Análise: Star Overdrive - Neo Fusion
Análise
Star Overdrive
22 de abril de 2025
Código do jogo, na versão de Nintendo Switch, fornecida pela publisher

No meu primeiro texto aqui no Neo Fusion, falei de Tchia – um jogo indie de mundo aberto que era ambicioso mas se aventurava em coisas demais ao mesmo tempo, e acho interessante que desde aquele texto, não encontrei muitos (ou mesmo um só) jogos de mundo aberto indie. Considerando a popularidade do gênero, em ascensão desde a época do PS3, e com jogos até como Sonic trazendo suas próprias versões desse tipo de jogo, pensei que mais desenvolvedores indie tentariam lançar suas próprias versões disso. Talvez o gênero esteja saturado demais, ou talvez esse tipo de jogo simplesmente peça demais de um pequeno estúdio indie.

Considere-me surpreso então quando me é apresentado por coincidência Star Overdrive, um jogo de mundo aberto indie feito pela Caracal Games, um estúdio italiano de apenas três pessoas, que promete uma viagem por um planeta desconhecido a bordo de uma prancha de hoverboard, ao estilo de Marty McFly. Casualmente fã desse tipo de jogo, e bastante empolgado por mais uma tentativa da cena indie de trazer sua própria versão desse gênero, resolvi embarcar – e ao final dessa viagem, tenho opiniões mistas. Então vamos discutir a respeito.

Se lançar a um deserto cheio de metal e minerais a alta velocidade parece bom.

AO INFINITO E ALÉM (DO LIMITE DE VELOCIDADE)

Em Star Overdrive, você controla um personagem chamado BIOS, espacialmente naufragado em um planeta chamado Cebete em busca de sua companheira sumida, NOUS, e você faz isso utilizando sua prancha de hoverboard para desbravar os ambientes desérticos de Cebete em alta velocidade. A exploração vai te levar a várias máquinas abandonadas e áreas de mineração esquecidas do planeta que podem guardar segredos como matéria-prima abundante, fitas cassete que te contam um pouco mais sobre o que aconteceu em Cebete e até algumas melhorias que podem te ajudar a progredir no mapa. As fitas cassete estão bem espaçadamente espalhadas, e em alguns casos essas fitas e certas gravações de áudio eram essencialmente a recompensa por exploração, seja ela opcional ou obrigatória, mas o tom de mistério de Star Overdrive é bem convidativo, e como uma pessoa curiosa, me senti envolvido procurando descobrir o que aconteceu naquele planeta e qual o paradeiro de NOUS.

Sua prancha de hoverboard é o seu meio de transporte principal, e dado que sua corrida a pé é bem lenta, você provavelmente estará usando a prancha a qualquer momento disponível. Montar e desmontar da prancha a qualquer momento é relativamente simples, e no início, o uso dela ainda vai ser bastante limitado – você não vai conseguir atravessar superfícies aquáticas, e qualquer chão metálico vai drenar a energia da sua prancha rapidamente – mas com um pouco de exploração, você consegue encontrar matéria-prima de diferentes tipos para tunar a sua prancha de diferentes maneiras com placas, motores, asas ou propulsores usando as estações de tratamento diferentes. Com o tempo, a sua prancha acumulará poeira e sujeira, deixando ela um pouco menos eficiente, mas além das melhorias práticas você pode usar esses materiais para customizar o visual de sua prancha com novas cores, novos desenhos e novos símbolos, deixando a prancha do jeito que você gosta – e cada vez que você customiza, esses ônus de uso vão ser eliminados, unindo perfeitamente a customização com uma mecânica básica, que não só te incentiva a exercer sua criatividade como faz todo o sentido.

Existe uma recomendação ao que você deveria priorizar, mas se você escuta isso ou não é escolha sua.

 

Seu meio de transporte permite que você atravesse Cebete relativamente rápido, e enquanto inicialmente a velocidade pode não ser o suficiente, você pode fazer truques e manobras simples com o analógico direito ao se lançar de um morro ou inclinação, e esses truques vão te dar um impulso de velocidade quando você encostar no chão (parecido com Crash Team Racing, se você já tiver jogado), criando um fluxo bem gostoso de pular e fazer manobras enquanto você tenta chegar no seu próximo destino, e do meio para o fim do jogo a velocidade que você consegue alcançar é muito estimulante, similar ao anteriormente mencionado Sonic Frontiers. É só uma pena que Cebete não tenha muito o que explorar, e que vários cantos acabem sendo bem vazios. A matéria-prima para melhorias é suficientemente abundante, mas de forma concentrada junto a pequenos grupos de inimigos ou próxima a algumas áreas de interesse, então durante a exploração você vai se distrair apenas pelas manobras que pode fazer (ou até enjoar delas), e pelo raro e ocasional desafio de coletar orbes flutuantes ou passar por vários checkpoints em um certo tempo.

Falando dos inimigos, o seu combate se dá usando o seu fiel keytar – um sintetizador quase igual a um teclado, mas no formato e meio de segurar de uma guitarra, um instrumento famoso que é o puro suco dos anos 80, e se eu fechar os olhos eu quase consigo escutar um ao longe. Você tem um breve combo de três golpes, como é o esperado, um contra-ataque contextual e, mais importante de tudo, seus poderes – algo que você desbloqueia em específicas minas, o equivalente aos santuários de Breath of the Wild ou as dungeons de Skyrim. Os poderes são capturados por pequenas fitas cassete encontradas nessas minas, e elas são poderes como segurar e arremessar objetos, criar uma plataforma em sua frente para pular, um projétil básico e coisas como ligar dois organismos um ao outro, também similar aos poderes da Sheikah Slate ou braço de Breath of the Wild e sua sequência. Esses poderes são sobretudo usados para resolver alguns quebra-cabeças durante a exploração e algumas vezes podem ser usados para ajudar a destruir alguns inimigos – você pode arremessar um inimigo menor em um robô maior, por exemplo, ou simplesmente atirar neles com os projéteis (algo que alguns inimigos te obrigam a fazer por saírem correndo).

Arremessar uma coisa na outra resolve o problema 90% das vezes.

 

Existe uma boa variedade no combate, é uma pena que ele seja um tanto “solto” demais. Cada golpe de sua keytar quase não tem impacto, e como a movimentação a pé de BIOS é muito lenta, assim como seus pulos, a sensação que o combate dá é que você está em gravidade muito baixa, o que pode até fazer sentido dado que estamos em um planeta tecnicamente alienígena, mas isso não faz do combate satisfatório. O combate em si é algo que dá a sensação de ser bem secundário, e os poderes que você adquire podem mitigar algumas dores de cabeça – e nada te impede de simplesmente pegar inimigos e jogar uns nos outros ou para longe, o que pode ser satisfatório – mas quando você tem que combater alguns inimigos para progredir, é no mínimo desinteressante e no máximo frustrante. Não ajuda que os projéteis de alguns inimigos são extremamente rápidos e alguns deles precisam ser combatidos de uma maneira bem específica.

O combate do jogo brilha um pouco mais quando ele está atrelado à mecânica principal, que é surfar na velocidade da luz com sua prancha, o que é utilizado para os encontros climáticos da aventura. A ideia de perseguir um alvo gigante ou muito rápido enquanto você tenta encontrar uma abertura para atacar é bem estimulante e divertida de fazer, mas ainda existiram algumas oportunidades fortemente perdidas – No caso do primeiro chefe, por exemplo, você tem que chegar próximo à cabeça de um monstro gigante (parecido com os vermes de areia de Duna, ou os Moldugas de Zelda, para comparar a alguma coisa), e o jogo dá a entender que você precisa acelerar o máximo possível para conseguir chegar à cabeça e atacar, mas na verdade, você só tem que acompanhar o monstro até lugares específicos para atacar quando o contexto permite, e tentar acelerar mais do que o necessário vai te desacelerar imediatamente sem cerimônia, transformando o que era uma batalha cheia de adrenalina que dependia da sua habilidade em um jogo de esperar até o jogo te dizer para apertar um botão, tirando bastante da animação do momento.

O potencial era muito, mas infelizmente a batalha é só um jogo de esperar.

O POTENCIAL É IMENSO, MAS MAIS RESERVADO AO FUTURO

É de cortar o coração: Dá pra perceber que Star Overdrive foi feito com amor e carinho – a narrativa é interessante de se acompanhar, a movimentação na prancha é satisfatória e deixa os ambientes vastos e bonitos bons de se explorar, e o jogo tem muito estilo, mas o jogo simplesmente não consegue alcançar seu verdadeiro potencial ainda. Os breve quebra-cabeças são muito simples e em alguns casos demoram mais do que deveriam, o combate é raso demais e momentos que o jogo devia brilhar como a exploração e as batalhas climáticas que unem a exploração ao combate não chegam ao que deviam ser dado ao fato que não existe muito conteúdo secundário para fazer e as batalhas são muito automáticas. Em alguns casos, encontrei fitas cassete que me trouxeram músicas de um legítimo álbum feito para o jogo, completo com um QR Code para acessar as músicas fora do jogo, e essas músicas são muito boas, mas explorar ficou tão maçante por ter ambientes tão vazios que eu parei de me importar depois de um certo tempo.

Por fim, Star Overdrive não tem muito tempo de duração: Dependendo de quem você é, pode demorar em torno de 6 a 10 horas para terminar o jogo, e enquanto eu não me importo muito de um jogo ser curto (e prefiro um jogo curto com conteúdo mais deliberado do que um jogo longo com colecionáveis que foram copiados-e-colados sem necessidade), algumas pessoas podem se decepcionar dado que jogos de mundo aberto tendem a ser bem mais longos e cheios de coisas opcionais.

Alguns desafios são corridas lembrando um pouco Tony Hawk ou até Bomb Rush Cyberfunk.

 

Não acho correto dizer que meu tempo com Star Overdrive foi ruim, eu me diverti com algumas coisas, mas fico mais animado em pensar sobre um futuro do que olhar para o que temos agora. Potencial existe aos montes, e Star Overdrive mostra claro interesse em continuar a jornada de BIOS, algo que espero que realmente vire realidade: Se tivermos um mundo com mais coisas para explorar, mais minas, mais desafios e combate um pouco mais envolvente, tenho certeza que a próxima jornada de BIOS vai ser um jogo indie digno de ficar ao lado de grandes open worlds famosos, mas isso não é exatamente um elogio ao jogo que temos agora, não é mesmo?

Se você curtir o gênero e estiver sempre procurando o próximo mundo aberto para explorar, e estiver a fim de algo um pouco mais compacto e direto ao ponto, Star Overdrive pode ser o que você está procurando, e não vai pedir muito da sua carteira; Mas talvez seja mais interessante seguir a Caracal Games e ficar de olho se teremos um próximo projeto daqui a alguns anos se você quiser algo um pouco maior. De qualquer forma, é interessante ao menos colocar na sua lista de desejos para dar uma olhada no potencial desse diamante bem bruto.

Por fim, o QR Code do álbum – fica aqui a recomendação!
Star Overdrive é um jogo ambicioso e cheio de estilo que mostra que os indies também conseguem fazer essas grandes aventuras, mas infelizmente acaba sendo um pouco vazio demais e bem impolido. Entre as longas partes desérticas sem muito a explorar, o combate descuidado sem nenhum impacto e algumas seções que são bem mais automáticas do que deveriam, existe um jogo com bastante personalidade e uma narrativa interessante de se explorar, que é familiar e única; Dito isto, o apelo pode ser reservado unicamente a fãs de mundo aberto que estão OK com um jogo sem tanto para explorar e que gostam da ideia de fazer manobras em seu "skate" em um planeta deserto.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm