Três anos após o lançamento de Persona 5, eu me vejo planejando uma detalhada agenda de eventos que supera em muito a organização que tenho em minha própria vida pessoal. Enquanto passo meus dias confinado em casa por conta da quarentena, tenho uma vida social tão ativa no jogo que, em alguns dias, preciso “dar um bolo” em algum amigo para sair com outro — não é minha culpa se o relacionamento escolhido me traz mais vantagens a longo prazo.
Há um caráter bastante prático em conservar bem esses relacionamentos: quando eles chegam em determinado ponto, sempre garantem algum poder especial que posso usar na atividade principal do jogo — roubar corações. Na prática, não é bem um roubo: aqui eu posso conquistar o sonho da vida real de pegar o pior tipo possível de pessoa e fazê-la não somente assumir seus erros, mas também se arrepender genuinamente deles.
Nada muito diferente do que vimos lá em 2017, quando a versão original do RPG, desenvolvida pela Atlus, chegou ao PlayStation 3 e ao PlayStation 4. O que temos em Persona 5 Royal é quase uma versão “Director’s Cut” do jogo — que não é exatamente verdade, visto que não há cortes. O lançamento traz uma série de adições que, se por um lado deixam o jogo de certa forma mais fácil, por outro aumentam o prazer de revisitar a Academia Shujin e os arredores de Tóquio.
Digo revisitar porque tive o prazer de jogar a aventura original, mas não se preocupe: se essa é a sua primeira visita nesse mundo, não há perda alguma — inclusive, fora o preço, há poucos motivos para escolher a anterior. Além de adicionar uma camada narrativa adicional, com um personagem extra que se junta a seu grupo, Persona 5 Royal também modifica uma série de mecânicas que garantem uma maior qualidade de vida.
Com aproximadamente 30 horas de jogo (o que me trouxe às portas do terceiro palácio), já percebi uma série de ajustes que fazem a jogabilidade fluir melhor e trazem mais valor a certas habilidades. O “Baton Pass” — mecânica na qual você pode alternar entre personagens durante a batalha aumentando o ataque a cada troca — não é mais condicionado à evolução de seu relacionamento com outros membros do grupo.
Isso faz com que essa seja uma mecânica que não somente passa a ser usada mais frequentemente logo cedo, como também a torna mais essencial. Se antes era comum ela estar destravada somente para um ou outro membro da equipe, agora ela surge como um padrão para todos — o que, na prática, fez com que eu começasse a pensar de forma mais estratégica e dependesse menos de Joker, personagem principal que é o único capaz de, sozinho, explorar as fraquezas de todos os inimigos.
Isso não quer dizer que a essência dos combates de Persona 5 Royal é diferente da versão original. Você ainda vai passar a maior parte do tempo investindo nas fraquezas dos inimigos para, após derrubá-los, usar um ataque em conjunto poderoso ou pedir dinheiro, algum item ou convencê-lo a se juntar a seu grupo. A diferença aqui é que você provavelmente vai fazer isso alternando mais entre os membros ativos dos Phantom Thieves.
Esse é somente um dos exemplos da maneira como Royal estimula o uso de mecânicas já presentes no original para mudar sua experiência. Isso não significa que não há novidades: a exploração dos Palácios — dungeons centrais do game — foi ligeiramente modificada graças à inclusão de um gancho que permite alcançar locais diferentes do cenário. Mesmo quando esse item não é necessário, a equipe de desenvolvimento também fez algumas pequenas mudanças de design para eliminar “áreas mortas” (geralmente substituídas por puzzles simples) e posicionar inimigos de forma um pouco mais lógica para sua progressão.
No entanto, nem todas as mudanças têm sido positivas. Persona 5 já era um jogo fácil, mas P5R está ainda menos desafiador — especialmente se você já tem experiência com o original. As personas que você encontra pelo caminho foram reorganizadas e parecem tomar mais dano, e o gerenciamento de SP — ponto central no avanço pelos Palácios — é bem mais tranquilo.
Essas mudanças não chegaram a me incomodar muito, especialmente porque meu foco em Persona sempre foi muito mais a interação com os personagens. No entanto, quem busca certo desafio em RPGs, provavelmente não vai achar esse aspecto o mais chamativo do game. Em última instância, tudo isso é compensado pelo fato de que, agora, você não mais será traumatizado pelas falas constantes de Morgana dizendo que é preciso ir para a cama, mesmo que você obviamente não esteja cansado.
Ainda estou explorando relacionamentos com os novos personagens que, felizmente, foram encaixados aqui de maneira bem orgânica. A trama em geral ainda está seguindo o mesmo roteiro geral, mas há cenas extras que encaixam essas novas figuras de maneira que faz sentido com a história original — só temo que, em um jogo tão extenso quanto Persona 5, a conclusão desses relacionamentos demore tempo demais para chegar.
Vou continuar explorando o mundo de Persona 5 Royal, especialmente com o intuito de explorar a trama adicional tão alardeada pela Atlus que, aparentemente, só se desenvolve totalmente após as mais de 100 horas do original. Em breve, você confere aqui no Neo Fusion um review completo — além de um podcast cheio de spoilers — para descobrir se considerei válido ou não o grande investimento e dedicação a esse grandioso (em vários sentidos) RPG.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm