Análise: Splatoon 2 - Neo Fusion
Análise
Splatoon 2
5 de outubro de 2017

Enquanto Mario Kart 8 Deluxe talvez seja o jogo first-party que melhor aproveita cada característica de hardware do Switch, Splatoon 2 encontra-se na outra extremidade desse espectro. Isso é curioso porque ambos são fortemente derivados de títulos do Wii U, mas a nova versão de Splatoon é de fato um novo jogo, não apenas um relançamento.

A verdade é que o Switch não foi desenvolvido para ser a melhor plataforma para jogos de tiro competitivos, mas Splatoon 2 é um jogo excelente apesar disso. A proposta, basicamente a mesma do Splatoon original, continua divertida e, como o próprio jogo gosta de dizer, fresca. Para alguém que, como eu, não se interessa tanto por jogos online competitivos, a temática colorida e as mecânicas diferenciadas são essenciais para preservar a empolgação por mais do que algumas partidas.

Controle territorial

O modo principal de Splatoon 2 é o multiplayer competitivo. De forma geral, o que encontramos no Switch é uma revisão do jogo de Wii U, com alterações geralmente pequenas, mas às vezes bastante notáveis. Muitas das armas do primeiro jogo estão de volta, porém com diferentes combinações de armas secundárias e especiais. Todos os especiais presentes aqui são novos; de forma geral, eles são menos devastadores do que no primeiro jogo, tornando seus usos mais justos, mas, ao mesmo tempo, um pouco menos recompensadores.

As fases, em sua maioria, são novas. Assim como no primeiro jogo, a seleção inicial é restrita e é esperado que a Nintendo lance novas fases como DLC gratuito ao longo dos próximos meses. Novamente, as fases existem em uma rotação: em um determinado momento, apenas duas fases estão disponíveis para jogar, e o jogo sempre sorteia uma das duas para as batalhas. Em partidas regulares, o modo de jogo é sempre o tradicional Turf War; já em ranked, três modos (os mesmos de Splatoon) são rotacionados junto com as fases. A única diferença aí é que a rotação agora dura duas horas ao invés de quatro.

Muitas pessoas criticaram o primeiro jogo pelo uso da rotação, mas, na minha opinião, é uma das escolhas mais acertadas de Splatoon. Ser forçado a jogar várias vezes seguidas nas mesmas duas fases é uma forma de aprender melhor as nuances de cada uma e descobrir quais armas e estratégias são mais adequadas para elas (porém, a impossibilidade trocar de arma sem sair da sala de espera pode atrapalhar isso). Em alguns casos, fases que eu inicialmente detestei passaram a ser divertidas, simplesmente porque o jogo me incentivou a melhorar nelas através da repetição.

Isso também garante que todas as fases e modos sejam jogados de forma mais ou menos uniforme. Lembro bem de quando eu comprei Star Wars: Battlefront em 2015 e, poucos dias após o lançamento, era impossível encontrar partidas em diversos dos modos secundários. Em Splatoon, para jogar um modo específico em uma fase específica, eu preciso aguardar até a combinação aparecer na rotação mas, pelo menos, há a garantia de que vou conseguir encontrar partidas quando isso ocorrer.

De forma geral, jogadores bons de Splatoon continuarão bons em Splatoon 2. A maioria das técnicas e estratégias continuam válidas na continuação, especialmente quando conseguimos reunir amigos e montar estratégias de equipe. Novas armas e especiais com certeza afetam o metagame, mas não ao ponto de um veterano ter dificuldades de se adaptar.

A invasão dos salmões!

A maior adição de Splatoon 2 é seu modo cooperativo, Salmon Run. Baseado nos modos de horda de outros shooters, Salmon Run é cheio de ideias criativas que com certeza deixam a marca Nintendo no estilo. Com até três outros jogadores — amigos ou estranhos —, somos encarregados de impedir invasões de criaturas “peixosas”, os Salmonids. A cada Salmonid derrotado, recebemos alguns pontos e, ao derrotar os maiores deles, podemos coletar seus ovos para colher as recompensas.

É um modo extremamente divertido (e, na economia do jogo, lucrativo). As primeiras partidas podem parecer trivialmente fáceis, mas rapidamente a dificuldade escala e nos encontramos suando para combater os peixes. Como grande fã de multiplayer local, uma das minhas melhores experiências com Splatoon 2 foi me juntando a dois amigos, cada um com uma TV na mesma sala, rindo e gritando enquanto lutávamos contra os salmões.

Mas, como a Nintendo é a Nintendo e a Nintendo faz Nintendices, é claro que há um porém. Salmon Run só está disponível algumas horas por dia; quais e quantas horas depende do dia da semana. Por quê? Segundo a Nintendo, é para que o modo sempre tenha atividade enquanto está ativo. Ao meu ver, é como uma escassez artificial do modo. Considerando o quanto ele é divertido, imagino que ele seria ativo todos os dias, o dia todo. Atualmente, só é possível jogar em qualquer horário no modo local; mas isso também exige amigos e Switches presentes no mesmo lugar, que não é o ideal para um jogo com foco em online. Pelo menos, após críticas, a Nintendo atualizou o cronograma de Salmon Run para deixar o modo disponível com mais frequência.

E o tal do híbrido?

Uma característica muito peculiar de Splatoon 2, se tratando de um jogo de Switch, é que não há muito o que se fazer nele sem uma conexão com a internet. Podemos jogar os modos multiplayer, inclusive Salmon Run, usando conexão local com vários Switches, mas, atualmente, não é tão simples encontrar sete (ou mesmo três) amigos com Switches e cópias do jogo no mesmo lugar.

Mesmo com internet, não é particularmente recomendável jogar Splatoon 2 com o Switch em modo portátil. Eu, pelo menos, achei incômodo usar os controles de movimento, que exigem rapidez e precisão, enquanto seguro o console inteiro. Separando os controles da tela, a experiência é mais tolerável, mas ainda não se compara à TV com um Pro Controller. Considerei desativar os controles de movimento para jogar em modo portátil, mas a perda de precisão é grande demais.

Na falta de amigos e Switches em abundância, resta apenas a campanha single-player. Novamente, o que encontramos nela é uma evolução estritamente iterativa do que havia no primeiro Splatoon. A premissa é a mesma — o Great Zapfish foi capturado e precisamos invadir a base dos maléficos Octarians para resgatá-lo. Há alguns pequenos twists nessa premissa em alguns momentos, mas o objetivo geral da campanha ainda é dar espaço para nos familiarizarmos com as mecânicas do jogo.

Para essa tarefa, de fato, a campanha do segundo jogo é muito mais bem sucedida do que a do primeiro. Em diversas fases, é exigido que usemos armas específicas; uma oportunidade para aprendermos a lidar com aquelas que raramente usamos no multiplayer. Às vezes é irritante ter que usar uma arma que não gostamos, mas, muitas vezes, as fases são construídas ao redor das peculiaridades da arma em questão.

As fases têm claras influências da série Mario e, em particular, dos dois Super Mario Galaxy. Cada uma é uma sequência de plataformas flutuantes e, ao final de cada uma, há um ponto para nos lançarmos em direção à próxima plataforma. Entre uma plataforma e outra, combatemos inimigos, resolvemos puzzles e, é claro, pintamos muito chão. No bom estilo Mario, grande parte das fases focam em alguns gimmicks (que nem sempre encontramos no multiplayer) e fazem um bom trabalho em introduzir e expandir cada conceito.

No entanto, apesar de seguir quase ao pé da letra as regras de bom game design, eu sempre acho que tem algo faltando na campanha, mas tenho dificuldade em apontar o quê. Provavelmente é uma falta de conexão entre as fases de fato e o progresso da narrativa simples que o jogo passa; sinto que as fases poderiam acontecer em praticamente qualquer ordem sem grandes consequências. Elas também não são particularmente desafiadoras: só fui descobrir que o jogo tem um estado de game over quando enfrentei o último chefe.

Problemas antigos com cores novas

Infelizmente, Splatoon 2 continua com muitos dos problemas de qualidade de vida do primeiro jogo. Se eu estiver jogando uma partida regular, um amigo pode se juntar à partida de maneira simples, mas não há forma de garantir que ficaremos na mesma equipe. No modo ranked? Nem há a opção de se juntar ao jogo de um amigo. Após entrar em uma sala de espera, ficamos presos lá; não há forma de alterar equipamentos nem de sair da sala (exceto forçando uma desconexão do Switch). A Nintendo lançou o aplicativo para celular que permite comunicação por voz, mas seu uso é tão difícil e limitado que, no fim das contas, jogadores optarão por usar Skype ou Discord como sempre. E, para completar, o jogo não conta com servidores dedicados e o algoritmo de conexão opera em uma frequência mais baixa do que no original1.

Tudo isso soa particularmente estranho para mim. As decisões esquisitas em relação ao online sempre estiveram entre as principais críticas ao primeiro Splatoon e, com esta continuação, a impressão que temos é de que ninguém da Nintendo leu uma análise do jogo.

Ainda por cima, há uma falta de sintonia entre o jogo e o console. Novamente, apesar das reclamações sobre isso com o Wii e o Wii U, o Switch permanece sem uma porta ethernet inclusa, e dependemos de acessórios caros e difíceis de encontrar para transformar as portas USB em ethernet. A vantagem é que é possível fazer partidas locais usando apenas a comunicação sem fio do Switch, mas não sei até onde isso seria viável em uma competição séria cercada de uma infinidade de dispositivos sem fio.

A única conclusão que posso tomar é que Splatoon nunca vai ser um grande eSport como a Nintendo parece querer. O Switch não foi desenvolvido com isso em mente e, cada vez mais, parece que Splatoon 2 também não. A Nintendo diz que quer deixar a comunidade crescer por si só, e até aí tudo bem; ela não precisa fornecer prêmios milionários para pessoas quererem competir. O problema é que Splatoon carece das ferramentas necessárias para competitividade real nos níveis técnicos. Alguns desses problemas podem ser corrigidos por atualizações (espero que a Nintendo não planeje cobrar por um online sem servidores dedicados); outros não.

"Apesar" é a palavra-chave quando se trata de Splatoon 2. O jogo tem diversos problemas que, sinceramente, deveriam ter sido corrigidos nos dois anos que se passaram entre o original e a continuação. Apesar disso, a base divertidíssima de jogabilidade e a incrível quantidade de estilo e carisma do jogo fazem dele mais um membro da lista de jogos obrigatórios para donos de Switch.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm