Há alguma semanas, recebi a proposta de ser transferido para outro departamento da empresa — não exatamente uma promoção, mas um remanejamento de função. Para isso, deveria abdicar da vida de pesquisador e do horário administrativo para ocupar um cargo mais variável em termos de local e turno de trabalho. Em poucas palavras, rapidamente me tornei um viajante que volta a cada duas ou três semanas para casa, tendo como minha principal diversão nas horas vagas meu Nintendo Switch.
Uma cópia de Road 96 caiu em minhas mãos justamente quando comecei a ficar mais longe de casa. Percorrer grandes distâncias de carro, conhecer diferentes regiões do país e resolver meus próprios problemas como um adulto se tornaram parte da rotina, mas o que mais me chamou a atenção não são as responsabilidades de cada dia, mas sim as pessoas no caminho. Curiosamente, o adventure feito pelo estúdio independente francês Digixart não se distancia tanto dos sentimentos, experiências e problemas do nosso cotidiano.
Road 96 narra jornadas de jovens tentando chegar até a fronteira mais próxima, na qual um monte bastante famoso ao norte do país é considerado um símbolo da resistência popular para os oprimidos e de terrorismo para os opressores. A nação fictícia, cujo mapa se assemelha ao contorno estadunidense, vive um momento um tanto instável (para não dizer nefasto) em sua história. A detenção e a tortura de jovens que se arriscam na tentativa de desbravar novos horizontes se tornaram projeto político do então presidente Tyrak, e a candidatura da opositora Florres parece ser a última esperança do povo.
O jogo tem uma estrutura narrativa dividida em capítulos, independente do resultado procedural gerado por uma jornada em particular. Em cada seção, controlamos uma pessoa com idade, vivência e aparência diferentes, mas os atributos que farão a maior diferença em sua aventura são a energia, o dinheiro e a distância até o objetivo. O jogo justifica a introdução de um novo personagem jogável por meio de noticiários e anúncios televisivos sensacionalistas, colocando desde os primeiros segundos de cada história o jogador ou a jogadora contra a parede na hora das escolhas.
Independente de quem você esteja interpretando, quem brilha são as figuras que encontramos enquanto sobrevivemos na estrada. Para cada um dos principais NPCs apresentados, há um percentual crescente indicador do quanto sabemos sobre seus passados, segredos e planos. Essas seis personalidades, desde um garoto órfão extremamente inteligente a uma apresentadora de TV detestável pela defesa de pautas ditatoriais, são bastante vocais e expressivas sobre suas opiniões políticas (ou sobre a ausência intencional delas).
A escrita do jogo é genuinamente divertida e interessante, além de ser acessível tanto na simplicidade da escolha de palavras quanto nas diversas opções de legenda (incluindo o português brasileiro no pacote). Mesmo que o roleplay seja comprometido, a tensão é sentida em diversos momentos nos quais respostas específicas são essenciais para se desvencilhar de uma abordagem policial ou de uma desavença com andarilhos, por exemplo. Vale lembrar que falhar também é uma forma de concluir uma jornada, mesmo que jogos tenham a tendência de nos motivar à vitória e ao sucesso.
Road 96 apresenta escolhas bastante delineadas politicamente falando, boa parte das vezes nos mostrando que não tomar partido em discussões é sim apoiar os mais privilegiados e os que estão no poder. É uma pena que o jogo demore tanto para mostrar seu potencial, e também que seu desempenho no Nintendo Switch sofra pontualmente com congelamentos e carregamentos de telas incômodos. De qualquer forma, recomendo a todos que, assim como eu, gostam de um bom papo de beira de rodovia.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm