Em junho, joguei pela primeira vez Psychonauts. Apesar de alguns aspectos de design que são claramente antiquados, o jogo se sustenta bem e é repleto de ideias criativas e divertidas. Por conta isso, me animei muito com a possibilidade de sua vindoura continuação expandir esses conceitos usando toda a experiência acumulada pela Double Fine durante tantos anos.
Psychonauts 2 começa com uma retrospectiva de Psychonauts e de Rhombus of Ruin tanto para refrescar a memória de jogadores familiares com a série quanto para contextualizar quem está se aventurando pela primeira vez somente agora. É algo mais necessário do que eu imaginava, porque a continuação realmente começa exatamente onde os jogos anteriores terminaram e vários personagens retornam. A série toda tem um enredo que funcionaria como um desenho animado do Cartoon Network e a sensação que tive é de início de uma nova temporada.
O enredo é apenas uma porta de entrada para o verdadeiro charme do jogo: a psique de cada personagem, incluindo personalidades, habilidades, gostos, desgostos, amores e traumas. Psychonauts 2 é composto de diversos mundos que existem apenas dentro das mentes de seus personagens e, naturalmente, cada um desses mundos é uma ilustração daquilo que passa e já passou pelas suas cabeças.
Essa premissa permite uma diversidade enorme nas fases do jogo e, nesse sentido, o jogo é uma evolução natural do que vimos em seu antecessor. A característica “collect-a-thon” do jogo anterior também permanece: os mundos são repletos de colecionáveis de diversos tipos, por vezes repletos até demais. Dito isso, os colecionáveis não são fundamentais para progredir e existem mais para dar vida e propósito às fases.
Muitos níveis são esteticamente incríveis, como uma que é inspirada na fase psicodélica dos Beatles, e vários outros são divertidos pela premissa, como outra que parece um concurso de cozinha. Essa variedade sustenta a estrutura do jogo, pois sempre queremos ver qual será a próxima aventura. Além das inspirações estéticas, cada fase também lida com algum aspecto mental que não está bem certo em um personagem e, ao longo dela, investigamos as causas e tentamos encontrar uma solução. Psychonauts é terapia se terapia fosse um jogo de ação e plataforma.
Há um cuidado para lidar com temas sensíveis de formas apropriadas, mesmo que cômicas. Logo no começo, o protagonista Razputin deve arcar com as consequências de um ato irresponsável e isso dita a dinâmica de suas próximas interações no mundo físico e mental.
Comparado ao jogo anterior, há também uma exploração muito melhor do elenco coadjuvante. Conhecemos os fundadores dos Psychonauts assim como os estagiários da organização e cada personagem tem seu papel no desenrolar da trama, mesmo que alguns deles não tenham tempo suficiente em tela para entendermos melhor suas motivações.
Falei muito do primeiro jogo aqui mas, realmente, não é essencial jogá-lo antes da continuação. Há, sim, várias referências a ele, mas os eventos são desconectados o suficiente para poder aproveitar o jogo novo sem a necessidade de visitar o antigo.
Apesar das diversas similaridades com o primeiro Psychonauts, a continuação apresenta diversas evoluções de design que se mostravam necessárias. Alguns dos poderes menos interessantes de Raz foram substituídos por outros muito mais úteis, enquanto o DNA de jogos de aventura foi amenizado, sem tantas missões envolvendo itens e conversas.
As mecânicas de plataforma em si são muito mais robustas, tornando o ato de controlar Raz muito agradável, mas o level design nem sempre está a par para aproveitar isso. Coisas como paredes invisíveis ou cantinhos difíceis de alcançar sem qualquer recompensa remetem aos jogos de plataforma mais antigos, não ao que vemos no gênero mais recentemente. Para mim, essas pequenas imperfeições marcam bastante; porém, o foco do jogo não é esse, então não chega a diminuir a experiência como um todo.
Elaborando nesse ponto, o que quero dizer é: Psychonauts não é Mario. Quando jogo Mario, sei que as mecânicas de plataforma são realmente o aspecto central do jogo, então é fundamental que haja um nível de perfeição nos controles e no level design. Já Psychonauts é um jogo sobre outras coisas — personagens, psicologia, ambientação, variedade artística. O fato de ser um jogo de plataforma não é a sua essência, tanto que o jogo um-e-meio (Rhombus of Ruin) tem mecânicas completamente diferentes, mas mantém a personalidade da série.
Certamente Psychonauts 2 não é o melhor jogo de plataforma da atualidade, mas não deixa de ser divertido e único com sua combinação de poderes psíquicos e mundos incríveis.
Psychonauts 2 começa bem, fica ainda melhor e, por algum milagre, consegue sustentar essa qualidade até o fim. Porém, vejo o potencial para muito mais. Apesar de permanecer criativo, o jogo é relativamente conservador em sua premissa e execução considerando que seu antecessor já existe. Isso faz sentido considerando que, depois de tanto tempo, o mais importante é a série conseguir retornar de forma agradável e robusta mas, com os recursos da Microsoft e (esperamos) o sucesso deste retorno, Psychonauts torne-se um membro ativo do portfólio Xbox. A Double Fine já deixou claro que não falta criatividade para novas aventuras de Raz, então agora só resta saber quando o veremos de novo.
Como já falei antes, não posso deixar de mencionar quando o Jack Black está num jogo:
Comentários
Olha... excelente texto. Esse é um problema que eu já vinha discutindo em meus círculos de amizade ha um bom tempo. Isso fica ainda mais evidente quando percebe-se a necessidade das grandes publishers de seguirem tendencias mais lucrativas não afetam apenas o game design em si, mas também as temáticas, narrativas, e até mesmo a direção de arte dos games. Vide a enxurrada de jogos de zumbis que tivemos na geração passada... Por falar em indies, eu vejo muito potencial para que os próximos AAA inovadores saiam deles. O orçamento ainda é um problema, mas financiamento coletivo já é uma realidade. Acredito que equipes extremamente competentes e comprometidas consigam levantar fundos para levar adiante o desenvolvimento de jogos desse nível.
O sorteio vai ser ao vivo via live???
Obrigado Igor! Seja bem-vindo ao Nintendo Fusion :)
Rapaz, que texto foda! Parabéns Renan! Fico cada mais feliz em ser Nintendista em tempos como esse (apesar de ainda não ter um Switch), saber que a Nintendo rema pesado contra essa maré cheia de lixo. Recentemente o designer da BioWare, Manveer Heir (Mass Effect) compartilhou que a EA só tem foco mesmo nas microtransações, que ainda viu gente gastando 15 mil dolares com cards de multiplayer do Mass Effect 3. Pra piorar agora tem o sistema de Loot Box, que está na moda, e a Warner empolgou com o Shadow of Mordor. Loot Box pra fechar campanha ou pra tentar competir online nos jogos, pra mim isso é praticamente o fim. A única esperança que tenho nessa industria que amo tanto são mesmo nos indies, Nintendo e algumas empresas. Espero que a Activision não estrague a Blizzard, pq apesar de Overwatch ter Loot Box, são completamente cosméticos, e eu acho isso bom até, pq jogar pra desbloquear coisas visuais é muito mais interessante e prazeroso que jogar pra tentar a sorte com um item específico pra ser mais competitivo com upgrades no status do personagem.
Não aparece para você no começo do texto? https://uploads.disquscdn.com/images/b809b035a7e4e21875dfe6af44cc2d10dccbe7c3eea556e1be57fe8018d72a32.png
cadê o tal formulário do Gleam? não vi link nenhum no texto... tá mal explicado isso...
Das publicadoras de games, a EA é sem duvidas a pior. Não foi atoa que foi escolhida como a pior empresa americana por dois anos consecutivos. Não quero parecer um hater, mas é essa filosofia de shooters multimilionários, com gráficos de ponta e extorquimento de dinheiro dos consumidores é que vai fazê-los fechar as portas. Isso fica evidente com o “apoio” da empresa ao Switch, não souberam mais uma vez ler o sucesso do console, e repetem os mesmos erros de uma década: investir pesado em gêneros supersaturados. E é interessante notar como o Iwata foi capaz de enxergar uma realidade mais de uma década á sua frente, e feliz que cada vez mais empresas adotam essa estratégia: jogos de menor orçamento e maior foco no público
Agora sim vou ter meu switch o/
Sim!
Qual é a exceção "imperdoável"? Chrono Trigger?
Reativei minha conta só pra promoção kkkk
Cara, não uso Twitter. Até tenho, mas nem lembro senha nem nada. Vamos ver se tenho sorte
Parabéns à todos nessa nova empreitada, o site é promissor!
Acho que o único defeito desse game foi ter requentado muitas fases, poderia ter sido apenas a GHZ, por exemplo. Mas fora isso é impecável.
sera que agora ganho o
Precisa compartilhar no Facebook. Nos outros lugares é opcional.
Eu preciso compartilhar o sorteio pelo facebook? Ou é preciso compartilhar em outro lugar?
Felipe Sagrado escreva-se em tudo para aumenta a change brother!!!!
Você pode participar sim, só não vai poder obter os dois cupons relacionados ao Twitter. :)
Boa tarde. Eu não uso o Twitter, então gostaria de saber se isso impede minha participação ou só diminui minhas chances?
? vou seguir o Renan aqui tbm