Análise: Fire Emblem Warriors - Neo Fusion
Análise
Fire Emblem Warriors
25 de outubro de 2017

Uma das minhas memórias de locadora era de ficar um tempão tentando definir se um jogo me atraia ou não, e essa decisão se dava principalmente pela capa, e pelas imagens e informações da contra-capa. No final de 2001, eu tinha descolado um PS2 que, ao contrário do meu console anterior, não era desbloqueado para jogos piratas. Então, após anos comprando discos “semi-originais” de PlayStation, precisei me acostumar novamente com essa tarefa de locação de games. Um dos primeiros jogos que eu aluguei foi Dynasty Warriors 2.

Me tornei fã da franquia, até pela novidade que o gênero representava para mim, e pelo salto tecnológico que aquilo me parecia: “como pode tanta gente em um único campo de batalha?”. De lá para cá, fui jogando quase todas as entradas da série, bem como os spin-off Samurai Warriors (que se passam na guerra civil japonesa), e posteriormente os títulos inspirados em outras franquias de jogos ou adaptações de animações: Dragon Quest Heroes, One Piece Pirate Warriors, Attack on Titan e Hyrule Warriors. Vão-se, aí, uns 15 anos jogando Musou (hack’n’slash no qual enfrentamos hordas de inimigos e generais em uma grande arena).

Isso tudo para dizer que eu já passei (algumas vezes) pela fase de me cansar de jogos do tipo, e hoje me interessa, sobretudo, como o estilo pode evoluir, e como ele propõe a tradução de outras franquias e mídias para a sua jogabilidade.

Fire Emblem é, dentro dos jogos de JRPG táticos, uma série com aspectos bastante particulares. Em sua conformação atual, a franquia se caracteriza pela relação entre os personagens (dentro e fora de batalha), pelo triângulo de armas, pela construção de uma geografia política que posteriormente se encontra com o sobrenatural e, claro, por toda a tática envolvida em seus confrontos.

Em termos de personagens, é importante ressaltar que Fire Emblem Warriors se aproveita de guerreiros de três títulos da franquia: Fire Emblem (o primeiro de todos), Fire Emblem Awakening e Fire Emblem Fates (dois dos mais recentes, ambos para 3DS). Já há indicação de outros personagens chegarem via DLC, entretanto. Além destes, temos os personagens principais, criados especialmente para FE Warriors: Lianna e Rowan. Os dois irmãos se vêem no meio de um ataque ao seu reino e acabam conhecendo os guerreiros de outros mundos. De qualquer forma, os personagens compõem um roster interessante, com um pouco de cada tipo de guerreiro que vimos durante a série.

Há uma variedade entre as movimentações dos personagens, porém Fire Emblem Warriors possui um elenco bem reduzido em comparação com outros jogos do estilo. De qualquer forma, o jogo consegue fazer com que os golpes de cada tipo de unidade sejam representativos. O mais bacana é a possibilidade de parear personagens. Além disso gerar bônus para os atributos do guerreiro que está a frente, também vai criando laço entre eles. Esse laço não apenas aumenta o bônus, como gera itens essenciais para a progressão do personagem.

Aqui, precisamos usar itens conseguidos durante a batalha, ao derrotar inimigos e nos aproximar de outros personagens do grupo, para poder criar os crests. Esses crests, que podemos escolher em árvores de progressão de cada personagem, vão ativar novos golpes, estender o combo, aumentar defesa e gerar outros efeitos especiais. Entra aí, também, o esquema do Master Seal. Aqui ele também é um item raro, e serve para elevar a classe do personagem. Não há escolha, mas é essencial definir alguns guerreiros para terem uma classe mais avançada, já que os últimos confrontos ficam bem mais complicados.

Ainda falando sobre o pareamento, há, também, diálogos que acontecem ao conseguirmos o maior rank de ligação entre um personagem e outro, mas não espere por possibilidade de romance. Aliás, essa parte é um tanto desapontadora, já que as conversas são requentadas dos outros títulos.

Pensando em termos de batalha, o pareamento serve tanto para que possamos chamar o suporte em um golpe extra, ou mesmo desferir um especial conjunto. O legal do pareamento é que ele dá algumas possibilidades táticas também, já que podemos trocar de personagem quando em uma situação de dificuldade (lembrando que o jogador pode optar ou não pelo permadeath, morte permanente dos personagens que caírem em batalhas), e, sobretudo, adequar nosso personagem ao inimigo para fazer valer a vantagem do triângulo de armas.

Principalmente nos estágios mais avançados, ou nas dificuldades mais elevadas, é essencial usar o personagem certo para o confronto certo. Atacar um arqueiro com uma montadora de dragões, por exemplo, pode resultar em um K.O com apenas um hit (e foi assim que minha Camilla morreu precocemente). Isso vai ter diferentes implicações, e mais interessantes, na forma como podemos escolher a rota dos membros do exército.

Aqui, relembrando os confrontos táticos da franquia Fire Emblem, podemos direcionar as ações dos nossos generais. Aliada ao pareamento e ao triângulo de armas, essa mecânica representa um dos pontos altos de Warriors, e talvez o que de mais interessante o jogo propôs para o Musou. É recompensador poder ter um maior controle do campo de batalha, tanto no que diz respeito aos nossos objetivos em cada confronto, quanto pela possibilidade de podermos alterar entre os personagens.

Veja, um dos grandes problemas de jogos do tipo é o que eu chamo de “sistema de babá”: nós precisamos cumprir uma série de objetivos em uma arena razoavelmente grande, e ainda temos que cuidar de tudo que é aliado. Isso é um tanto frustrante, já que parece muito arbitrário que tipos de problemas vão surgir durante a batalha. Com o esquema de Fire Emblem Warriors, nós podemos controlar o fluxo da batalha, perseguir objetivos e usar o personagem mais próximo para realizar uma ação ou proteger alguém ou um ponto. Além de tudo, esse esquema impele o jogador à entender quando é melhor afastar ou aproximar as unidades, e ainda traduz de uma forma competente a possibilidade mais tática.

As arenas de batalha (ou estágios, se preferir) também vão no sentido de propor ao jogador um pensamento direcionado para a movimentação das unidades, para o pareamento e para o triângulo de armas. Existem estágios que separam as possíveis rotas, criando obstáculos ou dificuldades no caminho. Nessas batalhas, o aspecto estratégico de FE Warriors é elevado. Infelizmente, há pouca variedade entre objetivos, tipos de terreno, inimigos e missões. É um dos maiores problemas do gênero, e ainda que existam outros títulos que tentam responder de forma mais efetiva a isso, Fire Emblem Warriors não é um deles.

Outro ponto um tanto desagradável do título é a sua conformação geográfica e política. A escolha pela história do “heróis de vários mundos estão sendo trazidos por uma força mística” não fez muito bem ao ambiente e ao enredo. Além de trazer uma série de momentos e conceitos requentados e repetidos, o mapa e os confrontos desse mundo em particular ficam em segundo plano, e isso é um problema quando temos Fire Emblem como referência. Não sentimos muita conexão entre os mapas, e também não compreendemos o enredo a partir dos campos de batalha.

Mesmo com a desculpa dos personagens forasteiros, faria bem à FE Warriors focar mais na batalha entre os reinos do mundo dos personagens principais. Seria interessante para que o enredo não se pautasse tanto pelas coisas requentadas. Há um grande carisma em Lianna e Rowan, mas isso não salva o enredo sem sal do jogo.

Fire Emblem Warriors propõem algumas coisas ao Musou, dá soluções interessantes para um problema sério, mas não traz ideias boas para outros. É competente como tradução, mas perde um pouco das características mais importantes da franquia Fire Emblem. Entre mortos, feridos, e mais de 2000 KOs por batalha, FE Warriors consegue entregar uma experiência boa, mas nada muito além disso.

Fire Emblem Warriors consegue trazer a franquia para o mundo dos Musou de forma competente, mas sem muito brilho. Tem algumas ótimas ideias e propostas, porém ignora uma série de outros aspectos e acaba desapontando no que diz respeito a eles. É um Musou competente, mas não está entre os melhores do mercado. É, sobretudo, uma interessante tentativa de dialogar as franquias que deve, no mínimo, instigar seus fãs.

Leia também

Comentários

[…] No último sábado, 13 de março, completei um ano de isolamento social. Posso contar nos dedos as vezes que saí para resolver alguma pendência obrigatória presencialmente. Pensar que o mundo mudou tanto em 365 dias me causa ansiedade. Mas, pensar como eu mudei, ou deixei de mudar, nesse período me causa mais angústia. Obviamente, não tem sido fácil para ninguém. O que restou, além das adaptações de rotina, foi reaprender a me comunicar de maneira remota. Uma dessas lições foi aprendida por meio de Stardew Valley. […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 18/02/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/previa/valheim/) […]

[…] (Texto publicado no Neo Fusion, em 14/01/2021, disponível no link: http://54.237.89.239/materia/analise/tell-me-why/) […]

[…] a alternativa não é descartada. Até mesmo tivemos uma história inédita do marsupial em Crash Bandicoot 4: It’s About Time. Poderíamos ter uma nova versão futuramente de Crash Bash – o party game da franquia […]

[…] mas também foi possível prestigiar títulos à parte dos cartunescos, como, por exemplo, o novo Tony Hawk’s Pro Skater 1+2, que resgatou a alma de um dos jogos de esporte mais icônicos de sua geração. Embora a origem […]

[…] não sendo tão inovador e debatível quanto Her Story, o título certamente conquista um espaço importante no (já não tão popular) gênero dos […]

Breath of the Wild carater família?

wishlistei

Você sabe me falar se compensa eu comprar esse ou posso jogar o original também, eu tenho o original mas não. Joguei nenhum você pode me ajudar nessa Dúvida de 259 reais kkkk

Incluindo a fonte de meu comentário.: http://www.vgchartz.com/gamedb/games.php?name=just+dance+2018&keyword=&console=&region=All&developer=&publisher=&goty_year=&genre=&boxart=Both&banner=Both&ownership=Both&results=50&order=Sales&showtotalsales=0&showtotalsales=1&showpublisher=0&showpublisher=1&showvgchartzscore=0&showvgchartzscore=1&shownasales=0&showdeveloper=0&showcriticscore=0&showcriticscore=1&showpalsales=0&showreleasedate=0&showreleasedate=1&showuserscore=0&showuserscore=1&showjapansales=0&showlastupdate=0&showlastupdate=1&showothersales=0

O que mais impressiona é que a versão mais vendida deste jogo foi a do Nintendo Switch, seguida da fucking versão de Wii! TEM GENTE COMPRANDO JUSTA DANCE PRA WII EM 218! E vendeu bem mais que no One... Dificilmente um JD 2019 vai ficar de fora do velho de guerra da Nintendo!

<3

Este jogo é fantástico! Muito bom evoluir todos os personagens. Os personagens da 2ª geração ficam ainda mais fortes. Celice, filho de Sigurd, torna-se quase um Deus, o deixei com 80 de HP, o máximo, como outros status que ficaram no seu máximo, mais os itens: Silver Sword, Silver Blade, Power Ring, Speed Ring, Defence Ring, deixando o Celice muito forte e resistente.

Obrigado! Sobre suas dúvidas: 1) Eu não consegui confirmação concreta de quem é o CEO atual da Game Freak. O pouco que descobri apontava para o Satoshi, mas é possível que ele já tenha saído sim. 2) O texto foi escrito em dezembro, antes do anúncio de Bayonetta 3. Como a ideia é lançar um listão assim a cada seis meses, acho que não vale o trabalho ficar atualizando a cada anúncio. Mas se houver demanda, posso fazer.

Belo compendium dos estúdios da Nintendo e afiliados! Só tenho duas dúvidas: 1- O Satoshi ainda é CEO da Game Freak? Pensei que ele já tinha se afastado. 2- A Platinum não está fazendo Bayonetta 3 agora?

Que bacana, o jogo parece bem legal. Só não compro porque larguei rápido o último jogo do tipo que peguei (Animal Crossing: New Leaf)

O Zelda mais zeldoso de todos

Esse é jogo é O Zelda?

Valeu :)

Realmente é algo incrível, parece até informação secreta kkkkkkk, ótimo post.

Analise justíssima, parabéns Renan! Na minha opinião, por mais que Pocket Camp seja inegávelmente a experiência mobile da Nintendo mais próxima que tivemos da “versão console”, é desnecessariamente repetitivo, incompleto e enjoativo. Além do gameplay lento (como citado na análise), não existem grandes recompensas pela progressão no jogo além de novos personagens e móveis pra construir. No fim, Pocket Camp é apenas (o pior de) New Leaf adaptado para smartphones, com 10% das funcionalidades e mecânicas free-to-play. Talvez uma atualização dê alguma tapeada na repetitividade excessiva, mas teriam que mudar tanto o jogo que nem sei se vale a pena.

Não joguei esse Zelda ainda, por isso não posso fazer comentários sobre o jogo mas sei que a Nintendo sempre capricha nos seus jogos e usa artificios muito elaborados até para as coisas mais simples, certa vez na internet achei um vídeo relacionando o construtivismo de Vygotsky com o jogo super Mario...por fim estou gostando dessa abordagem mais técnica dos jogos, sai um pouco do padrão da internet

É um openworld, no dois vc começa adolescente e vai envelhecendo, as cicatrizes permanecem, vc pode comprar casa e casar nas diferentes cidades... no terceiro muda mas as decisões são fodas, por exemplo vc procura apoio da população de uma vila pra dar o golpe no seu irmão, então vc promete uma ponte pra cidade, depois do golpe vc tem escolher entre construir a ponte e aumentar o exército da sua nação contra o inimigo do jogo ..daí sua escolha muda tudo

Eu ouvi muito de Fable na época pré-lançamento dele, mas não cheguei a jogar. Tinham muitas promessas nesse sentido mesmo, que você ia passar anos na pele do mesmo aventureiro. Ele chega a ser um openworld? E as escolhas geravam caminhos e quests diferentes?

Um jogo bem interessante mas que muita gente não gosta é Fable, vc ter uma vida, fazer escolhas que vão afetar a história é bem interessante, seria bem legal se em Zelda você pudesse desenvolver uma cidade e se tornar herói/prefeito

Rapaz, que texto. A crítica que você fez à premiação do Uncharted bate no ponto certo. As narrativas mais envolventes do universo dos games, pra mim, foram aquelas que exploraram todo o potencial de interatividade que a mídia propõe. Nada contra Uncharted e eu acho que o jogo é brilhante em vários outros aspectos, mas os exemplos citados no texto falam por si só. Enfim, gostei muito. E o site tá lindo, isso aqui é qualidade pura.

Excelente lista! O Switch é uma awesome little indie machine :)

Faltam 2 horas e estou que nem criança imaginando minha reação se eu ganhar.

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm