Três coisas são inegáveis quando o assunto é a lendária franquia do robozinho azul da Capcom: a primeira é que a empresa sempre foi muito prolífica quando o assunto é lançar diversas sequências, cada uma inovando em algum aspecto do gameplay até o ponto em que o que sobra é refinar uma fórmula já consagrada, sem necessariamente inovar; a segunda, que Mega Man não é estranho a gêneros distintos e arriscados: o Bombardeiro Azul já se aventurou na saga clássica de ação/plataforma de 8-bits, já aumentou sua agilidade e complexidade na saga X, já foi jogador de futebol e, claro, também já foi protagonista de RPGs; a terceira, que a Capcom tem feito um bom trabalho na última década no que diz respeito a unir algumas dessas diferentes aventuras em coletâneas únicas e bem produzidas, mantendo a relevância do personagem. É este também o caso dos clássicos RPGs Mega Man Battle Network, que receberam sua Legacy Collection agora em abril de 2023.
Mega Man Battle Network é uma subsérie de Mega Man produzida para o Game Boy Advance entre os anos de 2001 e 2006, contendo seis jogos – ou dez segundo a Capcom, já que a partir do terceiro título os jogos foram lançados em versões duplas, como é comum com Pokémon, com suas versões Blue, Red, Gold, Silver, etc, mas diferenças mínimas.
Terem sido lançados nesse período inicial dos anos 2000 também traz uma curiosa camada histórica, já que toda a trama e todo o universo desses jogos englobam um mundo totalmente conectado à internet, quase que como uma previsão Kojimaesca do que viria a ser o futuro na vida real.
Nesta versão de Mega Man, nós assumimos o controle de um jovem garoto chamado Lan Hikari (e sim, os jogos estão recheados de trocadilhos com palavras referentes à internet), portador de um NetNavi (Network Navigator), peça indispensável neste universo interconectado. Lan também é dono de um MegaMan.Exe, basicamente o robozinho azul desta saga, funcionando mais ou menos como um Pokémon único. As pessoas desse universo também têm espécies de celulares chamados PETs (PErsonal Terminals), que são indispensáveis para fazer com que seus portadores interajam uns com os outros e realizem atividades cotidianas dentro da rede, ao lado de seus avatares de inteligência artificial.
A vida de Lan seguia pacata na cidade de ACDC Town até o momento em que uma organização conhecida como WWW (World 3) decide colocar em prática seu plano maligno de espalhar vírus pela rede, afetando eletrodomésticos e atrapalhando a vida de todo mundo. É aí que Lan e Mega Man começam a agir a fim de parar esses planos desde o primeiro Battle Network e assim sucessivamente com as aventuras seguintes, independente de qual fosse a organização da vez.
Essas histórias, considerando-se o público-alvo dos jogos, até que são bastante simplórias no papel, mas funcionam bem dentro da proposta. Cada Battle Network desenvolve um pouco mais a relação de Lan com Mega Man e seus amigos, bem como constantemente oferecem bons diálogos com um tom mais leve e descontraído. Algumas coisas podem soar um tanto quanto datadas – o que tem sido bastante comum com as obras dos idos dos anos 90 e 2000 – mas não acho que seja nada muito revoltante. A conclusão então é que, enquanto os outros Mega Man também trazem suas tramas próprias, sinto que Battle Network se esforça um pouco mais no que diz respeito a oferecer maior complexidade nas relações entre os personagens, ainda que mirando num público mais pré-adolescente. Considerando que são RPGs, a decisão é bem-vinda e há também um senso de começo, meio e fim no arco que cobre toda a franquia.
Se as tramas desses seis jogos são mais ou menos parecidas, o mesmo também pode ser dito do gameplay. No entanto, não confunda isso com falta de qualidade ou inovação, já que o sistema de batalha de BN é de longe um dos mais originais, distintos e únicos dentro do gênero – com pouquíssimos exemplos de outros jogos que tentaram replicar o que a franquia faz.
O combate em Mega Man Battle Network funciona com encontros aleatórios, seguindo a tendência clássica dos RPGs mais antigos. O que o diferencia de seus pares é o que se desenrola durante as lutas mesmo. Ao entrarmos no campo de batalha, somos apresentados a um tabuleiro de 3 x 6, em que nós temos três espaços de locomoção pintados em azul e os inimigos, outros três vermelhos. A luta em si funciona como uma mistura de batalha em tempo real e pausas para turnos. O que quero dizer com isso é que logo que o turno se inicia, nós podemos escolher chips que ditam habilidades específicas que o Mega Man pode executar. Tais chips vêm de “cartas” coletadas ao longo das jornadas e que são armazenadas em espécies de decks. As habilidades variam desde movimentos ofensivos com canhões, espingardas, bombas, espadas, até habilidades de cura, de aumento da área de ação do jogador e assim por diante. E, claro, os chips também aparecem em versões mais poderosas e, embora existam em quantidades limitadas, sempre são úteis na hora do combate.
Nós começamos as lutas escolhendo apenas uma habilidade, mas é possível aumentar gradativamente o número de cartas usadas por turno, tanto por optarmos por não usar nenhuma logo de cara – o que quer dizer que poderemos atacar simplesmente utilizando o bom e velho canhão buster enquanto a barra de turno recarrega – para que Lan tenha tempo de carregar mais espaços de chips à disposição de Mega Man. Com isso, e chegando até o número de 15 espaços, podemos combinar habilidades distintas ao máximo de 5 chips, desde que pertençam à mesma “série” representada por letras específicas.
Tudo isso adiciona uma camada viciante de estratégia e risco-recompensa ao combate do jogo, já que não só é preciso pensar bem em qual habilidade usar (levando em conta o aspecto da aleatoriedade das cartas) mas também como se movimentar nos espaços do campo de batalha, já que os inimigos não são estáticos, o buster tem uma certa limitação em seu poder de ataque e as próprias habilidades levam em conta o espaço e a distância entre Mega Man e os inimigos. De toda forma, é até fácil de pegar o jeito do combate logo no começo e por isso mesmo acho que estes talvez sejam alguns dos jogos mais acessíveis da franquia – mas não se engane: em determinado momento, a dificuldade escala SIM e os inimigos ficam gradativamente mais fortes e desafiadores, mas nada que as adições únicas da coletânea não possam auxiliar se você for menos experiente ou simplesmente quiser avançar mais rápido pelas jornadas.
É importante começar esta seção deixando claro o ponto desta análise. O intuito aqui não é aprofundar em cada um dos jogos, mas sim observar como o produto funciona na forma de coletânea. É claro, a franquia toda evoluiu com o passar do tempo e o próprio combate recebe adições interessantes na forma dos sistemas de Styles, Gigachips, Souls e Crosses, dando variedade ao pacote. É também verdade que os três primeiros jogos são mais interessantes do que os três últimos, sendo o segundo jogo muito elogiado como o ponto alto da franquia. Talvez não seja necessário que você jogue todos os seis games logo de cara. Eles não são excessivamente longos – durando cerca de 15 a 20 horas – mas tendo em vista que são jogos mais ou menos similares, a melhor pedida seria ir de pouco em pouco.
No quesito adições, MMBN Legacy Collection traz um botão chamado Buster MAX Mode, que faz com que o ataque do canhão normal do Mega Man seja MUITO mais forte. Essa adição é extremamente bem-vinda por ser uma forma de agilizar alguns combates, além de auxiliar em algumas lutas que possam dar um pouco mais de trabalho. Como também é uma opção facilmente ligada ou desligada no menu, a escolha fica ao gosto do freguês.
Legacy Collection também acerta em ser dividido em dois volumes digitalmente ou simplesmente um disco inteiro com todos os seis jogos. Alternar entre cada um dos games também é bem simples, não sendo necessário sair para a dashboard do console, bastando acessar o menu dentro do próprio jogo e voltando para a seleção de títulos.
Falando em menu, como é de praxe nessas coletâneas recentes da Capcom, MMBNLC traz diversas galerias de arte de todos os jogos, seleções de músicas das excelentes trilhas-sonoras e também coloca uma versão 3D do Mega Man no próprio menu, versão esta um tanto quanto tagarela, mas que é possível silenciar com o toque de um botão.
Além desses pontos, a coletânea também facilita a vida de quem quiser jogar online e duelar, além de também eliminar a dificuldade de encontrar os chips mais raros, que costumavam ter certa exclusividade de território, além do próprio leitor de cartas necessário para adicioná-las ao GBA ser um item de difícil acesso. Como aqui é tudo digital, a adição é bem-vinda e facilitadora.
Em termos visuais, não tenho muito do que reclamar, já que acho a pixel art dessa época do GBA muito charmosa. Embora os filtros não sejam nada de outro mundo, eu gosto bastante de como as animações, o rosto dos personagens e a direção de arte é entregue. Talvez a maior falta que eu sinta é uma forma de deixar o jogo mais rápido durante a navegação ou até mesmo a opção de desabilitar os encontros aleatórios – como tem sido comum nos relançamentos de Final Fantasy por exemplo. De todo modo, não é nenhum deal breaker.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm