B.I.O.T.A.

Uma boa parte dos jogos independentes têm o objetivo de entregar experiências retrô, homenageando clássicos do passado e atualizando características que eram defasadas pela limitação tecnológica de suas épocas. B.I.O.T.A possui uma estética no estilo Game Boy e é descrito como um metroidvania. No entanto, sua experiência é uma espécie de Contra não-linear, estilo de jogo conhecido como “Run & Gun”. B.I.O.T.A tem semelhança com títulos de exploração 2D antes ou contemporâneos do primeiro Metroid do NES, lançado em 1986.

O jogador tem controle sobre diferentes personagens de uma equipe de mercenários, podendo alterná-los. Eles estão em uma missão de investigar uma colônia de mineração infectada por uma praga alienígena que transformou as formas de vida do local em monstros hostis. O jogador inicia na superfície, onde pode alternar entre os mercenários, ter acesso a um treinamento, curar-se e, através de um elevador, se conectar aos segmentos do jogo. B.I.O.T.A tem diferentes áreas, cada um deles com um mapa composto por retângulos interconectados.

Em pontos estratégicos, há estações no qual o jogo salva. Em determinadas salas, através de um comando, o jogador pode salvar. Esse recurso tem sua desvantagem: a vida não recupera e o personagem pode estar em um trecho com apenas uma unidade de vida. Quando o jogador está em uma nova área e encontra um elevador, cria um novo ponto de ligação com os outros lugares. Em qualquer momento, o jogador pode retornar a superfície por meio de um item.

Cada mercenário possui um tipo de arma principal, uma habilidade secundária e uma pequena diferença de física nos movimentos e salto. O jogador pode segurar o botão que a arma continuará atirando, seja o personagem que empunha a metralhadora, shotgun ou rifle de precisão. É nesse sentido que a fluidez do jogo lembra um jogo tipo Contra, já que os inimigos são derrotados com poucos disparos efetivos. As habilidades secundárias podem ser minas terrestre, escudo de proteção ou uma mira de “sniper”, por exemplo.

Uso da habilidade secundária do sniper.

A dificuldade de B.I.O.T.A é oscilante, intervalo entre água calma e ondas violentas. Em alguns momentos, todas as ações parecem automáticas, tornando a experiência monótona. A primeira área funciona dessa forma e, a partir da próxima, quando o jogo passa a exigir habilidades de plataforma, é que o desafio vai crescendo, chegando ao ponto em que alguns trechos de B.I.O.T.A são frustrantes. O jogo possui chefes, mas as batalhas contra eles estão longe de serem os pontos difíceis que o jogador tem de lidar.

A dificuldade se acentua não somente pela exigência mais apurada dos reflexos, mas do quão imediato esses trechos surgem, de identificar o real perigo de elementos do cenário que matam o personagem com uma só encostada. O curioso desses momentos é perceber que algumas facilidades que B.I.O.T.A possui podem se transformar em armadilhas ingratas. O espaço que é preenchido no mapa, os itens que são coletados, esse progresso só é registrado quando o jogador salva. Sendo assim, o jogador pode muito bem retornar à superfície, recuperar a vida e salvar, não é? Sim, é possível fazer isso. Mas, se o personagem não chegou a encostar no elevador dessa área que estava, é preciso talvez repetir todo um trecho demorado de gameplay para retornar àquele ponto no qual empacou.

Apesar desse desequilíbrio do fluxo de gameplay, o jogo se arrisca em diversificar sua experiência, sobretudo nos momentos que o jogador precisa controlar veículos específicos. No entanto, mesmo quando esses momentos dão esse frescor na jornada, os padrões de desafio vão se repetindo, dando uma sensação de que esses períodos poderiam ter durado a metade do tempo.

Retornando ao que foi falado no início, o que faz com que B.I.O.T.A não seja considerado um metroidvania? Os caminhos aqui são desbloqueados quando o jogador consegue comprar itens específicos, que são identificados no mapa com seus ícones — no caso, a loja em que podem ser comprados. A exploração é importante para encontrar cartões de níveis diferentes — que dão acesso a novas passagens —, além de um aumento na capacidade do personagem carregar mais das “moedas” do jogo, melhorias fundamentais para comprar os itens citados anteriormente. Não é uma habilidade nova que dá acesso a novos caminhos: o personagem pode aumentar o dano de tiro, ganhar mais pontos de vida, ter mais das habilidades secundárias disponíveis, mas nada disso altera o modo que o jogador lida com o ambiente.

Gameplay no submarino.

B.I.O.T.A é um jogo de ação e exploração 2D, é um jogo 2D não-linear e nem todos precisam ser um metroidvania para entregar uma experiência de exploração. Ele possui uma instabilidade em seu desafio que influencia a maneira que a ação do jogo empolga, mas não deixa de arriscar para tornar a sua jornada a mais variada possível, dentro da sua proposta.