Análise: The Medium - Neo Fusion
Análise
The Medium
27 de janeiro de 2021
Cópia digital da versão de Xbox Series gentilmente cedida pela Microsoft.

A estratégia da Microsoft pode parecer estranha, mas, por uma infinidade de motivos, aconteceu que The Medium é o primeiro jogo notável lançado exclusivamente para a nova geração de consoles Xbox — o Xbox Series X e Series S. O jogo, desenvolvido na Polônia pela Bloober Team, não é um big budget AAA que demonstra tudo que é possível nas novas caixas da Microsoft, mas não deixa de ser um “indiezão” que aproveita os recursos disponíveis no hardware moderno para oferecer uma proposta ludonarrativa inédita.

Controlamos Marianne, uma médium capaz de se comunicar com o mundo espiritual — que não é o mundo dos mortos, mas uma realidade tangente à nossa onde almas perdidas ou com alguma missão inacabada na Terra ficam presas. Marianne usa seus poderes para ajudar essas almas a avançarem para qualquer que seja o próximo plano de existência. O jogo começa em Cracóvia justamente assim, com uma despedida espiritual ao recém-falecido pai adotivo de Marianne. Pouco tempo depois, a protagonista recebe um telefonema misterioso, dizendo para ir ao Niwa Resort, onde um evento horrível se conecta ao próprio passado de Marianne.

Importante notar: apesar da temática sobrenatural do jogo, eu não o classificaria terror. Não há um aspecto de sobrevivência nem um clima pesado de suspense para nos manter tensos, e boa parte dos fantasmas que encontramos são benignos e amigáveis. Dito isso, houve um ou dois jump scares durante a campanha.

Uma tela, duas realidades

O que distingue The Medium é que podemos controlar Marianne tanto no mundo material, quanto no mundo espiritual. Às vezes isso ocorre simultaneamente, outras há uma frequente alternância entre as duas realidades. Apesar de não ser o primeiro jogo a trabalhar com essa ideia, é impressionante quando a tela se divide e vemos duas versões completamente diferentes de uma estrutura de mundo, como se o console estivesse rodando dois jogos ao mesmo tempo.

Em termos de jogabilidade, isso é elaborado pela possibilidade de interagir com certos eventos e objetos apenas em um ou outro mundo, e o jogador deve estar atento a ambos. Raros são os puzzles que exigem muito raciocínio do jogador, mas não deixa de ser uma experiência divertida pela simples novidade apresentada. Nos seus piores momentos, encontramo-nos em um pixel hunt, pois devemos encontrar um pequeno objeto em um cenário grande para progredir, mas isso é raro.

Frequentemente, estamos apenas em um dos mundos, que não chega a ser chato mas é muito menos interessante do que a jogabilidade dividida ou alternada. Como o jogo é geralmente lento, a parte mais divertida para mim foi durante uma fuga, em que os mundos rapidamente alternam e devemos estar atentos a essas mudanças no nosso caminho.

Me preocupei ao ouvir que o jogo não teria opção para rodar a 60 fps no Xbox Series X, mas ao começar a jogar fiquei mais tranquilo vendo que a câmera fixa e os movimentos lentos quase sempre funcionam bem a 30 fps. O porém é que, pelo menos no estado atual, a engine sofre para manter essa taxa de quadros por segundo estável, particularmente quando a renderização é dividida entre os dois mundos. Visualmente, o jogo impressiona em certos momentos; obviamente não podemos esperar animações e texturas do nível Naughty Dog, mas nunca fica feio, e a direção artística forte mantém tudo consistente. As quedas de framerate e ocasionais glitches gráficos indicam que um pouco mais de polimento faria bem à obra (mas está longe de ser o jogo polonês mais necessitado de polimento atualmente, não é mesmo?).

Uma história sobre passado, presente e futuro

Com a jogabilidade meio walking simulator, meio point-and-click, muito do peso do jogo é sobre a narrativa. Felizmente, esta me agradou bastante, pois rapidamente gostei de Marianne e me prendi com o mistério do que aconteceu (e por que) no resort destruído. Também a fantasma Tristeza, apesar do nome, é uma presença divertida durante a jornada.

A história se desenvolve em parte pelas próprias ações de Marianne, mas também por objetos deixados para trás, que podem contar o passado com memórias presas dentro deles. A minha maior crítica é que vários dos personagens envolvidos nesse passado são homens e…nem sempre é claro se a voz ouvida é de Thomas, Richard, Henry ou outro, e portanto deixando um pouco difícil de entender onde certas memórias se encaixam no mistério.

Apesar disso muita coisa começa a fazer sentido à medida que progredimos, e os vilões que encontramos são partes conturbadas das almas desses personagens do passado, que assemelham-se a demônios com obsessões das piores. Apenas quando Marianne entendem as circunstâncias ao redor das vidas e mortes dessas almas, podemos despachar esses demônios e impedi-los de provocarem mais destruição na Terra.

A narrativa é linear, sem escolhas ou quebras que afetam a conclusão, mas ainda assim o final é bastante aberto a interpretação. Não vou elaborar detalhes para evitar spoilers, mas pode ser uma conversa a ser tida com outros amigos que jogaram.

The Medium não ilustra tudo que é possível nos novos consoles, mas apresenta um conceito que se aproveita do hardware novo e veloz. Como a história é linear e dura poucas horas, há pouca razão para revisitá-la, mas o jogo não deixa de ser uma experiência interessantíssima e recomendada, especialmente para assinantes do Xbox Game Pass.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm