Análise: Life is Strange: True Colors - Neo Fusion
Análise
Life is Strange:
True Colors
8 de setembro de 2021
Cópia digital da versão de PC do jogo cedida pela Square Enix.

Assumir o controle criativo de uma franquia de sucesso não é tarefa fácil, especialmente quando se lida com personagens amados que foram concebidos por outras pessoas. E foi justamente essa a tarefa que o estúdio Deck Nine assumiu em 2017, quando lançou Life is Strange: Before the Storm, história que precedia os eventos do jogo desenvolvido originalmente pela DONTNOD.

Enquanto o título seguia a estrutura da aventura original e respeitava seu universo e história, tudo nele transmitia uma sensação de “pisar em ovos”. O roteiro não tinha liberdade de desenvolver todo seu potencial pois estava preso a uma linha do tempo bem definida, e todo o projeto estava sob a sombra da comparação com o original — o resultado não era ruim, mas ficava longe da inventividade e dos riscos que ajudaram a consagrar a série já em seu primeiro capítulo.

Em 2021, a Deck Nine retorna a esse universo em um contexto completamente diferente. Depois de provar que entende as qualidades que fizeram a série se destacar, ela tem em Life Strange: True Colors a oportunidade de criar seu próprio elenco e roteiro, sem ter que lidar com as restrições e exigências de trabalhar com a “criação dos outros”. O resultado é uma aventura que flui muito melhor do que Before the Storm e, ouso dizer, consegue superar até mesmo o que a DONTNOD fez em Life is Strange 2.

Uma nova chance

Life is Strange: True Colors nos apresenta a Alex Chan, uma jovem que passou por uma infância difícil marcada por traumas, lares adotivos, orfanatos e instituições de tratamento psicológico. Além das cicatrizes deixadas por uma família disfuncional, ela também precisa lidar com um poder que mais parece uma maldição e que complica muito sua convivência com os demais.

Life is Strange: True Colors

Desde sua adolescência, Alex manifesta poderes de empatia: ela é capaz de ver as emoções intensas de outras pessoas e é afetada diretamente por elas. Ao conviver com alguém deprimido, por exemplo, ela também sente vontade de se isolar do mundo e tem sua autoestima destruída. Da mesma forma, a raiva de outros serve como um gatilho para atitudes violentas e que podem resultar na agressão física — algo comum na história da personagem, especialmente devido à convivência em ambientes marcados pela rejeição e frustração.

No entanto, não é essa jornada o ponto central da trama do jogo: após diversos anos separada de sua família, a protagonista finalmente volta a ter contato com seu irmão, Gabe. Após também passar por uma juventude problemática, ele conseguiu se estabelecer na cidade de Haven Springs e agora busca reunir o que restou de sua família para retomar os laços perdidos com ela.

É nesse contexto que tomamos o controle de Alex: reunida com seu irmão e em uma cidade pequena do interior, ela tenta descobrir qual é seu lugar no mundo em uma situação na qual outros não podem mais decidir seu destino. Ao mesmo tempo, ela é forçada a aceitar e entender seus poderes, de forma a fazê-los deixar de ser uma maldição que atrapalha sua convivência com outras pessoas.

Evolução para série

É preciso destacar quanto Life is Strange: True Colors evoluiu tecnicamente em relação aos jogos anteriores, de maneira que favorece a história que está sendo contada. Além de os cenários e os personagens terem mais detalhes, a Deck Nine conseguiu trabalhar muito bem com recursos de captura de movimentos para criar figuras mais realistas — o que facilita criar empatia com eles.

Life is Strange: True Colors

Nesse sentido, o sistema de movimentação labial merece destaque, resultando não somente em falas que parecem convincentes, como em expressões realistas — é até mesmo assustador a fidelidade com que o game retrata sorrisos e um beijo em específico. Outra novidade interessante é a presença do Ray Tracing (em máquinas compatíveis), que garante uma iluminação mais realista dos ambientes e reflexos impressionantes (é difícil não ficar prestando atenção a cada detalhe mínimo dos óculos de Alex).

No entanto, se tecnicamente o jogo evoluiu bastante, em matéria de gameplay não há nada de muito diferente dos demais Life is Strange. Você ainda vai andar por ambientes com tamanhos limitados (embora um pouco maiores do que as versões anteriores) buscando objetos e interagindo com pessoas, tendo nos diálogos o elemento que define o andamento do roteiro e a forma como o mundo ao redor responde a suas ações.

O diferencial é a maneira como a habilidade de Alex funciona: menos “espetacular” que as habilidades de Max ou Daniel, a protagonista age sobre o mundo entendendo as emoções e obstáculos de outros personagens. A pedido da Square Enix, não vou entrar em detalhes sobre as situações que acontecem, mas posso dizer que tudo é bem mais intimista e, por que não dizer, interessante do que nos jogos anteriores — menos fogos de artifício e mais desenvolvimento de personagens, o que colabora muito para a qualidade do jogo.

Life is Strange: True Colors

Também vale destacar os avanços de qualidade de produção no que diz respeito à trilha sonora. Enquanto True Colors mantém a identidade “indie” da série, apostando em bandas independentes como destaque musical, aqui também há a presença de faixas bastante conhecidas: artistas como Kings of Leon, Radiohead e Dido surgem em momentos-chave da trama e colaboram para dar uma sensação mais realista à ambientação — mas não se preocupe, ainda há grupos obscuros de sobra para quem gosta do lado “esnobe musical” que Life is Strange mostrou em capítulos anteriores.

Infelizmente, nem tudo é perfeito: em minha jogatina na versão do PC, me deparei com momentos em que texturas demoravam para carregar e pelo menos um glitch gráfico bizarro quando ativei os poderes de Alex. Esses momentos não afetaram minha diversão (ao contrário de um problema de save provocado pelo Windows Defender), mas foram notáveis o suficiente para merecer uma pequena observação.

Uma bela evolução

Além de se beneficiar de avanços técnicos e uma história que é mais adulta e relacionável (algo que dependerá da subjetividade de quem está jogando), Life is Strange: True Colors também se beneficia com um melhor ritmo. Enquanto todos os três jogos anteriores da série foram lançados de forma episódica, aqui todos os 5 capítulos estão disponíveis logo de cara para que você possa maratoná-los, se assim quiser.

Life is Strange: True Colors

Embora tenha sentido a necessidade de fazer uma pequena pausa entre capítulos para digerir o que cada um apresenta, a disponibilidade imediata beneficia muito o entendimento da trama. Como não é preciso mais esperar meses para descobrir o que acontece em seguida, sinto que consegui me envolver mais com a história de Alex do que com a de Sean e Daniel de Life is Strange 2 — jogo que gostei, mas cujos intervalos de meses entre cada parte faziam com que fosse difícil relembrar o que havia acontecido anteriormente e qual rumo queria dar a eles com minhas decisões.

Life is Strange: True Colors é uma bela evolução para a série, tanto do ponto de vista gráfico quanto narrativo. Enquanto não é tão impactante quanto a história de Max e Chloe, o game consegue manter o espírito da série em alta e nos apresenta a uma nova protagonista carismática e bastante relacionável. Ainda há espaço para que a jogabilidade ofereça interações mais variadas e interessantes, mas quem gosta de experiências narrativas e com uma boa dose de mistérios tem motivos de sobra para conferir a obra da Deck Nine que, com mais liberdade, consegue demonstrar todo o seu potencial.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm