Análise: Resident Evil 4 - Neo Fusion
Análise
Resident Evil 4
27 de março de 2023

Como diria CJ, “ah shit, here we go again“. O primeiro trimestre de 2023 foi marcado por grandes relançamentos de videogames seminais. Com Dead Space em janeiro e Metroid Prime Remastered em fevereiro, agora chega a vez do aguardado remake de Resident Evil 4.

Assim como ocorreu com Dead Space, eu só fui jogar Resident Evil 4 (o original, de 2005) muito depois de seu lançamento — inclusive após o anúncio do remake. Em 2021, o jogo não tinha o mesmo impacto que em 2005, e em particular os controles de tanque levaram um tanto de ajuste. Porém, ainda foi divertidíssimo e deu para perceber muito a influência que o título teria na indústria. Lançado originalmente para GameCube e pouco tempo depois para PlayStation 2, RE4 é firmemente um jogo da 6ª geração de consoles, mas estabeleceu um bocado de convenções que definiria não só a série Resident Evil dali em diante, como quase todos os jogos de aventura em terceira pessoa da 7ª geração. Digo mais: Resident Evil 4 andou para que que The Last of Us pudesse correr.

Desde então relançado para toda e qualquer plataforma lançada sob o sol capaz de rodar vídeo games, RE4 era o próximo alvo natural da Capcom após os remakes de RE2 e RE3. Quem acompanha a série sabe que o remake do segundo jogo em 2019 foi extremamente bem-recebido, e é frequentemente aclamado como um dos melhores remakes já feitos. Já RE3 teve uma recepção mais mista — o jogo é legal mas muito conteúdo do original foi cortado e acaba sendo uma experiência curtíssima.

Um clássico modernizado, mas errando em detalhes

Obviamente revisitar RE4 é um desafio muito diferente. Os jogos de PS1 usavam cenários pré-renderizados, câmera estática e controles antiquados, então exigiam remakes quase desesperadamente. RE4 — fora os controles — continua parecendo um jogo moderno, justamente porque ele estabeleceu tantas convenções do que é um jogo moderno. Dessa forma, a principal atualização deste lançamento é mesmo a visual. Aproveitando-se da amada RE Engine, obtemos uma nova perspectiva sobre Leon, Ashley e os espanhóis tomados por la plaga.

Para mim, esse aspecto é um pouco decepcionante. É sem dúvidas um jogo bonito, mas a engine começa a mostrar a idade, pois não causa a mesma impressão que RE2 causou. Fora isso, há alguns problemas técnicos que impedem o jogo de verdadeiramente brilhar, mesmo no Series X (e, pelo que vi, PS5 igualmente). Por incrível que pareça, o jogo sofre de problemas de carregamento de textura, mesmo nos consoles com SSD. Além disso, o desempenho não é cravado nos 60fps — certamente não é no modo resolução ou com ray tracing ativado, mas mesmo o modo desempenho é abalado em alguns momentos.

O contexto do lançamento remete tanto ao de Dead Space que a comparação vem à tona: o remake da EA é muito mais elegante em toda sua apresentação visual. E vai além: o design de som excepcional de Dead Space faz falta aqui. Jogando com fones de ouvido, é muito comum ouvir vozes ou barulhos e não conseguir identificar exatamente de onde estão vindo. Me parece que sons propagam num raio simples, sem considerar paredes ou outros objetos no caminho. É chato quando uma ameaça parece estar imediatamente ao seu lado, mas está do outro lado de uma parede. Ao longo da campanha, essa parte sonora foi o que mais me incomodou.

Não gosto de falar tanto de gráficos de jogos mas acho inevitável neste caso, justamente por ser um remake. Com o histórico da Capcom, eu esperava um produto impecável, então cada defeitinho chama a atenção. Talvez a culpa seja do PS4, que com seus 9+ anos de idade continua sendo a plataforma-alvo do remake. Mas isso não perdoa as quedas de quadros na geração atual.

A versão de Xbox tem um problema a mais nos controles, pois a “área morta” do analógico é grande demais. Isso faz com que seja necessário mexer bastante o analógico até que algum comando seja registrado, o que torna ajustes sutis na mira complicados. Após algumas horas com o jogo, meio que acostumei, mas me parece um problema tão básico para não terem corrigido.

O original e mais um pouco

Em termos de conteúdo, o remake se mantém bastante fiel ao original. O desenrolar da história é o mesmo e os cenários principais estão intactos. A diferença é que tudo é um tanto expandido, muitas vezes de forma sutil. Mesmo tendo jogado o original há relativamente pouco tempo, não consigo apontar exatamente para as mudanças, mas é perceptível que algumas seções duram mais do que eu lembrava. A organização do inventário e a economia do jogo com nosso amigo “what are ya buyin'” também estão aí, de novo com algumas mudanças que são relativamente camufladas.

Narrativamente, sinto que foi perdida a oportunidade de desenvolver um pouco melhor a relação entre Leon e Ashley. Seu primeiro encontro é repleto de desconfiança, mas logo estão soltando piadas como se fossem amigos de longa data. Bom, toda a narrativa do jogo é uma enorme galhofa, então até que se encaixa. O próprio Leon é um protagonista que irrita às vezes — com sua cara de DiCaprio bootleg e piadas de pai fora de hora.

Também é estranho matar os camponeses que compõe a maioria dos inimigos de RE4. Eles foram tomados por um parasita e acabam pertencendo a um culto fora de seu controle. A sensação é desconfortavelmente próxima de genocídio religioso… ainda mais que o jogo dá a entender que haveria uma cura para eles. Ao menos, se passando na Espanha não tem tanto uma conotação imperialista quanto se fosse em um país aleatório da América Latina. Mas sinto que o jogo abre as portas para o que aconteceria em Resident Evil 5, que levaria esse aspecto ao limite e aí sim geraria controvérsia. É engraçado ver jogos japoneses oferecendo uma visão tão americanizada dessas dinâmicas. Dito isso, eu ainda abro um sorriso quando um inimigo solta o clássico “voy te hacer picadillo“, ou as outras frases que parecem espanhol de google translate.

Ainda uma aventura única

Assim como em meu texto sobre Metroid Prime Remastered, há mais a ser dito sobre os pontos negativos do relançamento do que dos positivos. Mas isso se deve principalmente à qualidade já presente nos títulos originais. RE4 é um clássico genuíno e é daqueles jogos que parecem uma montanha russa, se tornando mais maluco e divertido à medida que desenrola. Talvez minhas expectativas estivessem muito altas, mas eu certamente esperava um pouco mais se tratando de um dos jogos mais importantes já lançados pela Capcom. Mas ainda me diverti horrores e é uma experiência recomendável a quase todo mundo. RE4 é muito mais um jogo de ação do que de terror — e talvez o maior mérito do remake é que ele conseguiu adicionar algumas cenas de tensão para quebrar as explosões e tiroteio.

Resident Evil 4 não é um remake no mesmo calibre de RE2, mas talvez não precisava ser. Sinto que o que havia de mágico no RE4 de 2005 permanece intacto aqui — porém naturalmente sem ser tão impressionante quanto foi há quase 20 anos. É uma aventura cativante para veteranos da série ou também serve como porta de entrada para quem não conhece ainda o mundo de RE.

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Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

[…] a alternativa não é descartada. Até mesmo tivemos uma história inédita do marsupial em Crash Bandicoot 4: It’s About Time. Poderíamos ter uma nova versão futuramente de Crash Bash – o party game da franquia […]

[…] mas também foi possível prestigiar títulos à parte dos cartunescos, como, por exemplo, o novo Tony Hawk’s Pro Skater 1+2, que resgatou a alma de um dos jogos de esporte mais icônicos de sua geração. Embora a origem […]

[…] não sendo tão inovador e debatível quanto Her Story, o título certamente conquista um espaço importante no (já não tão popular) gênero dos […]

Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm