Cento e trinta e sete horas horas. Mais do que um mês inteiro de trabalho de meio-período. Esse foi o tempo que me dediquei a Persona 5 Royal, versão aprimorada do RPG lançado originalmente em 2017 que chegou no começo de abril ao PlayStation 4. Com esse tempo, não somente pude ver todo o conteúdo adicional preparado pela Atlus, como conquistei o troféu de platina do game — algo raro para mim, pois confesso não ligar muito para essas coisas.
O estranho é pensar que, depois de todo esse tempo, gostaria que o jogo tivesse mais conteúdo. Isso porque, depois de mais de um mês dedicando quase todo meu tempo livre para ele, eu sinto falta de jogá-lo. Os personagens interessantes e os pequenos detalhes de suas vidas pessoais me fizeram sentir como se realmente os conhecesse, considerando suas rotinas parte da minha vida — mesmo nos momentos em que a trama principal engata na grandiloquência sem rumo.
Isso acontece porque, embora se encaixe no gênero de RPG, Persona 5 Royal é, na verdade, um grande visual novel. A maior parte do tempo não é dedicado ao combate e à exploração de labirintos que, embora interessantes, são essenciais secundários. O seu maior trabalho no jogo vai ser conversar com pessoas, entender as dificuldades pelas quais elas passam e tentar ajudá-las, o que muitas vezes acontece somente escolhendo o diálogo certo.
O elemento em comum entre as figuras que você encontra é o fato de todas terem suas vidas prejudicadas de forma injusta pela sociedade — o que poderia ser uma desculpa para torná-las meras vítimas, caminho que felizmente não é seguido. Cabe ao personagem principal (referenciado como “Joker”) não exatamente resolver o problema de cada uma delas, mas sim mostrar os caminhos pelos quais cada uma delas pode tomar agência sobre o destino e evitar que eventos traumáticos determinem todo o seu rumo futuro.
Tudo isso acontece enquanto o jogador explora palácios oníricos criados a partir da consciência de pessoas ambiciosas em uma busca por “justiça social”, com direito a um gato que se transforma em carros. Estamos falando de um jogo com estética e cara de anime, afinal. Por isso, quero dizer que os momentos sérios de história são entrecortados com gags visuais e certa dose de fan service, uma mistura que evita tom e ritmo mais pesado.
Persona 5 Royal apresenta um sistema de combate bastante interessante baseado na exploração das fraquezas dos adversários, que só trai a si mesmo nos momentos em que não sabe quebrar suas regras. A luta contra o quinto chefe é uma prova disso: ao negar aos jogadores ferramentas para aproveitar bem o sistema de fraquezas, ela só se torna artificialmente frustrante, especialmente levando em consideração seu limite de tempo.
Outro ponto negativo é que, ao dominar o sistema de fraquezas dos inimigos, o jogo se torna bastante fácil. Seu maior desafio não é derrotar meia dúzia de inimigos de cada palácio (dungeons do jogo, que seguem uma ordem linear pré-determinada), mas sim sua quantidade de SP — pontos necessários para usar suas habilidades especiais. Quando ela chega ao fim, é hora de sair temporariamente da dungeon para voltar outro dia.
Essa decisão é mais complicada do que parece: não só todos os palácios possuem limite de tempo (contado em dias), como você só pode fazer duas ações a cada dia — e sempre há muito a fazer. A cada 24 horas, você terá que decidir se vale a pena melhorar seu relacionamento com um personagem, treinar seus status sociais ou dar um pulinho em Mementos — uma grande dungeon formada do inconsciente coletivo da população, com níveis gerados aleatoriamente — para ganhar alguns níveis.
Persona 5 Royal, no fundo, é uma grande visual novel na qual sua capacidade de gerenciar o tempo vai ser testada ao limite. Dá para fazer gráficos extensos sobre as atividades de cada companheiro (com os quais você forma laços sociais conhecidos como confidants), os status necessários para falar com cada um deles, os dias em que dá para comprar itens limitados em diferentes vendedores e quando é melhor trabalhar para conseguir um troco (dica: não se preocupe com isso, dinheiro é o que não vai faltar).
Tudo isso parece como um grande trabalho e, em certos momentos, realmente se aproxima perigosamente disso. Isso porque o game tem um sério problema de ritmo: entre um palácio e outro, há um extenso período que estabelece os personagens e o que está em jogo para cada um deles. É quase como assistir a várias temporadas de um anime, com direito a alguns episódios que claramente estão ali como filler.
Felizmente, isso é compensado por uma história que, se tem aqueles exageros típicos de RPGs japoneses (olá, batalhas contra deuses cristãos), é em geral bastante agradável. Mantendo o foco nos personagens e em conflitos humanos com os quais é fácil se identificar, Persona 5 Royal é uma experiência que vicia e dá um gostinho de quero mais a seu fim — mencionei que fiz questão de Platinar para estender um pouquinho meu tempo com o jogo?
Se você já jogou o conteúdo original, as adições à história são interessantes, mas não necessariamente compensam o investimento de tempo adicional. Felizmente, meus temores de que ela fosse encaixada artificialmente se provaram errados, visto que a Atlus fez um bom trabalho em inserir novos personagens e mudar ligeiramente alguns contextos. E também ajuda que, com a atualização, finalmente temos um vilão relacionável em Persona 5.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm