Análise: Erica - Neo Fusion
Análise
Erica
28 de maio de 2021
Cópia digital da versão de PC cedida pela Flavourworks.

O autor deste texto gosta bastante de histórias interativas. O poder de ter em mãos o destino da narrativa que está sendo contada — por mais simples que ela seja — me fascina e cria uma imersão especialmente atrativa. Um charme adicional, quando se leva em comparação outros gêneros — isso quando o recurso é bem feito.

Sendo uns dos títulos que incorpora essa dinâmica, Erica é uma história sucinta — e interpretada por atores reais — sobre o mistério ao redor da vida da protagonista que dá nome ao jogo. Ao acompanhar sua rotina, subitamente transformada após acontecimentos, o jogador se depara com as incertezas da jovem e as intrigas que marcam seu passado. Originalmente lançado em 2019 para PlayStation 4, o título desembarcou nesta última segunda-feira (25) no PC com boa otimização e resposta ágil de comandos. Mas isso não salva a premissa que ainda peca por ser inconsistente.

Um jogo de escolhas sem boas escolhas

Erica

Na versão para computadores, a parte técnica é a que ganha mais pontos. Pode-se dizer que o lançamento para o PC não sofre de bugs constantes e, esteticamente falando, entrega uma boa performance. A imagem é limpa e todos os artifícios técnicos estão ali para exaltar a beleza do jogo-filme.

Por outro lado, um dos grandes motivos para um jogador se interessar por um título é justamente o conteúdo narrativo. O agrupamento de informações, o desenvolvimento da história e a entrega geral de uma ótima experiência, se bem produzida, pode se tornar memorável para seus visitantes. Nisso, infelizmente, o jogo falha miseravelmente.

Sua história como um todo é frágil, os personagens são extremamente rasos e — talvez a pior parte disso — Erica não é uma figura relevante do início ao rolar dos créditos finais. Para uma premissa que se apoia tanto em um mistério sombrio, a protagonista não consegue entregar o mínimo de evolução e expressão de sentimentos, nem causar sensação alguma de empatia no jogador.

A linha tênue entre qualidade visual e qualidade narrativa

Com um roteiro superficial, não há tecnologia de ponta que o salve de cair na sombra do ostracismo. Isso é muito visível quando é preciso fazer escolhas, das mais simples que possa imaginar, e elas serem apenas repetidas pela personagem. Não há profundidade e não há a chance de se sentir envolvido por aquela cena. Além disso, há aquela velha situação, conhecida por muitos, em que sua escolha talvez não seja tão responsiva assim para os acontecimentos seguintes.

Todo o misticismo da narrativa acaba decaindo ação após ação. Em exemplificação, o que resta é equivalente a um quadro de pintura antes do artista dar a primeira pincelada: está novo em folha, polido, pronto para uso e desfruto, mas não tem nada a dizer ou oferecer, pois é vazio. 

Erica

Fazendo um paralelo rápido a títulos similares e outras mídias, a indústria do entretenimento tem tentando contar histórias já algumas vezes, seja no aspecto popular (como Bandersnatch, filme interativo de Black Mirror da Netflix) ou por meios mais gráficos (como a imersão futurista presente em Cyberpunk 2077 e em Detroit: Become Human). Nem sempre a inovação salvou seus métodos de conversar e transmitir algum tipo de satisfação para seu público-alvo.

A questão talvez não seja o que exatamente será feito para se destacar alheio aos concorrentes, mas como isso será feito. Porque, no fim das contas, o fator que provavelmente ficará guardado na memória das pessoas é o laço criado com a história que as envolveu e comoveu, se riram, se identificaram ou passaram raiva em qualquer instância. 

Em uma narrativa interativa, levando em conta a soma de fatores que a compõem (ou deveriam compor), sentir é muito importante. Erica é um jogo que, infelizmente, não transmite nada. E para os cinéfilos curiosos em como um jogo-filme funciona, uma comparação: lembra uma versão desgostosa do universo macabro do filme Midsommar (sem qualquer relação com o desfecho ou sua progressão).

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm