Se você já visitou algum museu em sua vida, é quase imperativo que embaixo de cada pintura, estátua e qualquer similar obra de arte tenha o aviso de “NÃO TOQUE”, algo para impedir que acidentes aconteçam e, consequentemente, que você saia do museu devendo vinte vezes o valor do seu salário. Dito isso, é difícil não escutar a vozinha da sua criança interior pedindo que você toque naquilo, seja por curiosidade ou puramente pra contrariar a regra, então o que aconteceria se você fizesse um mundo virtual onde você pode tocar nas obras de arte e destruir todas? Bom, você provavelmente teria algo como Teardown – que é um jogo bem divertido, mas e se você for uma das pessoas que não quer destruir as obras e ainda quer tocar nelas, ver de perto e interagir? Bom, para os dois de vocês existentes no planeta Terra, temos o mais similar possível: Please, Touch The Artwork 2.
Criado por game designer belga de nome Thomas Waterzooi, Please, Touch The Artwork 2 é uma sequência ao primeiro jogo de mesmo nome (só que sem o 2 – aposto que você nunca ia adivinhar se eu não tivesse falado), e ambos são jogos simples relacionados a pinturas, narrativas quietas e quebrar a regra que mencionei na primeira frase desse texto. São ambos jogos de quebra-cabeças feitos unicamente por Waterzooi com bastante foco em trazer experiências relaxantes em sua jogabilidade e atmosfera, algo que creio que ambos os jogos fizeram muito bem, mas aqui está o detalhe: Os dois jogos são bem diferentes um do outro, mesmo sendo tecnicamente uma “série”. É como o caso de Jak & Daxter e Jak II – são jogos na mesma franquia similares em jogabilidade, mas o foco que cada um toma é bem diferente. Por sorte, Please, Touch The Artwork 2 faz uma sequência muito melhor do que Jak II.
Esse texto foca no segundo jogo, mas vamos tocar brevemente no primeiro: Please, Touch The Artwork é um jogo calmo e com ocasional jazz suave inspirado em pinturas abstratas como as de Piet Mondrian (de acordo com o próprio Waterzooi), um dos artistas mais importantes do Neoplasticismo, onde você é posto em um museu e você deve, como o nome diz, Tocar Na Arte. Por Favor. São três galerias no museu, e cada uma leva a um tipo de quebra-cabeça diferente. Por exemplo, você pode ter que levar um quadrado de um canto ao outro da pintura tentando entender aonde cada curva o leva, ou como reproduzir as cores da pintura ao seu lado. Cada um dos tipos de quebra-cabeça tem uma mecânica própria que não é difícil de entender, o desafio está em como resolver. Ao final de cada etapa, um pouco de “história” – algo bem minimalista, mais pra te fazer pensar do que qualquer outra coisa, que nem as pinturas – é dada a quem joga e você segue em frente para a próxima leva de quebra-cabeças.
O jogo é relaxante, mas os quebra-cabeças podem ficar complicados – para isso o jogo conta com botões de dicas em algumas das fases e você pode fazer os quebra-cabeças na ordem que quiser, então se você não estiver a fim de um dos tipos, pode ir fazer outro por enquanto. O “porteiro” do museu do jogo até faz algumas perguntas para te indicar ao tipo de quebra-cabeça que você provavelmente está mais a fim de fazer, o que é um ótimo toque. Dito isto, o jogo não é muito mais do que isso: Resolva o quebra-cabeça dessas pinturas, receba um pouquinho de narrativa e repita o processo até o fim do jogo (ou da sua paciência, você que sabe). É uma ideia interessante e se você gostar desse tipo de pintura ou desse tipo de jogo de puzzle, você provavelmente irá se divertir. Caso contrário, bom, não deve ser o jogo pra você. De qualquer forma, ele está disponível por cerca de R$ 20 nos seus dispositivos móveis favoritos, via Steam ou até no Nintendo Switch.
E enfim chegamos ao prato principal da vez. Please, Touch The Artwork 2 foi feito para homenagear James Ensor, pintor expressionista conterrâneo de Waterzooi (o criador do jogo). Mais uma vez, isso demonstra que o criador de ambos os jogos é um grande fã de arte moderna, e não minto, enquanto joguei os dois jogos me fui meio que transportado às aulas de literatura e artes visuais da época da escola, de um bom jeito. Mas enquanto as pinturas de Please, Touch The Artwork eram abstratas em sua completa natureza, compondo-se de nada mais além de cores e formas básicas, as pinturas de Please, Touch The Artwork 2 focam em um maior espetáculo visual em termos de variações de cores e diversas formas, o que é bem refletido na jogabilidade. Ou, sei lá, pode ser que eu simplesmente não goste do estilo modernista do Piet Mondrian e do primeiro jogo – você decide.
Enquanto o primeiro jogo se foca em uma experiência de mais “quebra-cabeças puros”, o segundo jogo muda a perspectiva em total e transforma tudo em uma espécie de jogo de aventura point & click, de apontar-e-clicar, enquanto ainda mantém o foco nas artes e no aspecto de quebra-cabeças do jogo. Please, Touch The Artwork 2 põe quem joga nos ossos (porque ele não tem pele) de um elegante esqueleto de paletó, para que você possa navegar dentro de várias pinturas até achar o caminho para casa. Todo o jogo é controlado com o mouse e você guia uma mão esquelética pela tela e toca em tudo o que quiser interagir, ou segura o botão esquerdo do mouse para ir até lá. Com isso, você irá explorar um mundo dentro de uma série de pinturas de James Ensor, caminhando pelas ruas de um cemitério, jardins, uma rua em pleno auge de um protesto e até mesmo a mesa de um pintor, tudo isso literalmente dentro das pinturas. Exploração: Esse é o X da questão.
Toda vez que você transiciona de uma tela para outra no jogo, você estará andando literalmente de uma tela a outra – de uma pintura a outra, e o caminho todo de cada capítulo do jogo é como se você estivesse olhando uma exposição em um museu enquanto imagina um garboso esqueleto andando entre elas, procurando coisas e observando os diversos personagens diferentes dentro de cada pintura. Algumas vezes, esses personagens darão a você uma espécie de objetivo – encontrar um número X de um determinado objeto e trazê-los de volta àquele personagem, e depois disso o caminho estará livre para você continuar a explorar aquela sequência de pinturas, continuando e resolvendo mais desafios até que você encontre o portal de saída que vai te levar ao próximo capítulo do jogo. É como uma mistura de um jogo de aventura point & click com um livro de “Onde Está Wally?“. Enquanto você busca os objetos diferentes, você também está, ao menos de certa forma, apreciando as obras de arte de James Ensor, então é como uma visita ao museu com a qual você pode interagir.
O jogo possui visuais muito agradáveis, dando literal vida às criações de James Ensor de uma maneira bem humorada e que mostra muito apreço às obras originais, dando um rosto novo ao surrealismo um tanto macabro e brincando um pouco com alguns cenários malucos que aconteceriam nessas pinturas. Não é em todo jogo que você pode afirmar que Jesus usou seus poderes telecinéticos para te transportar a outra pintura, ou que um pato fumando um cigarro te pediu 28 fósforos (só pra caso o primeiro não acenda, sabe?). Enquanto estiver procurando os objetos diferentes, um balão ficará no topo da tela para te lembrar o que você está procurando, quantos daquele objeto ainda faltam achar e se tem algum na tela onde você está ou não. Vale a pena lembrar que Please, Touch The Artwork 2 não possui nenhum tipo de diálogo falado ou escrito, nem mesmo textos ou tutoriais: isso tudo não é explicitamente dito a você, mas dada a simplicidade do jogo não acho que isso vá ser um grande problema e as imagens representaram bem o suficiente aquilo que eu precisava entender.
Caso você realmente esteja sem entender aonde está aquele último fósforo que o pato pediu, você pode pedir uma dica clicando no botão que te indica se existem objetos naquela tela (a lâmpada) e o jogo automaticamente vai circular onde o objeto está. Não existe nenhuma penalidade, então se você realmente quisesse, poderia apenas apertar aquele botão sem parar, mas sabe como é, isso tiraria a diversão do jogo – que não é muito complicado, de qualquer forma. E falando em penalidade ou coisas ruins, quase não existem penalidades ou coisas ruins que podem acontecer – o máximo de “coisa ruim” é o breve antagonista mascarado que aparece rasgando certas partes das pinturas, mas até ele não é tratado como grande ameaça, e em breve ganha sua própria conclusão. Quando você encontra pedaços das pinturas que foram rasgados, você pode chegar próximo ao ponto rasgado para iniciar um mini-jogo para consertar a pintura, com um tipo de jogo de ligar todos os pontos em um traço só – algo que parece um pouco o desafio dos Nove Pontos, um problema visual matemático milenar, ou alguns dos microgames de Warioware – e isso traz uma breve variedade que remete um pouco mais ao primeiro Please, Touch The Artwork, mas bem mais simples. Outros breves mini-jogos são espalhados durante o resto do jogo, e são uma variedade bem-vinda ao loop de jogabilidade, mas o grande foco está mesmo na exploração.
Please, Touch The Artwork 2 é um jogo bem proposto a ser relaxado, uma caminhada introspectiva ao som de um piano suave enquanto você observa as paisagens um tanto surreais desenhadas a tinta. É um jogo curto, também, de uma hora ou um pouco mais de duração, então definitivamente não vai ser uma experiência para todos. A jogabilidade simples, a falta de desafio, a curta duração – todas coisas intencionais, mas que simplesmente não estarão dentro do que vários jogadores estão interessados, algo que imagino que Thomas Waterzooi imaginou, e, talvez por isso, Please, Touch The Artwork 2 é gratuito para jogar. Sem DLC, sem loja dentro do jogo, apenas gratuito para jogar, assim como Yume Nikki. E, assim como aquele jogo, não vai ser para todo mundo, mas se o que você leu até aqui parece minimamente interessante, sugiro que você baixe Please, Touch The Artwork 2 e dê uma chance – dá uma tarde bem agradável e cheia de charme que vai testar um pouco sua visão, te dar algumas risadas e que será um prato cheio para quem curte artes visuais – e até se você não for fã, quem sabe você passe a se interessar um pouco mais.
É simples, leve, bem polido e acessível, e mostra que é claramente um projeto de paixão de Waterzooi, entregando o que propõe de uma maneira cheia de estilo e bom humor.
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm