Análise: Hitman 3 - Neo Fusion
Análise
Hitman 3
27 de janeiro de 2021
Hitman 3 foi fornecido pela IO Interactive para a realização dessa análise.

Uma experiência que se aproxima mais de acompanhar um livro dentro da mesma narrativa ou a estreia da nova temporada de sua série favorita: essa é uma definição que melhor descreve Hitman 3 do que apenas uma sequência de game tradicional. Desta vez, a IO Interactive não abandona ou revoluciona o que vimos nos capítulos anteriores da trilogia, mas apresenta a evolução natural de conceitos que aqui surgem de forma ainda mais refinada.

A desenvolvedora nos apresenta a uma nova seleção de seis fases que podem ser considerados verdadeiros “Playgrounds do Assassinato”. Há uma história a se seguir e alvos específicos a eliminar, mas a maneira como você pode fazer isso é bastante variada — e há estímulos de sobra para tentar várias técnicas e voltar ao mesmo cenário repetidas vezes.

Mas estou me adiantando: a trama mostra os momentos finais de uma trilogia marcada pela revolta do Agente 47 contra a ICA, agência que o transformou em uma máquina de assassinatos, mas que, no processo, apagou seu passado e autonomia. Agora, no controle de suas ações, ele se une a outros agentes rebeldes que estão matando figuras-chave de um grupo secreto que controla o mundo das sombras, e restam poucas peças no tabuleiro antes do xeque-mate final.

Uma nova viagem pelo mundo

A caçada do Agente 47 por seus alvos vai nos levar por diversos locais do mundo, incluindo uma parada nos imensos arranha-céus do Oriente Médio até uma cidade chinesa que mistura decadência com tecnologia de ponta. Cada cenário oferece alvos e tramas próprias menores, que você pode decidir seguir à risca ou não.

Tal qual Hitman 2, o game permite que o jogador ligue um sistema de dicas que mostra no mapa quando há uma oportunidade de infiltração ou assassinato. Mais do que no passado, o game parece querer que você siga essas recomendações, que resultam em formas bem específicas de eliminação que acompanham elementos de história mais ricos do que anteriormente.

Hitman 3

E essa acaba sendo a principal diferença de Hitman 3 em relação a seus antecessores mais diretos: a trama aqui realmente importa. Se no passado a IO Interactive apostou em formas mais econômicas de avançar a narrativa (com figuras estáticas, por exemplo), aqui fica claro o orçamento dedicado a criar cenas de corte impactantes e que dão ao jogador um bom contexto do que está acontecendo.

Você sempre tem a opção de ignorar tudo isso e jogar o game à “moda antiga”, mas, em minha experiência, é bom deixar isso para uma segunda (ou terceira, ou quarta) volta a cada uma das fases. Conforme você se torna familiar com um cenário e cumpre seus objetivos, o jogo abre novos pontos de início, lugares novos para armazenar itens e algumas mudanças leves em suas regras.

Para entender como isso funciona, cito um exemplo: na primeira vez que você vai à China, o Agente 47 sempre começa no metrô com um disfarce comum. Ao avançar alguns níveis, você pode começar em um ponto de vantagem com um rifle equipado ou infiltrado em meio à equipe de um restaurante local.

Onde você começa e qual disfarce é usado mudam completamente a dinâmica da fase, permitindo a realização de assassinatos em momentos distintos. Um novo sistema de atalhos desbloqueáveis ajuda a agilizar o acesso a certas rotas de contato, e a disponibilidade de novos equipamentos também estimula o raciocínio e a busca de novos desafios.

Qualidade consistente

Algo que ajuda o “Playground de Assassinato” de Hitman 3 a funcionar bem é o fato de que seu mundo, desde o início, apresenta regras bem claras e consistentes. Você sempre sabe quais personagens vão ver seu disfarce e aprende rápido o comportamento dos NPCs — que, ao mesmo tempo que podem ser bastante espertos, são “burros” o suficiente para que o jogador possa manipulá-los em algumas situações.

O que pareceria um problema de desenvolvimento em outros jogos, aqui aparece como parte integral do design. É estranho que um segurança se distraia tão facilmente com uma moeda, mas é isso que vai permitir se infiltrar em um local que você precisa e matar um alvo sem ser visto. E nem tudo é exatamente simples: o jogador também tem que saber quando jogar a moeda e de onde fazer isso para não despertar alarmes.

Esses pequenos cálculos e riscos são uma constante em Hitman 3 e o tornam especialmente satisfatório quando um plano intricado dá certo. Quando tudo dá errado, sempre dá para recorrer aos saves automáticos e tentar de novo. Inclusive, essa é uma das principais recomendações da IO Interactive: a tentativa e falha/vitória são essenciais para aproveitar o game, que desafia o jogador a pensar fora da caixa o máximo possível.

Fim de temporada

Voltando à comparação feita logo no início do texto, jogar Hitman 3 é como testemunhar a temporada final de uma bela série em que tudo se encaixa da forma que esperamos, com alguns espaços para surpresas. A IO Interactive domina muito bem o tipo de experiência que criou, ao ponto de oferecer situações memoráveis em que tudo é deixado de lado e virado de ponta-cabeça (quando você chegar a Berlin, vai entender).

Hitman 3

Mais Breaking Bad do que Lost em termos de qualidade, o título é daqueles que você joga querendo mais, só pecando por alguns detalhes técnicos. Durante os testes, os servidores ainda estavam bastante instáveis e proporcionavam alguns momentos chatos de espera. O pior de tudo é que, embora jogar offline fosse possível, isso significa abrir mão de poder acessar o sistema de evolução do game.

Além disso, tive problemas de travamento relacionados à abertura de um armário específico da última fase — elemento que, felizmente, era dispensável para encerrar a história. Fora isso, o game teve um desempenho surpreendente no PC, chamando atenção especialmente pela escala das multidões que é capaz de apresentar. Também vale notar que Hitman 3, em sua forma atual, não possui suporte ao português brasileiro nem na forma de legendas, algo que pode ser impeditivo para vários jogadores.

Caso os obstáculos e problemas não sejam uma barreira para você, explorar esse “Playground de Assassinato” é uma das melhores experiências que 2021 nos proporciona até agora e já estou ansioso para explorar os futuros Alvos Elusivos e conferir o que a IO vai fazer em seu futuro projeto relacionado a James Bond.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm