Análise: Golf Story - Neo Fusion
Análise
Golf Story
20 de outubro de 2017

No início de Golf Story, nosso personagem (devidamente chamado apenas de Player) acorda em um dado dia e resolve que não vai mais cumprir com suas obrigações para, finalmente, correr atrás de seu sonho de infância: ser um jogador profissional de golfe. Consigo imaginar que essa tenha sido a sensação, em algum momento, do(s) desenvolvedor(es) do jogo: chegou a hora de irmos atrás do sonho de fazer videogames. É algo que eu simpatizo e entendo bastante, já que costumo acordar umas cinco vezes por mês com o sentimento de que deveria me apertar, começar a me desvencilhar de uma rotina que não me traz alegria, dar alguns passos para trás para, enfim, perseguir algum sonho. Mas, no meu caso, isso não passa de uma ideia vaga e abstrata.

No caso de nosso golfista, felizmente, a ideia se transforma em uma série de missões, interações e partidas que vão fazer com que ele se torne um jogador profissional de golfe. Há uma ingenuidade bastante carismática em como ele vai lidando com essa história. Ele raramente se deixa abalar com comentários negativos, tem a tendência de acreditar em tudo o que lhe dizem ou propõem (mesmo as figuras mais dadas à falcatruas), e persegue seu objetivo com um carinho que impressiona.

E no centro de toda essa história de ir atrás de um sonho está o Golfe, um esporte que não empolga muita gente, mas que possui um aspecto de “jogo” muito bem definido. Soma-se a isso que, assim como o automobilismo, o Golfe se vale bem da diferença entre os campos de disputa. Cada buraco tem um percurso diferente, fazendo com que seja necessário imaginar e criar estágios para um videogame a partir dessa particularidade.

Não há muito segredo em relação às tacadas; apertamos o botão pela primeira vez para o medidor de força e depois, na volta do cursor, apertamos uma segunda vez para a precisão. Dá para escolher o tipo de batida (entre três), o ponto da bola que vamos bater e o tipo de taco que vamos usar. Para além disso, existe um tipo de progressão durante a história em termos de equipamentos e habilidades do personagem.

O jogo realiza um bom trabalho de introdução de tudo isso. Não apenas ele introduz bem cada nova mecânica ou possibilidade, como ele utiliza de suas missões (tanto as centrais quanto as paralelas) para relembrá-las em diferentes momentos da campanha. Isso funciona bem tanto para não deixar o jogador sem opções, quanto para suavizar um pouco a repetição presente em Golf Story.

Do ponto de vista das partidas, todas as habilidades funcionam bem, e frequentemente há algo novo em cada clube de golfe (que funcionam como os “mundos”) que faz valer esse diálogo entre mecânicas e o desenho do estágio. São particularidades como animais que interferem no alcance de nossa tacada, diferentes tipos de terreno como areia, neve e gelo, e, principalmente, a inclinação e a direção e velocidade do vento.

Quase tudo é muito bem sinalizado visualmente, com exceção da inclinação dos terrenos, que fica à cargo de uma seta indicativa; não conseguimos discernir olhando apenas para o campo de golfe. Em contrapartida, o vento é bem sinalizado tanto a partir de sua seta, como no próprio movimento de árvores e plantas.

Golf Story tem como influências diretas Mario Golf e Mario Tennis, principalmente os títulos para Game Boy Advance, e conseguiu me puxar muito bem pela memória de como era a experiência desses jogos. Ele pega um esporte, cria uma campanha com missões e um enredo tenro de superação e nos faz jogar em situações absurdas e bem humoradas, sempre pensando em como traduzir o esporte em um título que pode receber os mais diferentes tipos de mecânicas e estágios.Os diferentes estágios e tipos de missão fazem muito bem à campanha. Sempre há algo novo, e os diferentes clubes de golfe acabam sendo muito bem demarcados. Você percebe a distinção entre cada um, não só no que diz respeito ao jogo de golfe, mas também à história que está sendo contada.

Por uma série de fatores, nosso personagem vai precisar visitar oito diferentes locais, vencendo partidas e realizando diferentes tipos de atividades e missões. O design do percurso principal de cada lugar é um dos pontos fortes do jogo. São sempre 9 buracos, cada um se valendo dos diferentes tipos de interação e terreno. Há, entretanto, alguma dose de repetição, mesmo bem intencionada. Sempre é necessário passar pelo menos duas vezes pelo mesmo percurso em cada um dos oito clubes. Mesmo quando há uma disputa contra algum outro personagem, a atividade do jogador acaba permanecendo a mesma (já que ele joga, em sua vez, nos mesmos 9 buracos).

Esses clubes de golfe são pautados pelo absurdo, já que o jogo não se pretende uma simulação ou qualquer coisa do tipo. Há o clube pré-histórico, a mansão mal-assombrada, a região cheia de neve, as praias tropicais, enfim, são locais que se propõem a gerar desafios e uma identidade visual diferente. Unidos pelo World Map, não é de cara que temos acesso à todos.

Progressão é um dos fatores principais da experiência de Golf Story. Tanto em termos do enredo que vai se desdobrando, quanto de nosso acesso à localidades e equipamentos, sem esquecer da evolução do personagem e da alocação de atributos. Conforme vamos explorando e completando missões, ganhamos experiência e dinheiro. O primeiro serve para que tenhamos pontos para dividir entre os 5 atributos, e o segundo nos dá a possibilidade de comprar novos e melhores equipamentos (principalmente tacos). Existe uma série de segredos nos clubes que acaba gerando outros itens, dinheiro e experiência bônus.

Em relação aos atributos, temos o principal (força da tacada) e os quatro auxiliares. Conforme aumentamos o poder, os outros podem cair, fazendo com que seja necessário equilibrar nossa evolução em termos de jardas que conseguiremos cobrir, com a nossa técnica e precisão. As missões se destacam pelo seu caráter bem-humorado, por nos relembrar de mecânicas e por ir treinando o personagem, ao passo que também podem ser bem repetitivas.

Para tentar fugir um pouquinho do “realize qualquer tarefa jogando golfe”, o título traz algumas outras atividades e tipos de missão. Há missões de corrida e de coleta de itens, que são as mais comuns. Existe também as mais diferentes, como resolver um “crime” em um rico clube de campo, correr com um carrinho de controle em referência à jogos como Rock’n’Roll Racing, passar por trechos de furtividade e coleta de pontos, e pilotar drones enquanto se briga com a direção e intensidade do vento.

Essas atividades geralmente são acompanhadas de um cuidado visual e sonoro que vale a pena destacar. A pixel art do título é bastante agradável, e consegue sinalizar muito bem os elementos do cenário e dos percursos de golfe. A música é simpática e acompanha bem a jogatina, principalmente nos campeonatos.

Mas há um aspecto visual, em especial, que se destaca. Em Golf Story, acompanhamos a fala dos personagens através de balões, tal qual em quadrinhos. Esses balões se moldam ao estado de ânimo de cada personagem. Quando ele está com vergonha as letras são pequeninas, quando está com raiva elas crescem e o balão também. Elas se inclinam, ou até mesmo são apagadas, já que o personagem queria dizer aquilo, mas não disse. É um artifício bastante simpático e uma opção que contorna a falta de voz enquanto cria algo novo para prestamos atenção.

Em todas esses aspectos e particularidades, Golf Story ainda conta com situações e personagens que acabam gerando um sorriso ou uma boa risada. É uma história simpática, porém simples, sobre um sujeito que resolveu um dia acordar e ir atrás dos seus sonhos. É um jogo de golfe competente, com uma série de boas propostas de mecânicas, estágios e narrativa visual. Ainda que eu não vá acordar amanhã e resolver ir atrás de um sonho, fico feliz que o pessoal da Sidebar Games e o personagem Player o fizeram.

Golf Story presta sua homenagem à títulos como Mario Tennis e Mario Golf a partir de uma história simpática, tenra e até mesmo ingenua de superação e busca pelos sonhos. É mecanicamente competente e possui estágios memoráveis, além de boas propostas visuais, sonoras e narrativas.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm