem de volta para a sensação de estar ouvindo um conto de fadas antes de dormir. As grandes indústrias AAA não estão interessadas em fazer jogos assim, mas com a ascensão dos queridos desenvolvedores indies, podemos contar com experiências mais únicas e que não tentam fazer tudo de uma vez para apelar para todo mundo, e é exatamente isso que creio que você vai encontrar em Europa.

 

Ah, ser um androide flutuando na superfície da água. Videogames!

 

Desenvolvido pelo time Novadust Entertainment com o diretor Helder Pinto, Europa é um jogo de exploração com um toque de plataforma e quebra-cabeças, passado em um universo diferente (chamado Europa), esbanjando terras cheias de paisagem natural, ruínas e criaturas robóticas que voam livres pelas clareiras do arquipélago de ilhas flutuantes que compõem Europa, e no controle de um rapaz meio-robô chamado Zee, você explora as várias clareiras em busca do paradeiro de seu pai, busca incitada por um diário com uma mensagem dizendo que Zee “viaje até Europa quando estiver se sentindo solitário”. Digo tudo isso, mas são na verdade minhas interpretações pessoais do que vi enquanto joguei o jogo, pois a história e o que exatamente o que está acontecendo é contado de maneira um tanto vaga: Não somos dados introduções específicas, e o que você pode tirar da história está reservado à sua interpretação dos ambientes e das páginas que você encontra no diário de seu pai, Adam.

Essa forma de contação de história é o fator principal que deixa você interessado em explorar Europa, e enquanto uma boa parte das entradas do diário pode ser simplesmente explorando o que Adam sentia em relação àquele ambiente, existem várias outras que exploram não só um pouco da história de Zee como o que aconteceu naquele arquipélago celeste. Não vou explicar muito disso porque sinto que é um ponto principal do jogo que merece ser absorvido se você decidir jogar Europa, e parte da diversão está em ligar os pontos da narrativa e meditar um pouco sobre a combinação dos ambientes, música e narração dos diários pela atuação de voz acalentadora de Earl Fisher. Existe uma espécie de conflito, mas no geral, Europa é um jogo bem mais calmo e reflexivo, fazendo com que você pare um pouco para “respirar” o ar do ambiente e tirar suas próprias conclusões enquanto você plana entre as ruínas daquela antiga civilização.

 

Você pode ler as entradas do diário ou deixar a narração tocando enquanto você explora.

 

A jogabilidade de Europa pede que você explore uma série de áreas abertas de forma linear, enquanto você pula, plana, voa e explora procurando o caminho para seguir em frente ou chaves para desbloquear portas. O pulo tem que ser carregado, o que é meio esquisito, mas com pouco tempo me acostumei. Além do pulo, você pode apertar um botão para cair em linha reta ao chão, um “pisão” que afeta uma área ao seu redor, o que ajuda a descer mais rápido quando você quer, mas é mais usado para resolver puzzles e ativar mecanismos. Zee tem em suas costas um aparato chamado Zephyr, que permite que você levante voo quando quiser com o apertar de um botão, enquanto o estoque de energia de Zephyr (representado por uma barra visível no próprio aparato) durar. Você pode recuperar a energia do Zephyr em algumas fontes naturais como lagos energizados ou “bolhas” de energia espalhadas propositalmente por cada um dos ambientes. Levantar voo e planar é um método bem divertido de exploração, e sabendo disso Europa coloca as tais bolhas de energia em lugares bem pertinentes, como em uma série de plataformas seguindo para o próximo objetivo, fazendo com que você voe e paire para baixo quando precisar de mais energia, dando um fluxo divertido que não seria o mesmo se você estivesse simplesmente andando de lugar para lugar.

Dada a liberdade de voo e os ambientes abertos, é óbvio que Europa quer que você explore seus arredores e brinque um pouco com até onde você consegue chegar, algo que é favorecido por alguns colecionáveis que aumentam sua capacidade máxima de voo e esmeraldas que são pertinentes ao fim do jogo – algo como os diamantes cinzas de Crash Bandicoot, para fazer uma comparação – e é bom ter sua curiosidade recompensada, especialmente porque mais para o final do jogo, se você tiver barra de voo suficiente, você pode simplesmente ignorar alguns obstáculos e quebra-cabeças, dando ainda mais esse incentivo para explorar. Dito isto, creio que até sem esses incentivos Europa consegue fazer o voo ser divertido por si só, aquela ideia de saber quão alto você consegue ir e tentar soar o mais alto possível ou chegar no topo daquela torre só para ver como é a vista lá de cima – algo que é similar em um jogo como Breath of the Wild, subir em lugares altos para planar lá de cima aproveitando a vista. É uma diversão simples, mas que sinto que Europa sabe exacerbar bem a seu favor. E caso você perca vista de seu próximo objetivo, ele vai estar com um pilar de luz indicando para onde ir se você subir em um local mais alto, garantindo que a frustração seja pouca.

 

Voar e planar com as bolhas de energia é bem divertido.

 

Cada área do jogo tem suas próprias mecânicas que vão sendo misturadas pouco a pouco, como quebra-cabeças onde blocos desaparecem a cada pulo, torres sentinela que atiram em Zee, quebra-cabeças de movimento para colocar três orbes em lugares corretos, áreas povoadas por cristais roxos que tiram sua capacidade de voo e planar, ou até mesmo ventos fortes que pedem que você se esconda estrategicamente atrás de paredes quando a ventania bater: São todas mecânicas que mantém o fluxo do jogo variado o suficiente sem ser muito difíceis para te entreter enquanto você explora, a quantidade certa para que o jogo não fique maçante. Nem todas são muito boas – os ventos fortes nunca são algo que gosto muito porque acho que a ideia de ficar parando o tempo todo nunca combina, e às vezes é fácil ser “combado” pelas torres sentinelas – mas até essas são minimamente intrusivas, garantindo que o jogo flua bem sem ser muito complicado.

Existem poucas coisas que podem te machucar em Europa, e até as que machucam (as ditas torres sentinela, ou bombas roxas espalhadas em algumas seções) não tem uma punição severa: Zee vai ficar atordoado sem poder voar por alguns segundos, mas nada que impeça muito seu progresso. Não existem vidas, barra de HP ou qualquer coisa parecida, e o único tipo de punição por errar é simplesmente ter o seu fluxo de voo interrompido por alguns segundos. Europa não quer ser um jogo desafiador ou complexo, então entendo completamente a exclusão desses elementos em favor de manter a experiência relaxada e gratificante – e é exatamente assim que descreveria Europa em geral, relaxado e gratificante. Voar até o ponto mais alto, olhar até onde você quer ir, planar até o outro lado e pisar o chão para descobrir uma melhoria ou uma “chave” para abrir as portas é bem satisfatório, e os quebra-cabeças são pequenas distrações que mantiveram meu cérebro entretido entre as seções de exploração.

 

Esses quebra-cabeças de rotacionar os blocos são alguns dos que mais curti.

 

Se puder criticar algumas coisas, posso acrescentar o óbvio: a versão de Switch é bem borrada e parece que está constantemente com um filtro de photoshop, ao carregar um ambiente novo os ambientes aparecendo e renderizando em sua frente são notáveis, algumas poucas vezes vi animais e criaturas passando por dentro do chão, e os braços de Zee tremeram de uma maneira esquisita quando abri o diário de Adam algumas vezes no início do jogo – como se estivessem procurando onde segurar. Além de ler/ouvir as entradas do diário, depois de uma parte do jogo, Zee pode desenhar as criaturas que vê em sua jornada – basta chegar perto de uma e o jogo vai te dar o comando de “aperte X para desenhar”, que é uma maneira interessante dentro do universo do jogo de te mostrar a “concept art“, mas cada criatura tem um local específico no mapa para que o comando de desenhar apareça, e às vezes pode ficar um pouco esquisito de ter que procurar o local específico onde o jogo deixa que você desenhe, mas é uma mecânica opcional que não exatamente atrapalha, os locais só são um pouco estranhos de achar.

O ponto mais “baixo” da jornada seria a travessia dos campos nevados, no último terço da aventura, onde a ventania intermitente para seu fluxo, e já falei disso há alguns parágrafos: Simplesmente acho que essa mecânica não é divertida ou interessante em nenhum jogo onde ela aparece, e isso apenas deixa essa parte maçante, onde você tem que ficar parando o tempo todo. Por sorte, nesse ponto da história um conflito novo foi introduzido, então pelo menos tive isso para me manter levemente interessado. Dito isto, nenhuma outra parte do jogo realmente me frustrou, então fico feliz de relatar que em geral Europa entregou bem a sua proposta. Vale dizer que eu não sinto muita vontade de rejogar o jogo, e fator replay é algo que sempre procuro nos jogos que gosto, mas apesar disso, não acho que é isso que Europa quer fazer.

 

Não há muita punição por falhar, mas é meio irritante ser “combado” pelas torres.

 

Em conclusão, Europa é um jogo que é mais uma experiência: Você tem mecânicas leves e que não vão te pressionar ou frustrar, e voar e planar é divertido enquanto você absorve os ambientes e narrativa, mas não tem muito motivo para voltar, além de pegar as 40 esmeraldas espalhadas pelo jogo (terminei o jogo com cerca de 21, explorando algumas vezes). Com isso em mente, acho que é uma experiência que vale a pena experimentar: Uma história aconchegante com início, conflito e resolução que reflete sobre a exploração humana e a natureza – quase como um Nausicaä do Vale do Vento, filme do Studio Ghibli – onde os visuais e mecânicas trazem algo que dá a sensação de dar uma parada para respirar, o que em um mundo tão turbulento quanto o nosso é uma ideia bem apreciada.

Se você gostou do que leu ou se está a fim de uma aventura relaxada e acalentadora, não acho que vai se arrepender de jogar Europa, e se ainda estiver na dúvida, tem uma demo que deixa você experimentar um pouquinho e ver se o jogo te apetece. De qualquer forma, diria para você pelo menos adicionar à sua lista de desejos.

 

Simples e relaxante, Europa é uma experiência que dá a sensação de estar lendo um livro de conto de fadas ou assistindo um filme como Serviço de Entregas de Kiki ou Nausicaä do Vale do Vento, e é um jogo de aventura com breves puzzles e plataforma que é leve como uma brisa. Não é muito longo e não é muito desafiador, mas não é como se estivesse tentando ser nenhuma dessas coisas: É apenas um passeio relaxante e bem mágico por um universo cheio de cor e vida ao som de uma música suave e narração acalentadora.

Leia também

Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm