Análise: Broken Sword - Shadow of the Templars: Reforged - Neo Fusion
Análise
Broken Sword - Shadow of the Templars: Reforged
22 de novembro de 2024
Tivemos a oportunidade de jogar o jogo, na versão de Nintendo Switch, com um código fornecido pela publisher

Um dos gêneros de jogos mais antigos são os jogos de Aventura, surgindo desde quando os computadores não tinham muita capacidade para fazer imagens e gráficos, antes mesmo de sistemas operacionais como Windows, Linux e Mac virarem o padrão industrial. De Mystery House (1980) a Wolf Among Us 2 (para ser lançado em 2025), os jogos de Aventura evoluíram bastante em seu conceito e no que exatamente é considerado um jogo de Aventura, já que é um termo tão abrangente – mas no fim das contas creio que é definido como um jogo que você precisa encontrar itens-chave para seguir em frente no jogo, sejam eles na forma de a opção de diálogo certa, itens espalhados pelo cenário ou até literais chaves. Resident Evil tem um pouco de jogo de Aventura, Zelda tem um pouco de jogo de Aventura, mas hoje estamos falando de uma vertente específica, mais ligada aos primórdios do gênero: Aventura Point & Click, ou de “apontar e clicar”.

Muito populares no fim dos anos 80 e começo dos anos 90, com grandes nomes como Sierra e Lucasarts comumente ligados ao gênero, os jogos de aventura point & click pediam que você fizesse exatamente isso – apontar e clicar – para explorar ambientes diversos, conversar com personagens peculiares e usar itens em maneiras lógicas e muitas vezes ilógicas para resolver situações e quebra-cabeças: Chegando a uma garagem fechada, você precisa achar um jeito de abrir a porta, e você não tem uma chave. Como fazer isso? Será que aquela corda ao lado abre a porta? Abriu, mas não tenho tempo para entrar antes que ela feche por si só, mas e se eu colocar algo pesado pra porta sempre ficar aberta? Não tenho um peso, mas esse saco de batatas deve servir – situações como essa estão em todos os lugares nesse tipo de jogo, e tudo depende de onde e por que você está fazendo isso tudo. E no caso de estudo de hoje estamos trazendo esse tipo de situação a um contexto ligado a mistérios do passado, joias valiosas e assassinos vestidos de palhaço, com Broken Sword – Shadow of the Templars: Reforged.

 

Captura de tela de Broken Sword Reforged, onde o protagonista George Stobbart está conversando com personagens locais em um bar
Os bares e suas personas locais são um ótimo lugar clássico de point & click

 

HISTÓRIA – MEIO-DIA E CONSPIRAÇÕES EM PARIS

Broken Sword – Shadow of the Templars foi originalmente lançado em 1996 para computadores e PS1, pelos desenvolvedores ingleses Revolution, com a intenção de fazer um jogo de aventura point & click menos focado no aspecto de “humor” que vários jogos do gênero tinham, e mais em uma história engajante que lembrasse um filme de calibre similar. A história nos põe na pele de George Stobbart, um turista estadunidense em Paris, e um belo dia, sentado no Café de la Chandelle Verte, George se vê subitamente no meio de uma explosão causada por um homem fantasiado de palhaço, e ao investigar um pouco do que aconteceu, acaba descobrindo mais e mais sobre a natureza do atentado, levando ele a bater cabeças com a polícia local, fazer amizades com uma repórter parisiense chamada Nicole Collard que procura uma história digna de lhe fazer fama, e dar de cara com um homem suspeito com uma cicatriz no rosto com claras conexões ao atentado.

Tudo isso culmina em uma aventura pela Europa envolvendo conspirações, uma máfia de assassinos e tesouros lendários ligados aos antigos Cavaleiros Templários, enquanto George e Nicolle (ou ‘Nico’) procuram respostas e tentam se manter vivos em meio a todo esse perigoso mistério. Não posso me aprofundar muito mais na história sem dar maiores spoilers, então vou deixar por aqui e dizer apenas que a história funciona bem – definitivamente é engajante, mas apesar do clima um tanto perigoso dessa explicação, uma boa parte do tempo é passada investigando cantos muitas vezes pitorescos e peculiares da Europa em um tom bem calmo e lento. Não é um jogo extremamente urgente, o que combina com a natureza de um jogo de point & click investigativo, mas os acontecimentos dramáticos ainda tem uma boa dose de impacto, garantindo que você mantenha o interesse durante a jornada. Minha maior crítica é que infelizmente não temos uma versão traduzida para português, então em um jogo onde a história e diálogo são pontos principais, pode acabar sendo um ponto chave que não vai ser aproveitado por todos.

 

Captura de tela de Broken Sword Reforged, onde o protagonista George Stobbart está sendo interrogado sobre o incidente em um café
Você não é policial, mas com certeza vai se sentir profissional de investigação

 

JOGABILIDADE – NA TRILHA DOS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS

 

Broken Sword é um jogo extremamente fácil de entender, mecanicamente: Como o nome do gênero insinua, você aponta nas coisas com as quais você quer interagir e clica nelas para interagir de diferentes formas, seja observando, tocando, operando ou falando – observação é feita com um botão e ações são feitas com outro botão, e mexer os analógicos (ou mouse, se você estiver jogando em um PC) movimenta seu cursor para que você direcione ao que quer interagir. Você vai explorar locais como ruas pouco movimentadas, bares, hotéis, ruínas, museus e até um castelo, e nessas explorações você encontra vários personagens diferentes com bastante personalidade, um toque senso de humor, sagacidade e muitos sotaques exagerados – E em meio às conversas e investigações, você encontra vários itens para adicionar ao seu inventário que podem ser usados em algumas maneiras criativas com o ambiente ou em conversas com novos personagens para progredir a história. Às vezes você precisa usar um item em algum ponto do cenário, algumas raras vezes precisa unir dois itens antes de usá-los e ocasionalmente usar vários itens em sequência para resolver um quebra-cabeça.

Em verdadeiro estilo de point & click, os quebra-cabeças e o roteiro da história são a essência do jogo, e quase tudo depende de como estes são feitos. O roteiro de Broken Sword funciona bem na grande maioria das vezes, e raramente senti que o jeito que as coisas eram apresentadas me era confuso, algo definitivamente favorecido pela versão Reforged do jogo, mas dou mais detalhes sobre isso daqui a pouco. George e os outros personagens são um tanto rudes uns com os outros aparentemente sem motivo, mas isso é esperado do humor britânico, e me peguei rindo de algumas situações como essas. Senti um pouco de falta de Nico em algumas situações do jogo – acho que ela poderia ter tido um pouco mais de presença, já que ela passa a maior parte do jogo escrevendo em seu apartamento, mas entendo que ter dois personagens ao mesmo tempo provavelmente não iria adicionar muito à jogabilidade e credibilidade. Adicionalmente, senti que mais para o fim do jogo as coisas começavam a ficar muito apressadas e desconexas, tirando um pouco da satisfação do final do jogo – mas não vou adentrar muito em detalhes por motivos óbvios.

 

 

Os quebra-cabeças de Broken Sword envolvem junção de itens levemente corriqueiros para resolver situações que estão no caminho de seu progresso, desde como abrir uma porta que está fechada através de um mecanismo complexo a como convencer um barman a deixar você entrar no porão do bar. A grande maioria deles vai te pedir apenas que você investigue os itens que tem e os personagens ao seu redor para juntar uma situação a outra – usando o exemplo do barman, você pode notar que ele tem problemas na tubulação do bar e usar um item para se oferecer a resolver o problema dele, dando a você entrada no porão, por exemplo. Entre entusiastas de jogos de aventura – especialmente point & click – é comum ouvir o termo “moon logic” – “lógica da lua”, para se referir a algumas situações bizarras que desafiam o senso comum, presente em vários outros jogos do gênero, principalmente os jogos da Sierra de antigamente.

Para Broken Sword, não senti que a grande maioria dos quebra-cabeças era complicado demais ou que chegava a esse ponto, apesar de ficar preso em algumas partes do jogo, especialmente as que pedem que você faça coisas no tempo certo – como pegar uma toalha no exato momento que o dono da toalha se distrai – mas é válido lembrar que Broken Sword é notório por um momento específico: O quebra-cabeças envolvendo o bode de Lochmarne. É um dos quebra-cabeças mais odiados do mundo desses jogos, e apesar de a solução ser relativamente simples, ele é uma daquelas situações que esperam que você faça algo que só é possível fazer naquele momento específico, e onde o protagonista nunca mais faz durante todo o jogo, desafiando exatamente o senso de lógica e possibilidades que o jogo apresenta. Por sorte, a versão Reforged está aqui para ajudar a mitigar um pouco desses problemas.

 

Captura de tela de Broken Sword Reforged, onde o protagonista está segurando a foto de um homem suspeito roubando uma maleta e saindo de uma casa
Coisas como close-ups e cinemáticas foram bem melhoradas na versão Reforged

 

REFORGED – AFIANDO E ADORNANDO A LÂMINA

 

Broken Sword – Shadow of the Templars: Reforged é o nome dado a essa nova versão do jogo original de 1996, e essa versão faz tudo o que você espera de um remaster: Uma melhoria clara nos visuais, aumento da qualidade da música e adição de algumas coisas que fazem a experiência um pouco mais moderna e “afiada” para os padrões atuais. Os gráficos foram bem mais trabalhados para trazer algo que parece muito mais uma animação 2D ao estilo de Atlantis ou O Caminho Para El Dorado, com bastante movimento fluido e até algumas cinemáticas redesenhadas – tudo respeitando bastante o jogo original, que ainda é bem animado e bonito para a época, mesmo que bem pixelizado. A qualquer momento, você pode apertar um botão para trocar entre os gráficos originais e os modernos (com exceção das cinemáticas e alguns ícones), algo que prezo bastante em remasters como esse ou Wonder Boy – The Dragon’s Trap, permitindo que você possa fazer comparações constantemente e absorver a evolução do estilo de arte. Musicalmente, creio que as composições combinem com o tom de aventura e descobrimento do jogo, mas não me lembro de muito da trilha sonora em geral, infelizmente.

As modernizações do jogo incluem alterações nas fontes do texto para facilitar a leitura, possibilidade de recordar tudo do último diálogo que você encontrou, inclusão de conteúdo bônus que havia sido cortado do jogo original, ajuste de dificuldade e, mais importante de tudo, um sistema de dicas para aqueles momentos que você eventualmente vai ficar sem saber o que fazer. Por padrão, você pode acessar o sistema de dicas do menu de pausa, e uma nova dica pode ser acessada a cada 5 minutos de jogo, após você encontrar uma nova situação/objetivo – um sistema que vi pela primeira vez em Torin’s Passage, e gostei bastante de como é utilizado – mas você pode alterar isso no menu para 30 segundos ou até 1h entre dicas, além de coisas como dicas automáticas onde o jogo vai iluminar certos pontos de interesse automaticamente para você, e você pode inclusive alterar a frequência destas. Certas coisas que ajustam a velocidade do jogo também podem ser alteradas, como transições mais rápidas entre cenários e marcadores que indicam se algo é interagível ou não – tudo isso transforma Reforged em uma versão bem confortável e cheia de opções do clássico jogo de aventura.

 

Captura de tela de Broken Sword Reforged, onde o protagonista George Stobbart está explorando uma igreja com um vitral colorido e caixões dos Cavaleiros Templários
Essa igreja é um belo exemplo de como o jogo ganhou um novo visual que ficou muito bonito

 

CONCLUSÕES – VALE A PENA?

 

A grande maioria das minhas críticas a Broken Sword já está entre as linhas anteriores, e enquanto creio que é um jogo bem divertido se você gosta de um bom jogo de investigação e não se importa de algo mais “parado” e focado em diálogo, não acho que vai ser algo para todo mundo – não é à toa que o gênero de jogos de aventura virou um nicho cada vez menor depois dos anos 90. Enquanto os quebra-cabeças não são muito complicados, em alguns momentos senti que queria usar as dicas para passar logo e as dicas iniciais me pareciam óbvias demais, a sensação de “tá, dessa parte eu sei, quero saber o que mais falta para sair daqui”, e este é um daqueles jogos que não te dá muitos motivos para jogar de novo quando você termina a campanha de pouco mais de 10 horas.

Por sorte, a versão Reforged é cheia de pequenas coisas que você pode customizar a sua maneira, então creio que é fácil dizer que essa é a versão definitiva da experiência, e que isso traz uma boa porta de entrada para quem deseja se aventurar pelo gênero. Você tem uma história interessante, visual muito bem animado e um bom senso de humor e aventura com várias mudanças de qualidade moderna que merece ser experimentado, ou pelo menos posto em sua lista de desejos.

 

Captura de tela de Broken Sword Reforged, onde o protagonista está segurando um cartão postal com seus vários desenhos
Você também desenha nos seus cartões postais? Como assim “não”?
Broken Sword - Shadow of the Templars: Reforged é a versão definitiva da experiência de um clássico jogo de aventura point & click - traz tudo o que fez do original um clássico e põe várias opções a mais que fazem dele uma experiência confortável que é fácil de ser customizada à sua preferência. Enquanto não vai ser o jogo mais mirabolante ou marcante em termos de palco e história, é uma aventura charmosa e com bastante personalidade que foi muito bem modernizada e merece ser dada uma chance por fãs e novatos ao gênero.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm