Nunca fui muito de jogar em computadores, principalmente na última década. Parece que, inegavelmente, todo jogo que é mais exclusivo para a plataforma ou é muito complexo, vide Crusader Kings III, ou é roguelike — gênero que em geral não me atrai muito.

É complicado. Quando recebi a missão de avaliar Loop Hero, admito que, assim como o icônico momento de Messi vomitando durante um jogo, eu fiquei tenso. Será que aquilo que eu sentiria pelo jogo não estaria embasado em um certo desconforto? Quase duas semanas depois, afirmo feliz que isso foi uma desinteligência enorme da minha parte e que, possivelmente, Loop Hero é o meu jogo favorito de 2021 até agora.

Um mundo devastado para você recriar

Por algum evento aterrorizante, o mundo de Loop Hero se desfez e algumas poucas pessoas sobreviveram — entre elas, o garoto com armadura de cavaleiro, que é o principal centro de nossa interação com personagens no jogo. Ele explora o mundo de forma automática, sempre andando por um pedaço de terra gerado de forma aleatória que forma um loop. Slimes, os inimigos clássicos de RPG, vão aparecendo por esses pedaços de terra e o garoto luta contra eles automaticamente. Matando-os, o personagem pode ganhar tanto armas quanto cartas, e é aí que começa a interação do jogador.

As armas são simples, cada uma tendo um valor de ataque e alguns buffs. Pode ser que, quando o garoto bata com a espada, o vampirismo seja ativado e ele recupere vida, ou a defesa aumente. Cabe o jogador conferir as armas que recebe e construir como quer que seu personagem se comporte. Particularmente, em minhas 5 horas de jogo, acabei preferindo sempre focar minha build em personagens com vampirismo, já que inimigos surgem em quantidade generosa no mapa depois de um tempo.

Já as cartas que o personagem obtém não passam de terrenos, e aí é que o jogo talvez tenha me conquistado. Você, leitor, já ouviu falar em Carcassonne, o jogo de tabuleiro em que cada turno é marcado pelo jogador pegando uma peça embaralhada que representa uma parte do mundo e a colocando no jogo? É o meu jogo analógico preferido, e Loop Hero parece ter muita inspiração dele.

Embora as regras como “só ligar floresta com floresta” ou “montanha com montanha” não existam em Loop Hero, a inspiração é clara: basta colocar 9 montanhas e rochas prontas para você ganhar bônus de recursos, ou conectar várias florestas para fazer combos. Esse ritmo, no qual você torce para que cada inimigo ofereça as armas e as cartas que você está querendo, faz com que as partidas se tornem viciantes. 

Existem vários tipos de cartas: as que colocam desde cemitérios para inimigos esqueletos que aparecem no mapa até florestas com raízes carnívoras; as que absorvem unidades que passarem por ela com menos de 15% de HP; etc. Saber manejá-los e entender o momento certo de construir cada uma dessas coisas é o que torna tão agradável esse jogo e seu ritmo.

A parte roguelike

Quando uma certa quantidade de cartas de terreno é colocada em jogo, o chefe do capítulo aparece. Essa luta é bem difícil e é recomendado que sua build esteja bem construída, mesmo que você esteja lidando com o chefe do primeiro capítulo. A diferença desses monstros em relação aos inimigos comuns é brutal e absurda. Se o personagem morre, ele perde 70% dos recursos coletados e volta para o seu acampamento. Lá, ele gasta o que coletou para melhorar cozinha, farmácia ou até mesmo a forja, que dão habilidades passivas que ajudam o garoto para sua próxima aventura em loop.

Aqui é onde mais está concentrado o viés roguelike do jogo, já que, a cada nova Expedição (como são chamadas as aventuras pelo loop dentro do jogo), o garoto começa sem nenhuma arma ou carta. Esse ciclo é necessário, mas a cada vez que o personagem passa pelo ciclo, ele consegue recursos que permitem ir melhorando buffs passivos para o começo de cada jornada.

Até o ponto em que avancei, o game oferecia vantagens como novas poções e uma quantidade maior de força de ataque a cada reinício. É provável que, até eu conseguir finalizar o jogo, outros fatores entrem em jogo.