Antes de iniciar o review de Mass Effect Legendary Edition, é preciso deixar claro uma coisa: eu sou muito fã da série. Não somente joguei os quatro títulos já lançados para PC, como também consumi boa parte dos conteúdos do universo expandido — incluindo livros, quadrinhos e animações. Em resumo, não sou uma figura imparcial quando o assunto é a obra da BioWare, tampouco alguém que só conheceu através da nova remasterização a saga da luta contra os Reapers.
Agora que isso ficou fora do caminho, vamos aos dados: lançada no dia 14 de maio, Mass Effect Legendary Edition é uma reunião dos três primeiros jogos da série com (quase) todos os seus DLCs, além de gráficos e desempenho adaptados à atual geração de consoles. Enquanto pouco foi mexido nos capítulos 2 e 3 (Mass Effect: Andromeda ficou de fora da coletânea), a BioWare aproveitou para fazer mudanças substanciais no primeiro capítulo — que vão ser o foco central desta análise.
Além de dar um tapa no visual de todos os títulos — que ganham novas texturas em alta resolução —, a BioWare também aproveitou para unificar os modelos de personagens e garantir que a/o Shepard criado pelo jogador vai ter uma aparência consistente em todos os jogos. Outra mudança (que nem vai ser tão sentida pela maioria das pessoas) é a possibilidade de finalmente jogar a versão de PC usando um gamepad tradicional.
Especificamente no primeiro Mass Effect, a empresa foi além e modificou bastante o sistema de combate — tornando a aventura ao mesmo tempo menos frustrante e um tanto mais fácil. Desenvolvido logo após o primeiro Knights of the Old Republic, o título faz parte de um período no qual a desenvolvedora ainda estava fazendo a transição de combates “por dado” para aquele em tempo real.
Na prática, isso significava que, ao dar um tiro, o dano era calculado não pela região que você acertou, mas sim por uma série de cálculos que aconteciam nos bastidores. Sabe aquela situação clássica de XCOM (que já virou meme) em que você tem 90% de acertar um inimigo na cabeça, e mesmo assim erra? Pois o primeiro Mass Effect tinha justamente isso, mas de forma mais invisível.
Como estamos falando de um jogo de tiro, no qual a maior parte da ação rola em tempo real — com uma ou outra pausa para guiar as ações de seus dois companheiros —, o resultado final era um tantinho estranho e não dava para confiar tanto assim nas armas. Na remasterização, esse sentimento permanece um pouco, mas foi reduzido — além dos cálculos em segundo plano parecerem gerar resultados mais consistentes, o game passou a levar mais em consideração a região de acerto de cada tiro.
Isso resultou em uma experiência bem diferente daquela que tive ao jogar Mass Effect pela primeira vez, no já longínquo ano de 2011. Se na primeira vez o microgerenciamento de aliados tomava boa parte das batalhas (porque a dependência de seus poderes era grande), agora sinto que posso jogar o RPG a maior parte do tempo como um título de ação, já que os resultados obtidos são mais consistentes.
No entanto, enquanto as armas e o sistema de combate foram ajustados, a BioWare parece que só foi até a “metade do caminho” nesse processo. Inimigos ainda possuem comportamentos limitados e tendem somente a correr em sua direção sem muito planejamento — o que é uma dor de cabeça em ambientes fechados, mas, em geral, faz deles alvos muito fáceis. O resultado disso é uma remasterização que se prova menos desafiante que a experiência original, especialmente para quem está acostumado a jogar na dificuldade normal.
Outra área em que Mass Effect evolui com a Legendary Edition é sua adaptação às tecnologias que a indústria dos jogos incorporou na última década. Os longos passeios de elevador agora ficam reduzidos ao tempo de informes noticiosos (que podem ser pulados), e finalmente vale a pena usar o sistema de viagem rápida da Cidadela.
Também ficou bem melhor a interface de combate, que agora exibe de maneira muito mais clara e acessível o nível de vida e escudos por você e por seus aliados equipados. A empresa também tentou fazer alguns aprimoramentos no gerenciamento de equipamentos, mas ainda é mais complicado do que o necessário fazer a limpa e venda de itens dos quais você não precisa mais — algo que seria resolvido por uma única tela para comparar e equipar todos os membros da equipe.
No entanto, aqui também acontece aquela sensação de que as coisas pararam no “meio do caminho”. A tela para gerenciar o avanço de missões mostra bem sua idade e a maneira como o Codex é organizado poderia ter sido repensado. Também gostaria de ter meios mais eficientes de acompanhar o progresso que já fiz e que houvesse como pular as transições e telas de loading que marcam a viagem de um planeta para outro (algo que rendeu duras críticas à Andromeda em seu lançamento).
Já outras áreas, como o sistema de diálogos, permanecem bem do jeito que estão — embora sinta que alguns novatos à séria ainda vão estranhar que as opções denotam mais “intenções” do que vai ser dito do que as falas em si. O radar e o mapa de exploração também permanecem funcionais, mesmo que não se possa dizer que são os melhores da categoria — eles estão lá e cumprem sua função, mas nada além disso.
Mas vamos ao que você já deve ter visto em muitos trailers e impressões por aí: o Mako. O infame veículo para todos os terrenos realmente está melhor de controlar, o que não significa necessariamente que ele esteja bom. No caso, o problema não é nem do veículo em si, mas como são montados os terrenos dos planetas a explorar — quanto menos uniforme o cenário, maior a frustração provocada por sua exploração.
Enquanto Mass Effect Legendary Edition é uma versão melhorada dos jogos originais, em alguns aspectos ela “deixa a bola cair”. O principal deles é o desempenho, especialmente do primeiro jogo: embora ele em geral seja bastante estável, basta uma cena mais recheada de explosões para que o framerate não atinja o alvo ideal — que pode ser de 30 ou 60 fps nos consoles (no caso, joguei no PlayStation 4 Pro).
Também testemunhei casos graves de stuttering durante a exploração de alguns planetas, especialmente aqueles com efeitos como tempestades de areia ou nevascas. No entanto, isso não foi tão grave quanto os constantes congelamentos de menus — ao verificar um planeta, por exemplo, volta e meia eu precisava voltar à Normandy para sair da tela dedicada a ele.
Também foi comum ver membros da equipe e inimigos presos a cenários ou que simplesmente “esqueciam” que estavam em meio a uma luta e nada faziam durante alguns instantes. Em compensação, parece que a BioWare desligou ou modificou os efeitos que aconteciam quando um inimigo usava o poder “Singularidade”: nas mais de 30 horas jogando a remasterização, em nenhum momento meu time ficou flutuando sem rumo durante alguns segundos por conta do ataque — algo muito comum no Mass Effect original.
Para finalizar, o que mais deixou claro que a BioWare não fez tudo o que podia do ponto de vista técnico é a presença de um bug conhecido pela comunidade há mais de uma década. Use poderes bióticos demais na batalha final (ou acesse muito a roda de habilidades) e você será recompensado por um travamento em algum momento aleatório cuja única solução efetiva é passar a batalha inteira jogando como se estivesse em um shooter puro.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm