Análise: Elex II - Neo Fusion
Análise
Elex II
15 de março de 2022
Cópia digital da versão de PC cedida pela THQ Nordic.

Afirmo sem exageros: caso ELEX II tivesse sido lançado próximo aos anos de 2008 ou 2010, ele provavelmente seria um dos meus jogos favoritos de todos os tempos. Na época, eu ainda estava redescobrindo os jogos de PC e adoraria encontrar um game tão vasto e focado em elementos de RPG quanto esse.

De certa forma, jogar o novo game da Piranha Bytes me lembra minha primeira experiência com Fallout 3. Temos aqui um universo pós-apocalíptico repleto de criaturas bizarras, com poucas indicações do que é preciso fazer além do tutorial inicial e uma missão principal que até tem sua importância, mas nunca parece tão urgente assim.

Ao mesmo tempo, temos personagens um tanto bizarros e com atuações um tanto duvidosas que nos ajudam a lembrar que, por mais que a trama tenha pretensões cinematográficas, ela é essencialmente uma história de um game — para o bem e o mal. Some tudo isso com um sistema de combate meio desengonçado e alguns problemas técnicos e você tem a receita que faz ELEX II se destacar.

ELEX II parece um game de outro tempo

Quando falo que, se fosse lançado há 10 ou mais anos, o novo RPG seria um dos meus favoritos é pelo fato de que muitas de suas falhas eram completamente aceitáveis na época — mas é difícil perdoá-las atualmente. Mas, antes de me estender sobre isso, devo discorrer sobre o que funciona no game.

ELEX II é, acima de tudo, um jogo com personalidade que aposta em convenções que muitos podem considerar ultrapassadas. Enquanto muitos projetos AAA apostam na simplificação de mecânicas e em garantir que todos vão conseguir progredir e entender tudo o que está entendendo, o trabalho da Piranha Bytes é “cabeçudo”.

Enquanto em um RPG normal você ganha níveis e investe pontos para melhorar seu personagem, isso é só o começo aqui. O jogador pode até ter o necessário para usar uma nova arma, mas vai precisar falar com um treinador adequado para saber como manejá-la corretamente — e isso envolve encontrar onde o personagem está no mapa e pagá-lo por seus conhecimentos.

Elex II

O mais interessante é que ELEX II não faz muita questão de explicar tudo isso, permitindo que os jogadores entendam aos poucos suas complexidades. Ao mesmo tempo em que isso pode parecer confuso, é legal ver como as coisas vão “clicando” aos poucos e você começa a entender melhor como os sistemas criados pelos desenvolvedores conversam entre si.

Outra coisa interessante é o quanto o mundo é realmente aberto e não está nem aí se você tem o nível adequado para uma área — mais de uma vez, andei de um local seguro para outro completamente impossível sem nenhum indicativo de que isso ia acontecer. Ao mesmo tempo em que isso pode ser frustrante, a liberdade oferecida também permite “quebrar” o game de maneiras muito divertidas.

Elex II

Logo nas primeiras horas de jogo, estava explorando uma área claramente acima do meu nível, encontrei um companheiro e fiz a missão para que ele se juntasse a mim. Desde então, ele virou uma arma poderosa que garantiu o avanço rápido de níveis: muito mais forte do que meu personagem, ele pode derrotar sozinho inimigos avançados que rendem muito mais pontos de experiência do que as missões que eu conseguia cumprir.

Toda essa liberdade resulta do fato de que, logo no começo da aventura, seu personagem é premiado com um jetpack. Embora o combustível disponível inicialmente seja bem limitado, ele é mais do que suficiente para permitir a exploração de diversas áreas e a fuga de lugares perigosos com certa facilidade.

Nem tudo são flores

Agora, vamos às críticas: não estou brincando quando digo que ELEX II parece um jogo produzido há mais de uma década. Embora a Piranha Bytes claramente tenha a pretensão de fazer um jogo com qualidade AAA, fica claro que faltou orçamento e tempo para que ela conseguisse fazer isso.

O resultado é um mundo aberto vasto, mas um tanto vazio e repleto de atividades repetitivas que traz mecânicas um tanto estagnadas. O combate, por exemplo, é uma espécie de “Dark Souls simplificado”, no qual seus ataques travam facilmente nos inimigos e não há muita estratégia além de saber rolar nos momentos certos.

Quando as coisas apertam, é só usar o jetpack e pronto, você chega em um lugar seguro que não pode ser alcançado pelos inimigos. Em outras palavras, praticamente não há desafio, e quando você é acertado e morre, geralmente isso acontece mais por descuido do que pelo fato de que o jogo apresentou algum desafio real.

Elex II

A parte técnica também não agrada: o mundo de ELEX II é pouco atraente, principalmente no que diz respeito aos personagens. Os modelos são pouco detalhados, e não ajuda nada o fato de que parece que a desenvolvedora usou atores amadores para fazer a maioria das dublagens — o tom dos diálogos geralmente é estranho e destrói qualquer ambientação ou crença no que eles estão dizendo.

Não se engane: ELEX II não é um game quebrado, em que as coisas não funcionam, mas sim um game tecnicamente datado. A impressão é que estou jogando um mundo aberto seguindo os mesmos preceitos de design vistos na era do PlayStation 2, com um orçamento um pouco maior que garantiu texturas em alta resolução.

Para completar, o game consegue ser bem pesado no PC, mesmo quando uma máquina poderosa é usada. Parece que faltou um pouco de otimização e configurações que garantissem que o mundo do jogo não fosse tão pesado no consumo de GPU — especialmente dado o fato de que ele é bem vazio a maior parte do tempo.

ELEX II é um game que tem a ambição como sua principal qualidade e fator que, no fim das contas, faz com que ele falhe em vários pontos. Com um sistema de combates falho e alguns problemas na narrativa, o game se destaca por apostar pesado nos elementos de RPG e não tem medo de ser complexo quando preciso. Se você é fã de jogos como Fallout: New Vegas ou os cRPGS do início dos anos 2000, vale dar uma chance para o novo game da Piranha Bytes — só não espere encontrar aqui os mesmos valores de jogos AAA que o estúdio tenta emular.

Leia também

Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm