Em determinado momento da indústria dos videogames, desenvolvedores e produtores de jogos decidiram que era chegado o momento no qual uma história contada por meio de consoles ou computadores deveria não só entreter, como também emocionar. Diversas ramificações foram surgindo, vindas em formato de novos títulos, e muitos deles calcados numa narrativa interativa que tivesse algum viés por trás disso. As histórias empáticas se tornaram cada vez mais comuns e ganharam destaque dentro da comunidade gamer. Os novos fãs que foram conquistados sempre esperam por mais uma novidade do gênero. Uma das empresas que vem fazendo isso — além de ser referência na arte de “tocar” emocionalmente — é a Dontnod Entertainment.
Muito provavelmente você já ouviu falar — se não tiver inclusive jogado — da franquia Life is Strange. Dois jogos muito bem recebidos pelos aparatos técnicos, mas principalmente pela proposta singular de contar uma história importante sobre alguém, algo, um lugar e como tudo isso colide entre si. O estúdio francês, que detém outros títulos familiares, como Vampyr e Twin Mirror, lançou em 2020 mais um acerto.
Vencedor da categoria Games for Impact no The Game Awards 2020, Tell Me Why é uma história sobre superação, perdão, aceitação e, sobretudo, traumas — e como todas essas coisas impactam nossas vidas. Situada na pacata Delos Crossing, cidade natal dos protagonistas no deserto gelado do Alaska, a aventura acompanha os passos dos gêmeos Alyson e Tyler, que investigam seu passado a partir de memórias que afetaram suas vidas de diversas formas. Tyler é um homem trans, o primeiro personagem transgênero jogável de um estúdio reconhecido internacionalmente. Isso significa demais. E a forma como esse e os demais assuntos são retratados ao longo dos três capítulos disponíveis é certeira e essencial para que você se apaixone por essas duas figuras.
Um dos pontos altos do jogo é, de fato, sua trama. O game cria uma aura intimista que torna o jogador passível de sentir as convicções dos personagens — principais e secundários — tal como entender de onde vêm suas motivações, vontades e limitações para agir de uma maneira ou outra em determinada situação. Um aspecto à parte muito bem explorado pelos desenvolvedores é a conexão única que os irmãos mantêm. É muito interessante observar a maneira como o jogo apresenta os sentimentos dos gêmeos a partir de sua relação mais que íntima, algo análogo ao que se conversa na vida real.
A ambientação desse local frio e isolado do Alaska no qual estão inseridos intensifica ainda mais isso. Outro aspecto que auxilia na mensagem e nos sentimentos que os dois passam é o uso das cores nas áreas que envolvem o desenrolar dos acontecimentos. Este é um jogo detalhista, que procura dar pistas sobre a vida de cada um não apenas pelo modo como respondem aos diálogos, mas pelos objetos que guardam em suas gavetas, por suas coleções particulares e pelo que os outros dizem sobre eles. Você pode não conversar com todos os personagens secundários, por exemplo, mas se você investigar bem achará o mínimo necessário para materializar como suas personalidade se comportam e o que move suas rotinas.
Com um bom uso de recursos de interação, Tell Me Why faz o dono do controle investigar cada canto dos mapas quando há a oportunidade. É possível interagir com diversos objetos, úteis ou não, mas que ajudam a fortalecer o vínculo com o personagem que controlamos. Além disso, é possível acessar textos em cartas, achar totens colecionáveis, ler diversos conteúdos em cartazes, panfletos e anotações e utilizar uma “ferramenta de memória” — que acessa algum tipo de informação importante, sendo indicada por luzes douradas ao redor da tela.
Embora essa fria imensidão nos cenários demonstre solidão, existem várias paisagens belíssimas, que minuciosamente — e talvez até indiretamente, dependendo da experiência de cada jogador — causam algum tipo de esperança para com o que os irmãos estão vivendo naquele momento. Talvez você gaste alguns minutos apenas admirando o ar puro do quintal ou a aquarela de cores no céu da noite de inverno. Esse é um jogo que sabe dizer muita coisa em pequenas ações, e é puro deleite prestigiar isso em tela.
Por outro lado, quando exploramos os espaços (algo quase automático), é possível encontrar algumas texturas não muito bem definidas, principalmente no chão coberto de neve e nas folhas das árvores, o que são detalhes, já que como um tudo o jogo entrega gráficos bem agradáveis — em especial a textura das roupas, como os jeans de Tyler. Algumas ações e decisões parecem não ter um impacto muito claro posteriormente e são até esquecidas, mas são de contar nos dedos de uma mão.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm