Análise: Indiana Jones e o Grande Círculo - Neo Fusion
Análise
Indiana Jones e o Grande Círculo
16 de dezembro de 2024
Jogamos Indiana Jones e o Grande Círculo no PC com uma chave fornecida pela Bethesda Softworks

Desenvolvido pela MachineGames, Indiana Jones e o Grande Círculo pode ser facilmente considerado como uma das melhores surpresas que 2024 teve a oferecer ao mundo dos games. Muito disso se deve ao fato de que os materiais promocionais do jogo, bastante focados na ação, não representam muito bem o que ele é.

Enquanto a nova aventura, já disponível para PC e Xbox Series X|S (e futuramente no PS5) tem seus momentos de porradaria e tiroteios, eles não são o foco da experiência. Na prática, o que temos em mãos é um jogo de exploração e resolução de quebra-cabeças com um ritmo cadenciado e que, justamente por isso, faz bastante justiça ao material que lhe serve como fonte.

Indiana Jones e o Grande Círculo surpreende pela não-linearidade

Após uma introdução que reencena a abertura do filme O Templo da Perdição (1984), é possível dizer que Indiana Jones e o Grande Círculo começa realmente a partir do momento em que vamos para o Vaticano. O protagonista é levado ao local por uma figura misteriosa que invadiu o museu no qual ele trabalha e rouba uma múmia de gato que esconde dentro de si uma revelação inesperada.

A partir desse momento, o game inicia uma grande investigação que acontece de forma relativamente não linear em um mapa com características abertas. Enquanto o título sempre dá uma indicação de onde você deve ir e quais tarefas são importantes, ele também oferece a liberdade de investigar os ambientes na ordem que você deseja.

Um de seus primeiros objetivos no Vaticano, por exemplo, é chegar até os correios para encontrar uma câmera. No entanto, dá para ignorar isso e passar um bom tempo vasculhando telhados, abrindo passagens secretas e entrando onde você não deveria ir para buscar itens ou artefatos escondidos.

O que limita nossa movimentação em Indiana Jones e o Grande Círculo são alguns elementos ligados à história (os esgotos da cidade só se tornam acessíveis após iniciar uma missão específica, por exemplo) e o tipo de roupa que Indy está usando. Como a aventura se passa em locais repletos de fascistas italianos e nazistas alemães, não dá para que o personagem circule livremente sem chamar atenção.

Assim, é sempre uma boa ideia procurar nos ambientes por disfarces que façam com que ele passe batido pela maioria de seus inimigos — com exceção de capitães, que conseguem identificar quem o protagonista é. O sistema funciona de forma semelhante à série Hitman, mas de forma mais livre: além de Indy poder carregar vários disfarces ao mesmo tempo, seus “comportamentos estranhos” não vão chamar a atenção de NPCs.

Caindo no soco

Nos momentos em que usar roupas específicas para se infiltrar em um ambiente não é mais uma opção, o jogo tem um sistema de ação que lembra um pouco os Wolfenstein da MachineGames. Isso significa que aqueles que souberem jogar de maneira furtiva vão ter a vantagem, podendo eliminar inimigos um a um sem chamar a atenção das forças que patrulham determinada área.

Por outro lado, quando a ação se torna iminente, ela tem muito menos tiroteios do que os jogos anteriores do estúdio — embora eles existam e se tornem mais comuns nas partes avançadas da história. Indiana Jones e o Grande Círculo é um game que aposta muito nos combates corporais, convidando os jogadores a usarem os objetos como vassouras, garrafas e frigideiras espalhados pelos ambientes para facilitar esse trabalho.

Quando essa não é uma opção, Indy se mostra bastante competente na trocação de socos, embora seu fôlego inicial não seja dos maiores. Felizmente, seus oponentes também não são tão intensos assim, e dominar os aparos e esquivas para abrir suas defesas é algo relativamente simples e que ajuda a passar por esses desafios.

No entanto, não dá para dizer que o sistema de combates é bom, ficando mais em um nível meramente competente. Quando há mais de um oponente a encarar de uma só vez, muitos dos sistemas mais básicos (como aparar) não funcionam bem, e não é incomum ver inimigos “atravessando” os demais enquanto partem para cima do protagonista.

Ao mesmo tempo, é relativamente fácil abusar da inteligência artificial de Indiana Jones e o Grande Círculo, seja usando a tática “correr, bater, fugir, repetir” ou usando pequenas elevações para fugir da vista de inimigos e cessar perseguições. Enquanto muito disso faz sentido para não tornar a experiência exageradamente difícil, ainda assim é negativo ver o quanto o sistema de combates “quebra” quando se exige um pouco mais dele.

Foco em quebrar a cabeça

Felizmente, o foco de Indiana Jones e o Grande Círculo não é no combate, mas sim na exploração e na resolução de puzzles. E, nesse sentido, o jogo da MachineGames brilha ao apresentar mistérios bem escondidos e até mesmo ligeiramente fantasiosos, mas que cabem muito bem dentro do universo da série.

Ainda usando o Vaticano como exemplo, uma das primeiras tarefas que precisamos cumprir é entrar em uma ruína antiga, cujo acesso está localizado dentro de uma igreja. Usando pistas encontradas no ambiente e em documentos, não demoramos muito a descobrir que o segredo para acessá-la é jogar vinho em um recipiente específico.

Logo em seguida, a ideia é explorada de forma mais intensa por outro puzzle, antes de dar lugar a quebra-cabeças que envolvem pressionar painéis em ordem específica ou iluminar certas áreas do ambiente. Nenhum desafio é ilógico ou impossível, mas muitos trazem uma dose generosa de dificuldade e exigem conseguir examinar e interpretar bem elementos do ambiente ou documentos obtidos nas proximidades.

E o melhor é que Indiana Jones e o Grande Círculo não reserva todos os seus quebra-cabeças somente às suas missões centrais. Vasculhando bem os ambientes, não é incomum encontrar pequenos desafios — como uma prateleira com livros com títulos suspeitos — que rendem desde artefatos raros ou dinheiro quando são concluídos.

O mais interessante de tudo é que, ao menos na dificuldade mais básica, o título não pega em sua mão em nenhum momento — mas é possível ligar sistemas de auxílio caso você assim deseje. Essa é uma característica que inclusive vai além dos puzzles e se traduz para a exploração: foi somente após mais de 8 horas andando pelo Vaticano que descobri onde ficava a vendedora de livros, localizada em uma curva que eu simplesmente não havia prestado atenção até então.

Indiana Jones e o Grande Círculo vale a pena?

Misturando furtividade, exploração, quebra-cabeças intrigantes e uma história que envolve uma grande caçada ao tesouro, o novo título da MachineGames justifica a boa fama que o estúdio acumulou nos últimos anos. Realmente respeitando o espírito de seu protagonista, Indiana Jones e o Grande Círculo é facilmente um dos melhores jogos de ação e aventura de 2024.

Embora tenha tido meus problemas com o sistema de combate e com a transição de algumas cenas entre primeira e terceira pessoa, o game em geral é muito competente em tudo que se propõe. Caso você entre no espírito da aventura e investigue com calma todos os ambientes e desafios oferecidos, as recompensas obtidas por fazer isso são grandes e muito satisfatórias.

O maior problema de Indiana Jones e o Grande Círculo é realmente seus materiais promocionais, que indicam uma experiência muito mais direcionada à ação do que a verdade. Muito focado na descoberta e no pensamento cuidadoso, o título é daquele tipo de experiência à qual você mal pode esperar para voltar após o fim de uma sessão de jogo.

Leia também

Análise
Neon Blood
6 de dezembro de 2024
Análise
Fantasian Neo Dimension
POR
4 de dezembro de 2024

Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm