Matéria: A exportação cultural de Dandara - Neo Fusion
Matéria
A exportação cultural de
Dandara
1 de março de 2018
Código do jogo fornecido pela Long Hat House e pela Raw Fury. Para evitar possíveis conflitos de interesse, nós do Nintendo Fusion evitamos fazer análises tradicionais de jogos brasileiros, mas ainda desejamos criar conteúdo sobre aqueles se destacam por sua qualidade, abordando algum aspecto que nos chamou a atenção.

Após algumas horas jogando Dandara, o soulstroidvania mineiro rapidamente subiu para ocupar um posto entre os melhores jogos nacionais que já tive o prazer de experimentar. Isso se deve principalmente à sua jogabilidade, diferente e inovadora, que não tem medo de quebrar convenções dos gêneros que a inspiram.

As características mecânicas de Dandara valem muita discussão. É um exemplo excelente da filosofia de design por subtração — “como seria um jogo de plataforma sem poder andar?” — e a equipe Long Hat House faz um ótimo trabalho explorando todas as possibilidades e consequências dessa decisão.

No entanto, Dandara é bastante interessante por outro aspecto também. Através de referências que variam de sutis a explícitas, o jogo mostra aspectos da cultura brasileira de uma forma nunca antes vista em um videogame — e raramente vista até mesmo em outras mídias.

A brasilidade na mídia

Um aspecto curioso sobre a cultura produzida no Brasil é que, em sua maioria, a produção é voltada ao consumo dos próprios brasileiros. Isso é compreensível, afinal quase tudo feito no Brasil é feito em português, e não há um grande público internacional para o idioma. Mas não é só o idioma que restringe o apelo internacional de filmes, novelas, livros e músicas do Brasil. Muitas vezes, os temas que essas produções abordam são particularmente interessantes para brasileiros; são temas que rodeiam partes da realidade que nós vivemos, que é inevitavelmente alienígena para quem vê de fora.

Videogames fogem um pouco disso. Talvez por ser uma mídia mais moderna, com criadores que cresceram envolvidos na comunidade global da Internet. Para muitos jogadores e criadores de jogos, a barreira cultural entre países diferentes é muito menor do que a diferença entre o nosso mundo e tantos outros mundos fictícios criados para seus jogos.

Mas existem jogos que traduzem aspectos culturais de um lugar, mantendo-os interessantes para audiências estrangeiras. A série Yakuza é famosa por fornecer uma simulação da vida noturna de Tóquio, enquanto Assassin’s Creed merece louvor pela atenção dada à representação de cada cidade que visitamos em seus títulos. Por enquanto, não há nada desse tipo para o Brasil.

Existem jogos de caráter educacional, geralmente financiados pelo governo através da Ancine, que enfatizam aspectos da cultura brasileira. No entanto, quando um jogo é produzido exclusivamente com esse objetivo, o restante da obra tende a sofrer e, como um todo, esse não será um produto remotamente interessante para uma audiência estrangeira.

Todos esses exemplos ilustram como é digno de reconhecimento quando uma obra consegue ilustrar, de uma forma ou de outra, parte da cultura nacional sem sacrificar a própria qualidade no processo. E é por isso que nós, brasileiros, devemos tomar um momento para apreciar Dandara.

Dandara dos Palmares

Além do conceito de jogabilidade, que pode parecer absurdo ao descrever, Dandara é corajoso de uma outra forma importante: traz uma mulher negra como sua protagonista. Naturalmente, a personagem é inspirada em Dandara dos Palmares, a esposa do famoso líder antiescravagista Zumbi. Sendo perfeitamente sincero, eu nunca havia ouvido falar de Dandara até conhecê-la quando fui descobrir a origem do título do jogo.

Dandara é tida como uma figura heróica no movimento antiescravagista brasileiro, porém há muito menos histórias registradas dela do que de seu marido. A história da guerreira Dandara é tão vaga que muitas vezes se assemelha a uma lenda, fazendo dela uma interessante inspiração para uma personagem também heróica. Ao escolher o nome e a aparência da protagonista, os desenvolvedores prestam homenagem à figura histórica de Dandara e o que ela representou, mas também valoriza todas as mulheres negras da atualidade que raramente se sentem representadas por personagens de videogames. E, é claro, mulheres negras foram uma classe de pessoas importantíssima para a cultura brasileira.

Mas só paramos para pensar sobre isso porque Dandara é um jogo bom. Porque é um jogo ótimo e inovador em sua jogabilidade, agradabilíssimo em sua estética visual e sonora, e instigante em sua narrativa (mesmo que às vezes ela seja, assim como a história da guerreira Dandara, um tanto vaga). O fato do jogo prender nossa atenção nos faz querer entender melhor quais são as origens daquilo que ele nos mostra. Mas, ao mesmo tempo, Dandara não é tão envolto em suas referências para colocá-las como ponto central do título. Grande parte das referências são limitadas à primeira região do mapa.

Nessa primeira região encontramos duas salas com nomes curiosos: os bares Garantido e Caprichoso. Quando encontrei o Bar Garantido, pensei que fosse apenas uma piadinha — a placa “Garantido ?” dá a entender que o nome indica a qualidade do bar. Mas, ao encontrar outro chamado Caprichoso, notei que havia algum motivo maior para esses nomes. Leitores devem ter observado que tratam-se dos nomes dos bois folclóricos do Festival de Parintins, algo que eu lembro de ter estudado na escola vários anos atrás mas havia esquecido.

A referência que entendi de imediato foi à Tarsila do Amaral, através da personagem Tarsila representada pela famosa figura do Abaporu. Eu já conhecia algumas obras da Tarsila, mas espero que a personagem do jogo incite jogadores — brasileiros e estrangeiros — a conhecerem mais sobre a artista.


Dandara pode não ser uma enciclopédia de cultura brasileira em formato de jogo, mas traz em diversos momentos referências de bom gosto a figuras importantes da nossa história e do nosso folclore. Ele não tem o objetivo de nos ensinar diretamente sobre essas figuras, mas sim de nos deixar curiosos sobre o que inspirou esses elementos. Quanto mais eu jogo, assisto e leio sobre Dandara, mais referências eu encontro sobre algum elemento brasileiro importante. Tudo isso não valeria de nada se Dandara não fosse um jogo bom, mas, felizmente, é um jogo excelente em diversos aspectos.

Dandara é criação dos brasileiros Lucas e João, que compõem o estúdio Long Hat House em Belo Horizonte.

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Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

[…] a alternativa não é descartada. Até mesmo tivemos uma história inédita do marsupial em Crash Bandicoot 4: It’s About Time. Poderíamos ter uma nova versão futuramente de Crash Bash – o party game da franquia […]

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[…] não sendo tão inovador e debatível quanto Her Story, o título certamente conquista um espaço importante no (já não tão popular) gênero dos […]

Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm