Sabe aqueles jogos que parece que todo mundo já ouviu falar mas ninguém sabe se é bom ou não? Talvez as pessoas tenham jogado quando eram crianças e não lembram mais, talvez você tenha alugado o jogo uma vez e nunca mais encostou nele, talvez você estivesse ao redor de pessoas que tivessem jogado e você não – qualquer que seja o caso, algumas vezes nos deparamos com jogos assim. No meu caso, um desses jogos era Glover. Como alguém que esteve amando o Nintendo 64 desde a época de seu lançamento (controle bizarro e tudo mais), é estranho que nunca acabei dando uma chance a Glover nos últimos anos, mas simplesmente ou esquecia do jogo ou não sentia um “chamado” particular para dar uma chance a esse pequeno título esquisito.
Como o título desse texto deixa a entender, isso muda hoje: A QuByte Interactive mais uma vez traz clássicos esquecidos pelo tempo para os holofotes atuais, e é com essa versão que iremos dar uma olhada no que eu estive perdendo – ou no porquê do pequeno mascote luva ter caído no esquecimento. Bem-vindo de volta, Glover!
Glover foi originalmente lançado em 1998 para o Nintendo 64 e 1999 para o PlayStation 1, desenvolvido por Interactive Studios (que viraria Blitz Games), levemente conhecidos por jogos como Frogger 2: Swampy’s Revenge ou alguns jogos licenciados, e estrelava um protagonista que é uma luva levemente antropomórfica – mais ou menos como nós usamos os dedos indicador e médio para simular uma pessoa andando. A história gira em torno de um feiticeiro que estava fazendo um experimento em seu caldeirão, e ao errar a última dose, causa uma explosão, fazendo com que o corpo do feiticeiro se transforme em pedra e caia da janela de seu pequeno castelo. Ao cair, as luvas do feiticeiro magicamente tomam vida e voam para dois cantos diferentes, uma cai no jardim abaixo do castelo – Glover, nosso protagonista – e outra cai dentro do caldeirão – se tornando o vilão do jogo, Cross-Stitch – e para piorar tudo, o impacto faz com que os cristais que mantém o castelo do feiticeiro foram todos espalhados para os portais ao redor. Para garantir que eles não quebrem, Glover usa sua magia para transformar os cristais em bolas de borracha, e agora o objetivo é resgatar todos os cristais, parar Cross-Stitch e fazer o feiticeiro voltar à sua forma humana.
Uma história simples como um bom jogo de plataforma da época, e é isso que Glover é, um jogo de plataforma 3D com alguns quebra-cabeças onde você precisa guiar a bola do início ao fim da fase utilizando Glover e seus movimentos em conjunto com a bola. É uma ideia bem sólida e criativa, diferente da ideia famosa de criar um personagem animal antropomórfico, mas ainda utilizando as possibilidades do que aquele design de personagem traz para usar em um desafio de plataforma.
O jogo usa o progresso de fase-para-fase contando com 6 mundos, cada um com 3 fases e uma batalha de chefe. Gosto muito de que, tematicamente, é realmente como se você estivesse procurando aquela bola de borracha perdida e lentamente (no processo de cada mundo) traz ela de volta ao castelo do feiticeiro, onde ela pode assumir a forma de cristal dela mais uma vez. Os mundos em si são bem básicos, dentro do esperado de um jogo da época: Uma praia pirata, um castelo assombrado, uma era pré-histórica e até o único lugar que ainda não foi corrompido pelo capitalismo, mas é tudo razoavelmente agradável, assim como a música, que é apropriadamente temática de acordo com o mundo.
As maiores nuances de Glover estão em sua jogabilidade: Como mencionei, você precisa levar o cristal-transformado-em-bola-de-borracha ao fim de cada fase, e isso se dá pela interação de Glover com a bola: Você pode rolar a bola para se movimentar, quicar a bola no chão para alcançar plataformas mais altas, arremessar e bater na bola para levá-la a lugares ainda mais altos, pegar velocidade ou até mesmo lançá-la em direção a inimigos. Longe da bola, Glover tem um movimento básico, duplo pulo e uma pancada no chão (similar à Sentada Violenta de Mario), e você pode se equilibrar em cima da bola. Passar de fase vai pedir que você use uma combinação dessas habilidades enquanto você pula, manobra, desvia de inimigos e resolve quebra-cabeças básicos (coisas como quebrar um bloco para secar um rio, apertar botões para ativar elevadores ou alterar a fase para poder chegar ao fim).
Glover mantém um ritmo um pouco mais lento do que um jogo de plataforma 3D tradicional, mas é divertido tentar descobrir como levar a bola ao fim, e algumas fases tem mecânicas bem interessantes como o uso de power-ups para mover paredes e fazer um caminho para o fim, ou as fases que usam as transformações. Ao segurar a bola e apertar R, você pode transformar a bola de borracha em outras formas: Uma bola de boliche, uma bola pequena de aço (como aquelas usadas em rolamentos para máquinas e automóveis) e até mesmo a forma original do cristal, cada uma com seus próprios usos. Por exemplo, você pode ter que arremessar a bola de boliche de uma ladeira para quebrar uma parede com o impacto, ou pode precisar usar a bola de aço para afundar e apertar um botão em um lago, ou talvez você prefira a precisão ou rapidez de alguma das transformações para atravessar uma seção cheia de precipícios: Glover tem igualmente situações onde você tem que achar a melhor forma ou transformação para resolver o problema e situações onde o jogo se acomoda à sua escolha – e nessa básica resolução de problemas e achar o que se encaixa melhor em qual cenário é onde o jogo brilha mais.
Dada a quantidade de coisas que você pode fazer e condições um tanto não-ortodoxas (não é todo personagem que carrega uma bola inanimada consigo), é importante dizer que a curva de aprendizado de Glover é inerentemente um pouco mais complicada de início do que em outros jogos de plataforma. Você realmente precisa se acostumar com o fato que quicar a bola no chão não é um exato substituto para um botão de pulo, e em alguns casos, simplesmente é mais válido parar e arremessar a bola aos poucos enquanto você vai chegando a cada precipício. Isso também significa que o jogo é inerentemente mais lento e um pouco mais “travado” do que um jogo de plataforma tradicional: O seu objetivo é transportar a bola do ponto A até o ponto B cautelosamente para que ela não estoure ou caia para fora do cenário, então não espere estar fazendo altas manobras como em Super Mario 64 – e isso pode ser um fato que afasta bastante gente. Pessoalmente, prefiro jogos um tanto mais rápidos, mas tentei manter a minha cabeça em um nível mais cuidadoso, e mesmo assim ainda me peguei frustrado uma boa quantidade de vezes.
O maior culpado dessas frustrações é provavelmente a fragilidade da bola e sua inabilidade de enfrentar certos inimigos, o que com certeza levou a uma boa quantidade de vezes onde a bola foi atingida por um inimigo e, com o impacto, ela acaba rolando para fora da fase e eu imediatamente perco uma vida por conta disso, o que me põe de volta no último checkpoint. As vidas limitadas são uma infeliz realidade da época, uma decisão de design antiquada que está lá até nos melhores jogos, e em geral você vai ter suficiente para passar de fase, mas em alguns casos inimigos podem mirar em você enquanto você está voltando de sua última morte – o que pode causar uma morte extra de graça, particularmente em algumas batalhas de chefe – e isso é bem irritante. Você também não pode atacar inimigos enquanto carrega a bola, o que significa que toda vez que temos inimigos à nossa frente, a solução é deixar a bola para trás, ir se livrar dos inimigos um por um e voltar para pegar a bola – o que simplesmente não flui nada bem e fica enfadonho rápido.
O combate quase nunca é o ponto principal de um jogo de plataforma, mas enquanto certos jogos dão um jeito do combate ser rápido e relativamente inconsequente, no caso de Glover parece que é algo à parte que você precisa fazer se quiser seguir em frente. E enquanto você não está cuidando da bola, é bom que você tenha escolhido um lugar bem plano, porque se for levemente íngreme, ela vai rolar para fora da fase – ou pior, para uma parte anterior da fase, fazendo com que você tenha que ir lá buscar a bola e fazer todo o caminho (que você acabou de fazer) de novo. São breves coisas que vão pouco a pouco fazendo com que o fluxo do jogo, que já é naturalmente lento, fique ainda mais lento, e adicione à frustração. Por fim, é válido dizer que os chefes não são nada demais: Você passa um tempo tentando descobrir o que fazer e depois disso, o chefe morre em segundos. A única exceção é o Monstro de Frankenstein que é desnecessariamente punitivo e demora bem mais do que deveria, mas em geral, nada de mais.
Glover havia meio que caído em um limbo depois do fim da empresa Blitz Games, e não consigo imaginar a loucura em termos legais que deve ter sido trazer esse jogo de volta às lojas, mas em nome da preservação de jogos, fico muito feliz que esse relançamento tenha sido feito, opiniões mistas ou não sobre o jogo. Sendo um relançamento, a versão QuByte Classics de Glover tem alguns breves bônus e adições ao pacote para os dias modernos: Para começo de história, o jogo está rodando nativamente em widescreen, sem a necessidade de bordas (mas você pode alterar para a resolução nativa 4:3 no menu), e acionar alguns filtros que emulem televisões e monitores antigos, adicionando linhas de varredura ou um aspecto um pouco mais arredondado à tela. Do menu principal você também pode acessar uma galeria de arte conceitual (que creio que também abarca a sequência cancelada, Glover 2), e remapear os controles para o que você preferir.
Infelizmente, isso é basicamente o que você pode encontrar de novo: Todo o resto de Glover está exatamente intacto de sua versão original, incluindo a taxa de quadros bem baixa, algumas hitboxes meio esquisitas (especialmente quando você quer pular em cima da bola) e, possivelmente, alguns bugs – O jogo original era infame por deletar o seu arquivo de salvamento em certo ponto no mundo do castelo assombrado, e enquanto não tive problemas aqui, não acho que seria ruim fazer uma cópia do seu save só por desencargo de consciência. Para dar crédito a algo, a versão QuByte Classics possui a opção de voltar ao último checkpoint a qualquer hora durante o jogo a partir do menu de pausa, sem perder vidas, e creio que isso ajuda a acelerar um pouco as coisas – é um legítimo elogio.
Para contrabalançar o que foi feito de bom, certas coisas como as trapaças (cheats) do jogo foram quebradas no processo: Glover tem um sistema de cheats ditado por uma galinha no jardim do castelo que faz barulhos que parecem aleatórios (incluindo arrotos ou peidos, porque os anos 90 eram terra sem lei), mas esses barulhos são na verdade indicações de uma combinações de botões que você faz no menu de pausa ao segurar R e apertar os direcionais no d-pad. Cada direcional corresponde a um barulho diferente, e ao colocar a ordem correta, você terá um modo trapaça diferente. A maioria deles são apenas cosméticos e ângulos de câmera bizarros, então são relativamente inconsequentes, mas na versão QuByte Classics, toda vez que tentei entrar em uma fase com um dos cheats ativados o jogo travou – sem exceção. Mais uma vez, são trapaças relativamente inconsequentes, mas é algo que visivelmente não está funcionando como deveria. Para me ater a um detalhe mínimo: Alguns efeitos sonoros parecem estar sendo cortados ou “engasgando” antes de terminarem de serem tocados por completo, deixando uma sensação de que o jogo está travando sem motivo, e enquanto isso é algo bem mínimo, você acaba se distraindo um pouco por isso – o que imagino que deve ser ainda pior se você for fã do jogo.
No fim das contas, sinto que o relançamento da QuByte é um modo decente se se jogar o clássico, e sempre vou ter apreço pela ideia de resgatar jogos clássicos do limbo de direitos autorais e fazê-los acessíveis ao grande público, mas ao mesmo tempo acho que merecia um pouco mais de atenção e cuidado. Entendo que às vezes é mais importante que o jogo simplesmente esteja acessível por meios tradicionais e legais, mas também sinto que se existe a oportunidade de transformar um relançamento na melhor versão de um jogo, essa é uma oportunidade que merece 100% ser seguida. Talvez com o tempo alguns dos erros sejam consertados, e espero que sejam, mas francamente até depois disso não sei se consigo recomendar Glover em um nível fundamental. É um jogo que com certeza é único, e se você for entusiasta de jogos da época no N64, provavelmente vai achar algo para apreciar aqui, mas fãs do antigo e gamers mais exigentes provavelmente não irão curtir o que está aqui e preferirão outros meios de jogar o original. De qualquer forma, digo que pelo menos espere uma promoção ou algo do tipo se você curtir esse tipo de jogo ou gostar de jogos estranhos – você com certeza não vê mais jogos como Glover, para melhor ou pior.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm