Quando Lost Judgment foi oficialmente anunciado, em 7 de maio de 2021, eu ainda estava com aquele gostinho de “quero mais” após ótimos momentos vividos ao lado de Takayuki Yagami e sua turma da lei. Ainda empolgado com o futuro do spin-off da série Yakuza, essa era a minha chance de acompanhá-lo por toda a sua campanha de marketing e lançamento — diferentemente da saga de Kazuma Kyriu, que estou apreciando em retrospecto cada um dos títulos e sempre levando em consideração a época na qual foram originalmente lançados.
Os mês se passaram como dias (afinal, ainda estávamos naquele tempo convoluto e desesperador da pandemia do COVID-19), o jogo foi lançado e eu simplesmente…perdi o interesse. Além de estar jogando outros títulos na época e do preço exorbitante da versão digital deluxe de PS5, outro fator me afastou quase instantaneamente: a recepção mista. Alguns amigos mais próximos acabaram não deixando depoimentos tão animadores quanto os do primeiro jogo. Coube a mim mesmo conferir, somente há algumas semanas, do que se trata Lost Judgment.
Três anos após seu maior e mais perigoso caso até então, Yagami e Kaito recebem um pedido da jovem advogada, Saori Shirosaki, para investigarem um caso de abuso sexual sofrido por uma civil durante seu deslocamento diário em um trem. O que parecia ser mais um infeliz e recorrente caso de importunação pública e violação do corpo feminino, porém, se desdobraria em uma teia de envolvimentos, mentiras e crimes muito maior do que se esperava.
Há mais de um ano, quando redigi meu primeiro texto sobre os jogos da Ryu Ga Gotoku Studio — na ocasião sobre o teor investigativo em Judgment —, o modelo de “bairro aberto” proposto pelo estúdio me impressionou bastante. A forma como a trama é costurada na sequência também me deu essa impressão, em especial por aproveitar bem duas localidades “prontas” na Dragon Engine originais de jogos anteriores do estúdio: Kamurocho e Isezaki Ijincho (distrito de Yokohama). Ambos são locais que sobrevivem longe das garras do clã Tojo e das inúmeras gangues, famílias, associações e alianças formadas por yakuzas. Ao mesmo tempo, violência, ganância e corrupção ainda se fazem frequentemente presentes na realidade dos dois lugares.
A estrutura de missões aproveita o tamanho e as diferenças entre as duas localidades. A quantidade de conteúdo opcional, porém, pode ser um pouco demais até para quem está acostumado com as narrativas paralelas de Sotenbori e Kamurocho em Yakuza 0. Há diversas atividades que se repetem entre os dois distritos, mas que optam por manter progressos distintos e não-cumulativos. Isso significa que você precisará cumprir uma mesma tarefa duas vezes dependendo da opção de lazer ou trabalho. Por um lado, Kamurocho e Ijincho precisam funcionar independentemente. Por outro, o espírito complecionista acaba desaparecendo à medida que a repetição bate à porta de tempos em tempos. Não tardei em me contentar apenas com a história e mais uma porção razoável das missões paralelas — acumulando, mesmo assim, mais de 55 horas de jogo.
Boa parte do conteúdo de Lost Judgment é focado e se passa em Seiryo High, local onde Yagami e seus colegas de profissão atuam, por pedido da própria instituição, em uma investigação sobre bullying. Esse tipo de abuso está saindo de controle a ponto de impactar pessoas fora do ambiente escolar. A fim de se infiltrar na escola, Yagami começa a agir como uma espécie de mentor/conselheiro nos clubes extracurriculares, se aproximando tanto dos estudantes quanto do corpo docente. Apesar do teor relevante da crítica e das vindouras reviravoltas positivas na trama, é justamente por aí que o jogo começa a mostrar um lado mais controverso em pequenices e detalhes que me incomodaram.
Podemos começar com o que mais me chamou a atenção na primeira hora de jogo: a violência de Yagami. Por mais que os comportamentos de assédio e abuso entre os jovens sejam a força-motriz para os casos de depressão e suicídio em Seiryo High, isso não garante a um homem o direito de bater em adolescentes. Quando eu comecei o jogo, já sabia que esse tipo de coisa provavelmente iria acontecer, mas a frequência com a qual isso acaba rolando me deixou incomodado. É um jogo sobre pancadaria? Sim, mas poderia haver uma solução mais elegante — inclusive envolvendo algum tipo de disputa mais pacífica, como minigames ou batalha de argumentos.
Yagami também tem, à primeira vista, um péssimo hábito de bisbilhotar a vida dos funcionários da escola, inclusive quase colocando em risco o início de sua investigação por usar câmeras escondidas. Yoko Sawa, professora de inglês cujo envolvimento nos casos de bullying acaba se mostrando bastante relevante ao longo da trama, é um dos alvos de sua incessante busca pela verdade. Ao contrário de Kaito-san e seus vacilos totalmente descartáveis no “estilo mulherengo”, Yagami é motivado pelo caso que investiga a praticamente persegui-la durante seu expediente e também fora das dependências da escola. Sua obsessão em tentar arrancar informações de Sawa-san em relação a Hiro Mikoshiba me incomodou em diversos momentos, especialmente a partir do momento que seu envolvimento com a investigação começou a se tornar informação pública e trouxe consequências que não devem ser reveladas em um texto como esse.
Xeretar o que não é da sua conta também acaba sendo assunto de algumas side quests, como é o caso de uma cápsula do tempo enterrada na escola e da consequência em abri-la para o futuro de alguns dos antigos alunos. Mesmo que isso seja menos importante que importunar a vida alheia e invadir a privacidade em tempo real, não parece nada respeitoso ou elegante.
As ferramentas disponíveis em Lost Judgment para investigação também foram aprimoradas. Além da câmera e do drone, temos um amplificador de ruídos, detector de dispositivos e também contamos com a ajuda do melhor amigo do homem: um cão farejador. Há algumas seções durante a história principal nas quais precisamos fazer uso destes recursos, porém o destaque acaba ficando com as side quests e interações pelas cidades. Só fiquei um pouco desanimado por não haver situações emergentes interessantes envolvendo as ferramentas de investigação, mas isso acaba sendo mais uma perda de oportunidade por parte dos desenvolvedores do que um defeito do jogo.
Em termos técnicos, esse é o melhor trabalho que o estúdio já fez com a Dragon Engine: duas grandes cidades muito interessantes, visuais de cair o queixo, desempenho excelente nos novos consoles e um combate tão variado e divertido que me fez passar por todos os pequenos problemas e finalizar sua missão principal sem muitos intervalos — mesmo que a quantidade de conteúdo opcional seja insana e até desnecessária vez ou outra.
A teia de mistérios e crimes ambém acaba se fechando em uma resolução política tão gigante quanto a do primeiro jogo. De uma forma resumida, ela passou para mim de uma primeira impressão negativa (quando Yagami duvida do depoimento de uma vítima de assédio sexual) para algo significativo e grandioso no final. No fim, algumas questões polêmicas e controversas se justificam em desdobramentos importantes à medida que avançamos na trama principal. Poranto, acabaria recomendando-o para quem gostou da primeira aventura de Yagami em 2018 na mesma medida em que ressaltaria que, assim como outros jogos da série Yakuza, esse é um produto feito por japoneses para japoneses — para o bem e para o mal.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm