O cenário de games independentes cresce consideravelmente a cada ano — e não é difícil notar isso: basta abrir a Steam e ver quantos jogos são lançados diariamente. Isso dificulta, inclusive, a curadoria nas plataformas e a seleção do que é mostrado durante apresentações e conferências temáticas. Por outro lado, com tantos projetos sendo desenvolvidos no mundo todo, é ótimo visitar um lugar (de preferência um espaço físico agora que a pandemia do COVID-19 deu uma amenizada) onde é reunida uma variedade invejável de experiências, profissionais e amantes desse tipo de jogo.
Ano após ano, o BIG Festival tem sido a oportunidade na qual, virtual ou presencialmente, reservamos alguns dias em nosso calendário cheio de compromissos para com nossa vida profissional e pessoal para conhecer, celebrar e se surpreender com tudo aquilo que está rolando no âmbito indie — ou quase isso consideradas as mudanças presentes na edição mais recente. De qualquer forma, estive por lá durante o último sábado (9) a convite da organização do evento para jogar, entrevistar, me informar e confraternizar ao lado de quem ama vídeo games assim como eu.
O BIG Festival 2022 é parte de um rebranding, mas que não necessariamente estava nos planos dos responsáveis pelo eventos nos últimos anos. A falta de investimentos públicos em setores como cultura, especialmente na fatia do audiovisual, não é novidade para quem viveu e ainda vive a dura realidade brasileira atual, portanto os fundos utilizados para bancar um evento com esse deveriam sair de algum lugar. E de alguns lugares saíram.
Como alguém que costumava ver pais e mães levando seus filhos e filhas nas outras edições do evento, notei que o BIG Festival parecia mais frequentado por jovens adultos sozinhos ou acompanhados de amigos do que famílias inteiras. Isso, ao meu ver, se deve a três fatores: o poder de compra médio atual do brasileiro, o fato de ingressos terem sido cobrados nesta edição e o acesso menos favorável ao evento por conta de sua localização.
Sobre o poder de compra, não cabe muita discussão aqui além de nossa indignação com o (des)governo fascista de Bolsonaro, logo podemos ir direto ao segundo e terceiro pontos: o evento, pela primeira vez em toda a sua história, cobrou pelos ingressos de visitação. Como já dito anteriormente, a organização precisava de verba para sustentar a ideia de fazer acontecer presencialmente o maior evento de jogos independentes da América Latina — ainda mais em um espaço tão disputado quanto o pavilhão do Expo São Paulo, onde foi sediado o evento.
De início, a assessoria do BIG Festival divulgou alguns de seus principais patrocinadores para a mais recente edição, mas a revelação não foi recebida com muita festividade por parte dos desenvolvedores e aficionados do meio. Isso porque algumas das empresas que haviam sido reveladas como parceiras, como a Ripio, estão diretamente associadas a tecnologias como blockchain, NFT e criptomoedas. A notícia gerou alguns conflitos e dúvidas.
Paralelamente, a Omelete Company — proprietária de veículos jornalísticos como The Enemy e o próprio Omelete — negociava uma parceria para realização do evento no mesmo local onde ocorre anualmente a CCXP Brasil. Com um aluguel salgado e expectativas mais altas do que nunca após três anos desde a última edição presencial, o BIG Festival 2022 não viu outra saída a não ser cobrar pelos ingressos. Sob um novo guarda-chuva de parcerias, o Best International Games Festival — que um dia já atendeu carinhosamente por Brazil’s Independent Games Festival — era uma dúvida que só se revelaria por completa durante os dias 7 a 10 de julho de 2022.
Apesar da mudança no nome, muitos jogos independentes deram as caras no BIG Festival este ano. De pequenos jogos brasileiros feitos por apenas um artista aos chamados “triple I” (indies de alto orçamento), os títulos prontos para rodar estavam espalhados por todo o pavilhão. Havia jogos ainda em fase de testes organizados em pequenos estandes, outros em demonstrações pré-lançamento no espaço ID@Xbox e alguns já disponíveis nas lojas digitais — como era o caso da seleção de jogos escolhida pela PlayStation para compor seu estande.
Algumas outras empresas parecem ter levado o novo nome do evento (Best International Games Festival) mais a sério, trazendo jogos cujos orçamentos são claramente acima de qualquer jogo indie — como foi o caso da Nintendo e da Bandai Namco. Bom, no caso da segunda, pela menos era a primeira vez que One Piece Odyssey estaria com uma versão jogável na América Latina.
As palestras estavam muito bem organizadas e algumas das conversas foram gravadas e transmitidas nas redes sociais do evento. Entre os diversos assuntos que tive a oportunidade de acompanhar, destaco três: o cenário de jornalismo de games no Brasil, mediado pelo assessor de imprensa, Theo Azevedo em colaboração com mais seis colegas do ramo; a importância de jogos indies para a PlayStation, apresentado por ninguém menos que Shurrei Yoshida; e a incubadora de jogos da Spcine, empresa que atua nos ramos de cinema e audiovisual por meio de uma iniciativa municipal de incentivo à cultura.
No dia anterior ao que estive no evento, Mark Venturelli, CEO do estúdio brasileiro Rogue Snail, aproveitou a oportunidade para mudar o tema de sua palestra e explicar, de forma resumida e didática, por que NFTs são um pesadelo para a forma como vídeo games são feitos e consumidos atualmente. Apesar de não ter sido transparente com o título da apresentação, o game designer disse que não sofreu qualquer tipo de censura ou retaliação por parte da organização do evento. O conteúdo está registrado em vídeo, mas eu realmente gostaria de ter vivido esse momento ao vivo e a cores para ver se houve alguma comoção do lado de fora do auditório.
A disposição do espaço físico também me surpreendeu: achei que o evento seria muito maior do que os anos anteriores dada a escolha do local, mas aparentemente a área reservada era apenas uma porção do pavilhão completo — isso porque esse ano a praça de alimentação era muito grande e porque também estiveram presentes estandes de patrocinadores (quase) não relacionados a jogos, como Bis, Claro e Magalu. De qualquer forma, não era nem tão pequeno a ponto de ser um evento claustrofóbico e nem muito grande a ponto de ser cansativo para se deslocar.
No fim das contas, o BIG Festival mostrou sua nova cara com mudanças pouco significativas por enquanto, mas que podem crescer negativa ou positivamente ainda mais nos próximos anos. Acredito que as parcerias tenham sido importantes para fins de orçamento, mas espero que vindouros mandatos e governos tenham mais preocupação com a cultura para que seja oferecido à população um evento gratuito e de qualidade.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm