Relato: Villager de primeira viagem em New Horizons - Neo Fusion
Relato
Villager de primeira viagem em
New Horizons
27 de agosto de 2020

O contato com Animal Crossing: New Horizons marcou minha primeira vez com a série, mas muito antes de jogar algum título dela pude ouvir diferentes pontos de vista sobre. Há quem ame de paixão, e há também algumas pessoas dificultadas de embarcar muito na “pira” de AC por sentir a falta de um propósito. Após sei lá quantas dezenas de horas, e contando, dei-me o direito de esboçar uma resposta sobre o propósito no jogo.

O primeiro é descobrir. Ao entrar em contato pela primeira vez, a questão inicial é até mesmo conhecer os personagens. Claro, eu já sabia de Isabelle e Tom Nook, e eventualmente havia visto alguma coisa do K.K ou do Blathers, mas não conhecia absolutamente nenhum possível morador. Assim, meus próprios companheiros iniciais da ilha eram uma novidade pra mim. Falarei deles mais pra frente.

Coube descobrir, sobretudo, como Animal Crossing funciona. Quais são as ações possíveis, quais atividades o título nos deixa realizar e participar. Nesse sentido, as descobertas se estendem por um vasto período de tempo. No começo pude entender como interagir com o ambiente; o que é possível transformar e o que é “apenas” visual. Ver, na prática, como meus instrumentos funcionam e qual uso posso dar para os frutos do meu trabalho com eles.

Aí começamos a trazer novos moradores e conhecer as lojas e funcionalidades da ilha. Há o momento de descoberta do famigerado Mercado de Nabos, e toda a correria envolvendo mensagens, ligações e súplicas nas redes sociais. Descobrimos, inclusive, a possibilidade de conhecer pessoas reais nesse processo.

As descobertas se sucedem ao longo das estações; às vezes vendo um besouro rola-bosta pela primeira vez no inverno, coisa singela. Em alguns momentos é coisa mais interessante; como, após uma atualização, conhecer o Redd e suas mercadorias de origem duvidosa. New Horizons deve representar uma jornada de reencontro para os fãs antigos, mas para gente aqui de forma inédita, o começo é recheado de descobertas. Enquanto descobrimos, também vamos entendendo outro ponto central.

O segundo propósito é customizar. Aos poucos, temos acesso a ferramentas e equipamentos para deixar a ilha e nossa casa da forma desejada. Há toda uma discussão de como a série foi caminhando no propósito de dar mais poderes ao jogador. Eu a acompanhei apenas como ouvinte, pelo menos até agora, mas destaco que, para algumas pessoas, Animal Crossing é melhor quando propõe ao jogador se encaixar em um espaço, conhecer uma comunidade e encontrar ali o seu lugar.

New Horizons, visto desse prisma, deve decepcionar. Nele, o essencial é organizar a ilha da forma desejada. Não apenas essencial, como essa é a atividade geradora de mais tempo de jogo, bem como do loop de jogabilidade. Eu, particularmente, adorei a primeira grande reforma da ilha, e estou adorando fazer a segunda. Mas também conheci Animal Crossing a partir dessas interações.

Sendo assim, construir sua ilha e receber amigos é das coisas mais interessantes. Soma-se a isso a recente adição do mundo dos sonhos, e temos um ambiente de visitas e troca de ideias. Ora, em março eu estive viciado em ver canais no YouTube dedicados a mostrar as mais diferentes e temáticas ilhas. Há muita coisa interessante por aí.

Talvez o advento desse foco na customização tenha algum reflexo no terceiro propósito do jogo: conviver. Acima, comentei dos primeiros moradores de minha ilha. No meu caso foram Diva e Roald, e nenhum dos dois está hoje lá. Alguns foram, outros chegaram, e após plurais fluxos a configuração atual traz Bettina, Sandy, Skye, Zucker, Zell, Curlos, Grizzly, Canberra, Angus e Cookie.

Conviver e conhecer cada villager é uma proposta das mais empolgantes. É possível ir descobrindo mais sobre eles, entre gostos e preferências. Ao longo do tempo temos algumas conversas ou presenciamos dois deles falarem entre si. Para mim, entretanto, isso apareceu como uma proposta problemática de New Horizons, e talvez isso tenha ocorrido por uma mudança de foco (a qual eu nem sei se de fato ocorreu).

Esperava por algumas mudanças na relação com eles. Que se não houvessem arcos para cada um (o ideal), pelo menos identificar alguma mudança ao longo do tempo. Vejo, porém, as mesmas interações se repetirem, seja em conversa direta comigo ou com outros moradores. Nessa toada, as cartas enviadas por eles acabam sendo a parte mais fofa e honesta da experiência, mas elas pouco têm conexão com qual personagem de fato está mandando.

Mas esse problema encontra algum antídoto em um outro ponto: o principal propósito em New Horizons é imaginar. Eu posso fantasiar e criar histórias paralelas para meus companheiros de ilha. O que me impede? Essa propensão a usar a imaginação é algo essencial aqui. Pensemos em The Sims. Nele, decoramos nossas casas e compramos utensílios. Além de serem parte da decoração, é possível interagir com uma pluralidade deles, gerando prática e pontos para algum atributo social.

Animal Crossing não tem dessas. O item é visual, não gera nenhum tipo de ponto ou experiência. Ainda bem, aliás. Customizei um campo de futebol e, embora seja possível chutar bolas de neve, ele existe apenas como uma representação imaginada de algo utilizado. Eu não jogo, nem vejo os villagers jogando. Mas, para mim, Sandy, Canberra e Curlos batem uma bola ali sempre que possível. Depois, os três lançam um churrasquinho ao som do samba do K.K na vitrola.

Essa relação se espalha por toda a ilha e pela própria casa criada. Eu não uso o fogão, mas imagino usar. Eu não uso a máquina de costurar, mas imagino minha personagem usando. De mãos dadas, vem um propósito que também acredito ser central: criar.

Como podemos receber amigos na ilha, a própria torna-se um espaço de criação e proposição de atividades. Caçadas ao tesouro, labirintos, entrevistas, desfiles de moda e brincadeiras de variados tipos podem surgir. Em meu paraíso tropical, deixei toda uma área para ser um espaço rotativo destinado aos visitantes. E é divertidíssimo pensar como usar mecânicas, terrenos e objetos do jogo para criar algo.

Meu próximo objetivo é fazer adaptações de peças teatrais ou histórias de jogos através de um teatro de reactions; já intitulado Commedia Dell’Animal. Vamos ver se vai virar. Mas toda esse ímpeto em criar eventos e imaginar situações não foi suficiente para me impedir de ficar algumas semanas longe da minha ilha.

O inevitável(?) é esfriar. Talvez pela repetição de atividades, talvez pelos moradores não evoluírem em seus papos, talvez pela diminuição da galera jogando, talvez pelo lançamento de algum outro jogo. Eventualmente, creio eu, a relação com Animal Crossing esfria. As novidades não chegam tão rápido, e com o tempo também vamos descobrindo muita coisa dos anteriores ausentes nessa entrada da franquia.

Enretanto, assim como em estações, o frio dá lugar ao calor. O eventual é retomar. Voltar à ilha, aparar as coisas fora de lugar, os matos aqui e acolá. Reconectar com os moradores, pensar uma nova reforma. Os updates vão continuar aparecendo, e imagino muita gente tendo uma relação sazonal com New Horizons. Ir e voltar quando possível.

Não ver propósito em Animal Crossing não é um problema pra mim. Vejo a discussão nesses termos, inclusive, como algo problemático para videogames. É óbvio que há muito a se fazer aqui, seja em uma sessão concentrada durante um mês e nunca mais voltando, seja retornando sempre que possível ou até mesmo checando a ilha todo dia, dez minutinhos de cada vez. O propósito, por sua vez, cabe ao ato de jogar e imaginar.

Leia também

Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm