Após finalmente passar pela burocracia da segurança (lembre-se de viajar sem usar um cinto da próxima vez para agilizar as coisas), seu bilhete de embarque finalmente é chamado. Após lidar com pessoas que claramente estão brincando com os limites do que cabe em um passageiro comum, você localiza seu assento e sente uma mistura de tensão e alívio.
O lugar é na janela, mas sempre há chance de alguém espaçoso se sentar na poltrona do meio. A torcida silenciosa para isso não acontecer é sempre tensa, e só chega ao final quando o comandante anuncia que as portas foram fechadas. Essa é a hora de finalmente esticar as pernas (o quanto for possível na classe econômica), colocar sua bolsa na cadeira ao lado e procurar pelo fone de ouvido com cancelamento de ruído.
A partir desse ponto, tudo que há para fazer é esperar. Esperar que o avião decole, que a seleção de filmes e séries ofereça algo interessante e pela refeição esquentada no micro-ondas que, se ingerida, certamente vai exigir o uso complementar de antiácidos. Como tudo faz parte da (cara) passagem aérea, você ainda encara a refeição: o sabor não é melhor, mas você com certeza vai fazer seu dinheiro valer ao máximo.
Airplane Mode é um game que definitivamente não existiria — ou ao menos não chamaria a atenção que chamou — não fosse a pandemia do COVID-19. Em um momento no qual as viagens de avião (ao menos para quem tem certo bom senso) se tornaram algo impensável a não ser em casos de extrema necessidade, o jogo consegue preencher a falta que elas podem fazer em seu nível mais banal e, até certo ponto, tedioso.
É até estranho pensar que, dentro todos os lançamentos de 2020, esse foi o único que realmente me tocou e despertou alguma emoção. Não porque o ato de voar na classe econômica seja algo emocionante, mas sim pelos fatores associados. Ao me ver na poltrona virtual do jogo fazendo coisas essencialmente banais, eu me lembrei exatamente de fazer os mesmos rituais na vida real enquanto me preparava para alguma cobertura.
É nesse quesito que o jogo realmente “fisga” e se torna algo maior do que sua proposta central. Ao permitir reviver o “normal”, mesmo que de forma intangível, Airplane Mode fornece uma válvula de escape para uma realidade marcada pelo home office — em que dias e meses se misturam sem grandes distinções entre si. Também ajuda muito o fato de que o game possui uma bela seleção de podcasts (em inglês) e alguns cheats, como o de se entupir de remédios para dormir, “encurtando” as distâncias de voo. Da mesma forma, foi uma solução interessante colocar clássicos de domínio público, como La Lune à um Métre de Georges Mélies, dentro da seleção multimídia oferecida pela tela interativa do assento à frente do jogador.
Dentro dos moldes esperados para um game convencional, Airplane Mode não é exatamente a coisa mais interessante ou com mais qualidade que você pode encontrar hoje em dia. No entanto, se encarado como uma experiência interativa que simula o banal e nos dá um senso de normalidade dentro do contexto atual de pandemia, ele é surpreendentemente interessante e, em certo nível, emocional.
Se viajar para diferentes cantos do mundo faz (ou fez) parte de sua rotina em algum momento, experimentá-lo pode ser uma experiência até mesmo tocante. Em outros casos, ele vale pela curiosidade, mas sua simulação de sentar (e esperar) na classe econômica é tão interessante quanto essa premissa pode ter para você na vida real — com a desvantagem de que um destino interessante nunca o espera no fim da viagem.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm