Vivendo como uma criança nos anos 2000, tive bastante tempo que passei assistindo desenhos animados na TV aberta. Eventualmente minha família passou para o VHS e os DVDs, mas até mesmo com isso, entre as várias vezes que rebobinei o VHS a tal ponto de quebrar a fita ou o tanto de vezes que repeti uma mesma cena de um DVD, lembro de procurar bastante em horas ociosas mais desenhos animados, e tenho vagas memórias de ver vários tipos diferentes de reprises de desenhos – dos bizarros que não lembro o nome aos calmos e tranquilos, passando por alguns que usavam stop motion e bonecos, e eventualmente chegando no mundo colorido dos Ursinhos Carinhosos.
Nomeados originalmente de Care Bears (essencialmente ‘ursos do cuidado/carinho’), eram mascotes de cartões de boas festas/aniversário que eventualmente ganharam pelúcias e alguns desenhos animados, e até alguns filmes. E obviamente, quando algo vende bem em desenhos ou filmes, com a popularidade de videogames e consoles, é apenas questão de tempo para que uma série famosa tenha seus próprios jogos, e hoje estamos dando uma olhada no mais recente (sim, existem vários): Care Bears to the Rescue.
Levemente baseado no material de origem, Care Bears To The Rescue é um jogo de plataforma 2D feito pelo estúdio indie belga Polygoat, algumas experiências em VR e AR, além de um jogo de plataforma chamado Stitchy in Tooki Trouble. Care Bears To The Rescue conta uma história de três vilões tentando fazer uma nova invenção maligna funcionar, mas quando um deles se atrapalha, acabam por espalhar várias sementes de escuridão pelas Terras Do Carinho, atrapalhando vários reinos e trazendo objetos e frutas inanimadas à vida. Isso leva os Ursinhos Carinhosos a se juntarem para tirar toda a energia negativa das cinco sementes de escuridão usando seus raios de carinho e canhões feitos pelo inventor do grupo, Grumpy Bear (não lembro qual o nome dele na versão traduzida, perdão). Premissa simples, mas nada fora do esperado de um bom jogo de plataforma – Seu objetivo é claro, vá lá e resolva o problema.
Em termos de jogabilidade, você pula, se pendura e usa o Raio do Carinho para derrotar inimigos enquanto coleta estrelas (o equivalente às moedas de Super Mario Bros) e adesivos dos personagens do universo dos Care Bears (o colecionável principal, equivalente aos pedaços de quebra-cabeça em Donkey Kong Country Returns). O jogo tem um foco bem notável na cooperação, e não é difícil ver que é um jogo feito para ser jogado com várias pessoas – de 2 a 4, com um menu de seleção similar a Castle Crashers ou Scott Pilgrim – e cada pessoa pode escolher um Ursinho diferente com uma característica própria: Coisas como andar mais rápido, recuperar vida ao longo do tempo ou ter um sensor mostrando onde estão os adesivos. São habilidades um tanto secundárias, mas é interessante a adição de pequenos bônus dependendo do personagem.
Durante o percurso das fases, você vai encontrar alguns obstáculos que só podem ser atravessados com um Ursinho específico, indicados pelo símbolo daquele Urso (o símbolo da barriga de cada um), para que aquele Ursinho use o seu Raio do Carinho no símbolo para alterar o ambiente, como criar plataformas novas ou iluminar o caminho. Se você estiver jogando a sós ou se aquele personagem não estiver no seu grupo, o Ursinho necessário vai ficar esperando naquele ponto necessário para te ajudar. Apesar de ser um jogo de plataforma, Care Bears não permite que você derrote os inimigos simplesmente pulando neles – o único jeito de derrotá-los é com o mencionado Raio do Carinho, e se você estiver a sós isso pode demorar um pouco mais do que o esperado para derrotar um inimigo comum em um jogo de plataforma. Essas duas situações mencionadas ajudam a pôr ainda mais ênfase na cooperação de multijogador, visto que se todos concentrarem o Raio em um mesmo inimigo, ele é derrotado bem mais rápido – e isso cabe bem na proposta dos Ursinhos Carinhosos.
Infelizmente, essa cooperação é o ponto mais alto que posso dizer sobre o jogo, pois Care Bears To The Rescue é extremamente básico e sem sal em qualquer outra característica. As seções de plataforma são básicas e quase indistinguíveis (além dos ambientes de fundo) entre si, e quando elas se destacam elas acabam rápido demais, porque cada fase termina antes que você possa piscar os olhos. Em contrapartida, talvez as fases curtas sejam uma bênção, pois o método de combater os inimigos ou se livrar de obstáculos – o Raio do Carinho – age um pouco lento demais, e para usar ele você precisa estar completamente parado, o que significa que o jogo é um movimento de acelerar-e-parar constante que nunca realmente “engata”, algo que simplesmente não flui.
Fazendo uma comparação, um bom jogo de plataforma tem um fluxo variado que vai tendo picos e vales diferentes, como uma montanha-russa – ela desacelera na subida, tem pontos rápidos onde desce e tem algumas curvas e manobras diferentes no decorrer dos trilhos, trazendo uma experiência que é variada e que flui bem. Care Bears to the Rescue é como ir em uma montanha-russa que não tem vales ou picos, ela é simplesmente uma linha reta, e para piorar, o carrinho está constantemente parando. Entende o que quero dizer?
As estrelas colecionáveis não parecem ter nenhuma utilidade além de simplesmente coletá-las pelo princípio de um jogo de plataforma, e por algum motivo, as seções que pedem que você se pendure em galhos ou cipós pedem que você use um botão separado para se pendurar em vez de se prender automaticamente ou usar o direcional/analógico para cima, e o Raio do Carinho tem um medidor que cai quando você o usa, mas recupera sozinho – não são coisas que quebram o jogo, mas são decisões esquisitas que só me deixam confuso, parece que queriam fazer algo diferente e não foram até o final com a ideia. Os adesivos colecionáveis preenchem um álbum que diz algumas biografias rápidas sobre os personagens do universo dos Ursinhos Carinhosos, e enquanto não é nada muito além de uma mesma imagem no formato de um adesivo com duas ou três linhas de texto abaixo, gosto que pelo menos tem alguma espécie de recompensa por coletar os adesivos.
Os obstáculos e inimigos todos pedem que você faça a mesma coisa – usar o Raio do Carinho – com a única diferença de “quanto você precisa esperar para usar”, e a jogabilidade raramente muda, com exceção das fases de “chefe”, onde você pilota uma aeronave ao estilo de um shmup, e são partes levemente mais movimentadas, mas extremamente fáceis: Morrer no resto do jogo te leva ao último checkpoint, mas morrer nessas fases simplesmente te renasce no mesmo local que você estava, sem nenhuma punição, o que significa que você pode só se arremessar nos inimigos sem o menor apreço pela própria vida e estar seguro com isso. Fora essas fases, ao final de cada “mundo” você tem um breve minigame que pede que você faça coisas como entregar doces aos personagens certos antes que eles desistam do pedido ou seguir o ritmo da abelha rainha como em um “guitar hero“, e todos eles são uma distração inconsequentemente básica que essencialmente está lá para dar um pouco mais de variedade, mas acabam em menos de 5 minutos.
No fim das contas, Care Bears to the Rescue não é exatamente ruim, apenas extremamente simples – algo que não é de todo mal, afinal de contas, prezo a simplicidade em muitos jogos, e é importante que tenhamos jogos para introduzir novas pessoas ao universo de jogos. O problema é que sinto que comparativamente existem vários outros exemplos de jogos “introdutórios” que são mais divertidos, e a menos que você seja muito fã dos Ursinhos Carinhosos e tenha outros amigos dispostos a jogar, ou esteja procurando um jogo simples para jogar com seus filhos bem crianças, não acho que existe muito que possa recomendar aqui. Alguns conceitos são interessantes, a ideia de cooperação é legal, tem alguns personagens (os vilões) pra desbloquear e o jogo apesar de simples nunca travou ou teve problemas técnicos, mas a maioria esmagadora da aventura é maçante e banal, e deixa bastante a desejar.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm