Análise: Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin - Neo Fusion
Análise
Monster Hunter Stories 2:
Wings of Ruin
6 de agosto de 2021

Mesmo figurando entre as franquias mais amadas no oriente, Monster Hunter só conquistou os holofotes internacionais quando rompeu a barreira de estar apenas em um console. A série de RPG sobre caçar monstros começou em 2004 no PlayStation 2, passando pelo PSP, Wii, Wii U e principalmente 3Ds, mas foi somente com Monster Hunter: World — lançado para PS4, Xbox One e, posteriormente, PC — que ganhou uma popularidade relevante e digna de indicação a jogo do ano no The Game Awards 2018.

Em março de 2021, Monster Hunter Rise fez história mais uma vez com uma entrada de grande sucesso de crítica e vendas, misturando um pouco da qualidade de vida de seu antecessor multiplataforma com engenhosos elementos de gameplay presentes em Monster Hunter Generations Ultimate. Paralelamente, a Capcom já preparava outra surpresa bastante agradável em forma de spin-off para quem se interessa pelo universo da franquia, mas se sente sufocado pela complexidade do combate em tempo real.

Monster Hunter ou Monster Rider?

Sequência para um tímido lançamento no fim de vida do 3DS, Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin é, ao mesmo tempo, uma evolução de seu antecessor e uma aventura independente. A jornada de aproximadamente 50 horas começa na ilha de Hakolo, logo após a criação de seu personagem. O vilarejo de Mahana, habitado por moradores locais e montadores de monstros, é um local pacífico e seguro — ou pelo menos era até testemunharmos estranhos desaparecimentos das criaturas conhecidas como Rathatos. A ligação desses eventos com o surgimento de estranhas luzes avermelhadas presente em crateras e fissuras nas redondezas é um mistério para além das aproximadas cinco horas de jogo presentes na agradável versão demonstrativa do jogo, disponível para Nintendo Switch. Aliás, as dez horas que investi com essa versão gratuita para testes me convenceram a entrar de cabeça na série.

Apesar da caça aos monstros ainda hoje definir a essência da linha principal da série, o spin-off, de certa forma, vai na contramão e propõe uma relação diferente com as criaturas: a montaria. Os monstros ainda podem ser ameaçadores e eventualmente simbolizar obstáculos durante nossa jornada (especialmente enquanto ainda não nos dominamos os sistemas de batalha e de equipamentos), mas é possível sentir uma maior preocupação por parte das mecânicas e da trama principal em poupar esses seres — seja pela empatia à vida, seja para domá-los e usá-los a favor dos humanos.

Há diferentes tipos de atividade que podem nos render os chamados monsties — como o jogo carinhosamente apelida filhotes de criaturas selvagens. Encontros com monstros errantes durante nossa travessia, por exemplo, podem resultar em uma fuga que aponta automaticamente para a caverna mais próxima, indicando que ovos daquela espécie podem ser facilmente encontrados por lá. Mas lembre-se: mexer no ninho alheio pode ser uma atividade perigosa, exigindo uma preparação prévia para um encontro um tanto indesejado. Além disso, alguns bichinhos e seus treinadores não-controláveis entram e saem naturalmente de nossa equipe naturalmente durante o curso da missão principal, auxiliando nas estratégias ofensivas e de suporte.

Pedra, papel ou tesoura?

Monster Hunter Stories 2 tem um sistema de combate por turnos similar ao Weapon Triangle (presente em grande parte dos jogos da série Fire Emblem), mas exige mais atenção por parte de quem joga às descrições das criaturas com as quais lutamos. Força vence técnica, técnica vence velocidade, velocidade vence força, mas identificar e memorizar os padrões de ataque característico de cada espécie para embates futuros nem sempre é uma tarefa fácil. Eu me senti frequentemente desapontado pelo jogo não incluir algum recurso que torne esse desafio de esforço (lê-se “adivinhação” nesse caso) um pouco mais legível, em especial com criaturas que já enfrentamos diversas e diversas vezes.

Além disso, há três tipos de danos associados às armas que podem ser usados: cortante, perfurante e contusão. Cada parte específica do corpo da criatura que enfrentamos apresenta fraqueza a pelo menos um tipo de dano, sendo necessário aplicar estratégias para quebrar a guarda do monstro focando os ataques. Saber o momento exato de trocar sua arma ou seu monstie é tão essencial que o próprio jogo permite esse tipo de mudança no início do turno, antes mesmo de decidirmos se vamos usar um item ou atacar diretamente um inimigo.

O primeiro confronto com um determinado monstro reflete bem em termos mecânicos o desconhecimento que temos sobre seus movimentos, habilidades, tipo e comportamento. A barra de pontos de vida, por exemplo, não é definida de modo a nos informar quão perto ou longe estamos de derrotar a criatura, só aparecendo quando a encontramos pela segunda vez. Pode haver também, durante momentos aleatórios após o turno do adversário, uma disputa direta em forma de quick time event, situação que geralmente preenchem o medidor de habilidade e nos permite executar uma habilidade de afinidade poderosa e revigorante enquanto montados em nosso monstrengo de estimação.

Se você curte a experiência do famigerado grinding — porém, ao mesmo tempo, já está cansado de repetir os mesmos comandos para acumular cada vez mais itens e níveis —, há um modo de luta rápido que conclui o confronto com sucesso apenas ao toque simultâneo de dois botões. É um recurso que, combinado aos aceleradores (1, 2 ou 3x), é bastante bem-vindo para quem deseja forjar todas as armas, armaduras e talismãs presente no jogo, tarefas que demandam espólios e recompensas de batalha específicos. A partir de certo momento da progressão do jogo, podemos vender, comprar e confeccionar itens explosivos, curativos ou de buff/debuff. A coleta de componentes e ingredientes espalhados pelos ambientes naturais se torna tão essencial para esse caso que até mesmo podemos pegá-los quando montados em criaturas. Durante a exploração de territórios ou progresso de missões, é recomendável designar uma seleção de criaturas para enviar às expedições — que nada mais são que buscas por suprimentos ou experiência acessadas e personalizadas pelo menu do estábulo.

Monstro nosso de cada dia

Assim como os jogos da série Pokémon, o foco relação criatura-treinador em MHS2 é bem notável e visível tanto em mecânicas quanto em narrativa. A fim de compor uma equipe cada vez mais diversa em termos de habilidades e vantagens, devemos explorar as chamadas tocas (simples, antigas ou até moradas de monstros raros), buscando por ovos de diferentes cores e padrões. Nesse sentido, o simpático e fiel escudeiro felino Navirou sempre tem um comentário na ponta da língua quando nos aproximamos e interagimos com o ninho de uma determinada espécie, ressaltando qual é a melhor escolha a ser feita a partir da cor e do brilho dos ovos — características que indicam a raridade dos genes carregados pelo vindouro filhote. Uma vez coletados, os ovos são enviados para os estábulos e podem ser chocados individual ou coletivamente.

Se você conhece um pouco de Pokémon a partir da segunda geração, já deve ter ouvido falar do conceito de reprodução assistida (breeding), mecânica focada na geração de monstrinhos com melhores habilidades e valores individuais (IV). Diferentemente do Pokémon Day Care com um Ditto hospedado, o que rola em Stories 2 é o chamado “bingo genético”: cada criatura apresenta nove genes distribuídos em três colunas e três linhas, literalmente como em uma cartela de bingo 3×3. Cada gene é identificado por sua natureza (fogo, água, gelo, elétrico, etc.) e por uma habilidade associada (passiva ou ativa), sendo que essas características individuais pode receber multiplicadores de valor quando os genes são dispostos sequencialmente no DNA (cartela) de uma determinada criatura.

Honestamente, acho o sistema pouco intuitivo à primeira vista. Porém, a partir do momento que desbloqueamos o Ritual do Legado no estábulo, tudo se torna mais simples: é possível escolher uma criatura para herdar características de outra, permitindo arranjos mais vantajosos de genes. É aí que entra a importância de saber selecionar quais monstros serão “sacrificados” e quais herdarão melhores traços físicos para garantir uma equipe balanceada. Além disso, se o desejo é facilitar as lutas e a coleta de recursos, focar no uso de amuletos e preces pode poupar esforços desnecessários — e ainda é uma boa desculpa para usar seus amiibo favorito caso esteja jogando no Nintendo Switch.

MHS2 parece pegar carona nas convenções e manias mais interessantes da série Pokémon — e felizmente isso não se limita apenas aos elementos de batalha. Lembram da ideia de Poké Rides na região de Alola? Pois bem: cada espécie no JRPG da Capcom apresenta uma ou duas ações de montaria específicas, permitindo o deslocamento por ambientes aquáticos ou a escalada de muros tomados por vinhas, por exemplo. Embates contra outros montadores e seus companheiros também aparecem durante alguns eventos da trama, remetendo ao espírito de se tornar um grande treinador e um herói de toda uma região.

Tropeçando em ovos

Para um jogo que, narrativamente falando, propõe distinguir o significado de treinadores e caçadores na trama principal, não acho que Monster Hunter Stories 2 faça um exímio trabalho com o formato de suas missões paralelas. As side quests, em sua vasta maioria, são sobre coletar materiais repetidos pelo mapa e sobre caçar mais e mais monstros. Há sempre há velha desculpa de que estamos apenas cumprindo um papel heróico e nos livrando de criaturas que aterrorizam e colocam em perigo os humanos, mas não posso deixar de falar sobre quão inflada é a quantidade de atividades desse tipo — mesmo com o sistema de dia/noite, pouco aproveitado de uma forma interessante. Entendo se tratar de um jogo, porém me sinto incomodado uma vez que ele propõe uma alegoria ou um discurso que se torna conflitante dentro de suas próprias partes.

A direção artística é bastante elogiável, especialmente o traço e a escolha de cores, mas o desempenho do jogo especialmente no Switch é bastante insatisfatório. O jogo raramente atinge os almejados 30 quadros por segundo, variando de uma forma bastante desagradável até mesmo para quem está acostumado com o poderio limitado do console híbrido da Nintendo. No PC, o jogo atinge 60 quadros por segundo até em hardwares de entrada intermediária, porém, nesse caso, são os serrilhados que acabam incomodando quando estamos jogando em um monitor ou TV a resoluções maiores que 720p.

Sobre a versão localizada do jogo para português brasileiro, a frase “melhor assim do que sem nada” é a que melhor define o caso. Há diversas expressões ambíguas e com erros grotescos de tradução — provavelmente provenientes da falta de documentação para uma localização mais fiel e adequada. Eu não a recomendo de forma alguma aos que entendem um pouco mais de inglês, mas para quem realmente não tem condições de se situar no idioma estrangeiro, até que pode ser funcional. Para os que gostam de apreciar um bom voice acting no idioma original (japonês), recomendo principalmente por conta da voz e das falas de Navirou.

Enquanto parte integrante de uma franquia consolidade, Monster Hunter Stories 2: Wings of Ruin reúne e adapta mecânicas, criaturas, armas e conceitos de forma criativa a um sistema de batalha por turnos, utilizando um hardware mais "potente" (pelo menos comparado ao 3DS) para entregar visuais estilizados e cativantes. Enquanto JRPG, por outro lado, simboliza mais uma vez a exaustão causada pela quantidade e qualidade de missões paralelas, desenvolvendo uma trama não muito pretensiosa ou profunda. O jogo diverte e encanta durante suas primeiras horas — especialmente aos que dão uma chance para sua extensa demo jogável —, mas infelizmente não obtém tanto sucesso a longo prazo quanto outros jogos do mesmo tipo.

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Comentários

Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.

O sorteio vai ser ao vivo via live???

Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)

Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.

Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png

cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...

Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público

Agora sim vou ter meu switch o/

Sim!

Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?

Reativei minha conta só pra promoção kkkk

Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte

Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!

Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.

sera que agora ganho o

Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.

Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?

Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!

Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)

Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?

? vou seguir o Renan aqui tbm