Análise: Crash Bandicoot 4: It's About Time - Neo Fusion
Análise
Crash Bandicoot 4:
It's About Time
20 de outubro de 2020
Cópia digital da versão de PS4 do jogo gentilmente cedida pela Activision Brasil.

Em algum momento da história dos videogames, colocou-se que jogos de plataforma deveriam impor certa dificuldade para execução de pulos. Seja através de Mario e seu segundo mundo extremamente difícil, ou no famoso Rei Leão de Super Nintendo e suas fases demasiadamente punitivas, o que importa é que virou uma marca do gênero. Lá em 1996, quando o primeiro Crash Bandicoot foi lançado, muita gente descobriu isso por meio  da frustração em três dimensões.

Mais de 20 anos depois, um jogo de Crash que carrega o número 4 saiu e, embora existam sim vários exemplos de jogos de plataforma difíceis nesses anos todos, talvez ele seja o maior expoente do que eles foram um dia. Ao mesmo tempo que em plena uma da manhã de uma sexta-feira eu estava chegando na morte de número 473 na última fase do jogo, o que seria o suficiente para qualquer um se frustrar, eu ainda me vejo revisitando o jogo em pequenos intervalos e tentando alcançar os vários colecionáveis disponíveis. É esse estranho grinding, de certa forma, com a constante noção de que se trata de um jogo difícil, que talvez torne Crash Bandicoot 4: It’s About Time um jogo tão legal. 

Intensas caminhadas

Crash 4 é, em sua essência, um jogo simples. A criatura com cara de lunático pula, pode dar um giro e também pode receber ajuda de 4 máscaras diferentes que concedem mais algumas opções de gameplay: desacelerar o tempo, mudar a gravidade, ativar plataformas e um giro infinito. Cada fase faz você usar essas características com certo cuidado, já que em suas primeiras visitas se você for correndo irá se deparar com alguma armadilha imprevista que cortará seu progresso inteiro.

Conforme o jogo vai avançando, ele deixa claro que quer causar no jogador uma sensação de conforto com os poderes, o que faz muitas vezes parecer que o jogo obedece a famosa filosofia kishotenketsu, adotada pela Nintendo em tantos jogos. Essa filosofia consiste em você introduzir um conceito, desenvolvê-lo e explorá-lo um pouco mais, apresentar uma “virada” e por fim dar um desafio completo acumulando todas as situações da experiência. Isso consegue transformar um conceito simples (como desacelerar o tempo) em algo que você vai aos poucos entendendo que tem nuances, tornando o jogo satisfatório.

É por isso também que, quando você está bem mais avançado no jogo e volta para uma das fases iniciais, parece que você é o Messi jogando bola contra uma criança num campo de rua em Socorro, interior de SP.  O jogo trabalha tanto sua familiaridade com as plataformas e seus detalhes em um progresso tão orgânico que a dificuldade vai se diluindo lá atrás quanto mais na frente você está. Isso obviamente não é algo novo, mas não deixa de ser algo admirável.

Ajuda que o jogo te estimula a revisitar as fases anteriores pela quantidade absurda de colecionáveis que estão contidos nelas, seja para liberar novos visuais para Crash ou sua irmã Coco, seja para liberar fases secretas com desafios ainda maiores. Nessa fórmula, acaba que o jogo te prende numa sequência de obstáculos a repetição para te forçar a entender as mecânicas e tornar os vários cenários o seu playground, permitindo você fazer barbaridades que lá na primeira vez jamais passaram pela cabeça.

Quatro personagens, nenhum tão divertido quanto o básico

O jogo também lhe concede acesso a algumas fases onde você não controla o protagonista ou sua irmã, mas sim o vilão Dr. Neo Cortex, a heroína interdimensional Tawna e o simpático caipira Dingodile. Cada um apresenta um gameplay bem diferente, sendo Cortex um shooter 3D com menos foco em plataformas. Dingodile, por sua vez, faz uso de seu aspirador para resolver puzzles, enquanto o gameplay de Tawna beira um jogo de ação 3D. É divertida a quebra de ritmo que eles apresentam, sem dúvida, mas depois da terceira ou quarta fase com eles você nota que são mais do mesmo, sem o que se aprofundar ou entender. Sem dúvidas são o elo mais fraco do jogo. Nenhum deles exala metade do cuidado que as fases dos protagonistas demonstram em prática.

Eu sou uma pessoa chata que via o anúncio de Crash Bandicoot 4 como um produto para ser vendido somente por nostalgia. Tomei vários tapas direto na cara ao admitir que, embora a nostalgia seja um grande fator presente no pacote, o jogo é legitimamente um dos melhores lançamentos do ano. Acho que, nesse final de geração, esse é o tipo de jogo que todos precisam jogar. 

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm